A família da turismóloga Carolina Custódio não fala sobre política nas reuniões de família para evitar discussõesDivulgação
Publicado 17/12/2023 00:00
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Rio - 'É pavê ou pa comê?'. Ninguém aguenta mais. A dica poderia ser deixar de servir a sobremesa nas reuniões de família, mas se privar de um doce tão gostoso para evitar a piada do tiozão nem deveria ser uma ideia. O jeito é lançar mão de maneiras de lidar com esta e outras situações constrangedoras nas festividades de fim de ano para chegar em 2024 sem crises familiares. O pavê fica, a torta de climão sai.
Se na ceia da sua família a piada do pavê não é recorrente, provavelmente algumas perguntas, que escondem cobranças, são aguardadas: "E o namoradinho?", "Vai casar quando?”, "Você não vai ter filho?". Fora as discussões políticas que geram rachas na família. Mas algumas dicas prévias vão deixar você mais tranquilo para curtir as reuniões sem estresse.
Uma das táticas recomendadas pela psicóloga Cláudia Melo, de Duque de Caxias, é proibir os assuntos religião e política nas mesas das festas. "As pessoas são diferentes, então devemos respeitar as individualidades de cada uma. Não é porque é tia, sogro ou prima que precisa pensar igual", afirma.
A estratégia tem garantido noites felizes nos Natais da família da turismóloga Carolina Custódio, de 28 anos. Ela diz que a proibição de discussões políticas nas ceias veio depois de muitos ânimos alterados. "Como vários parentes meus têm posicionamentos políticos distintos e este é um assunto que nos deixa acalorados, conversamos antes e combinados que o tema não deve ser abordado nas nossas reuniões. Passamos a usar o nosso tempo com assuntos leves para todos", conta.
Que tal placas?
Combinados antes em grupos de família, no aplicativo WhatsApp, costumam funcionar. Se não deu tempo ou o anfitrião sentir a necessidade de reforçar o pedido, Cláudia aconselha a espalhar placas simples pelo local do encontro com alertas do tipo: "O que é proibido nesta noite: falar sobre sexualidade, política, religião e não recolher o lixo".
"Chega uma hora da noite que as pessoas já estão falando qualquer coisa. Colocar esses lembretes pode evitar desavenças, e pendurar placas do que pode ser abordado também ajuda na situação. Cada família conhece o seu contexto, então pode elaborar alertas que façam sentido". Se um adolescente acabou de se formar no ensino médio, por exemplo, é um assunto bacana para conversar e parabenizar o jovem.
Mas e se mesmo com os alertas vierem à tona aquelas perguntas clássicas mascaradas de interesse, mas que no fundo encobrem algum tipo de exigência? A assistente de marketing Graziella Libório, 24, ouve há cerca de sete anos, tempo em que namora, as questões indiscretas "Quando vocês vão casar?" e "E os filhos?".
"Acontece bastante durante o ano todo, mas é claro que chega nesta época e as perguntinhas se intensificam com os eventos familiares. Geram desconforto, pois às vezes pode ser que a gente nem queira casar e ter filho no momento, mas falar isso seria chato. Então eu só desconversa, ria. Agora, para acabar com o papo, eu brinco falando que não vamos mais casar, porque estamos morando juntos já", conta Graziella. 
Para o mal das perguntas invasivas, Cláudia aconselha cortar o assunto com calma e com a maestria de devolver com uma outra pergunta: "Vamos marcar um dia para falar sobre este assunto, já que ele é tão importante para você?” é uma maneira de não levar o assunto adiante e manter a conversa fluida e equilibrada. A psicóloga lembra que as pessoas que têm a vida invadida com perguntas inconvenientes não devem se preocupar em responder só para não deixar o intrometido chateado: "Quem deve ficar aborrecido é quem sofreu a tentativa de invasão de privacidade, e não quem fez".
Expor os sentimentos
Ser claro de que não gostaria de falar sobre o assunto também é um modo elegante de reagir e não causar confusões. Neste caso, Cláudia indica frases do tipo "esse assunto não é interessante para mim, não gostaria de falar sobre isso", ditas com cautela.
"É necessário que falemos sobre os nossos sentimentos e não aceitemos situações desconfortáveis nas quais as pessoas nos colocam. Se o outro continuar com o comportamento mesmo com o conhecimento de que está sendo impertinente, é sinal de que ele não respeita a pessoa e o melhor caminho talvez seja se afastar. Mesmo sendo da família ou alguém muito próximo, se uma pessoa causa prejuízos emocionais, o afastar-se dela é uma questão de autoproteção, autorrespeito e valorização sobre o que se sente”, afirma.
Na opinião da profissional, de todos os episódios, os mais graves são as indagações sobre namorado ou namorada quando a pessoa é solteira. Isto porque o alvo da sabatina pode uma pessoa que ainda está descobrindo a sua sexualidade ou é homossexual e não falou sobre a orientação para a família - e, talvez, nem tenha a pretensão de falar. A melhor maneira de remediar esta situação complicada é, justamente, não perguntar se a pessoa está se relacionando.
"Tem partes da vida que são privadas. A pessoa a que o assunto diz respeito que tem que querer expô-lo. Nem todo assunto tem que estar na roda", finaliza.
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