Publicado 05/01/2024 15:29 | Atualizado 05/01/2024 15:38
Rio - Muitos cariocas se sentem inseguros ao andar por alguns locais da Zona Norte, principalmente sozinhos, de madrugada e com celular na mão. Foi exatamente assim que o professor de Educação Física Pedro Paulo Amorim, de 32 anos, viralizou nas redes sociais. Com dicas, irreverência e uma pitada de ironia, ele registra suas corridas por ruas da região.
Morador de Maria de Graça, começou a praticar corridas como um hobby e quando passou a estudar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 2012, encontrou no esporte uma maneira de fugir do trânsito e da lotação do metrô. Assim fez durante todo o curso, principalmente quando voltava para casa, no final da tarde. As corridas durante a madrugada, no entanto, só passaram a acontecer em 2020, ao longo da pandemia do covid-19.
"Durante aquela época que não podia sair de casa as coisas ficaram ruins na cabeça. Ansiedade, depressão... a corrida na madrugada, que era o único horário possível, se tornou a válvula de escape. Me acostumei a treinar neste período porque as ruas ficam vazias", comentou Pedro ao DIA.
Em meados de 2023, ele decidiu gravar um vídeo, sem muitas pretensões, mostrando o trajeto no qual já acostumado a fazer, onde corria de Maria da Graça até o Estádio Olímpico Nilton Santos. Para a surpresa de Pedro, a postagem bombou nas redes sociais. "Eu não esperava, mas vi que a galera gostou e comecei a gravar constantemente. As coisas foram acontecendo, mais pessoas foram assistindo e eu ficava empolgado com isso. Acabou se tornando um ciclo virtuoso."
O que mais chama a atenção de seus seguidores não é apenas o horário que ele pratica as corridas, por volta das 4h30, mas, principalmente, os locais por onde ele passa. Mesmo correndo em área de risco, como entradas de comunidades consideradas perigosas, Pedro leva tudo com bom humor e diz nunca ter sentido medo.
"Tenho mais medo de ser atropelado, de carro subir rápido e descontrolado na calçada com alguém bêbado dirigindo. Já vi gente olhando estranho, moto passando devagar e observando. Mas nunca passei por uma situação onde me senti ameaçado."
Além da insegurança, outro grande problema que ele enfrenta é a falta de infraestrutura na cidade. Com uma pitada de ironia, o professor está sempre mostrando as dificuldades que tem que enfrentar durante o exercício. As calçadas com buracos, desniveladas e com pouco espaço, além de meios fios quebrados e falta de espaços exclusivos para a prática de esportes, são alguns dos motivos que fazem ele correr na madrugada.
"Na Zona Norte é muito ruim, tem poucos trechos que são acessíveis. Na Zona Sul tem uma estrutura melhor, mas ainda assim eu acho muito ruim. Na lagoa, que é um dos polos do esporte, a pista é inclinada e tem raízes de árvores na calçada", comentou ele, que completou: "falta um cuidado maior com a infraestrutura do Rio. Com certeza precisa de uma reformulação total nas calçadas do Rio, para o bem do pedestre."
*Reportagem do estagiário João Pedro Bellizzi, sob supervisão de Thiago Antunes
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