Publicado 23/01/2024 19:01 | Atualizado 23/01/2024 20:04
Rio - A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ) e o Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) vão defender as mulheres vítimas de agressão na saída do Casarão do Firmino, na Lapa, na madrugada de sexta-feira (19).
Um vídeo obtido por O DIA mostra o momento em que as três mulheres vítimas de transfobia tentam entrar em um carro de aplicativo antes das agressões. Elas não conseguem e se dirigem à esquina da Rua da Relação com a Rua Gomes Freire, onde a confusão é filmada. O local fica em frente à Secretaria de Polícia Civil.
O vídeo apresenta três momentos: no primeiro, as mulheres não conseguem entrar no carro de aplicativo no canto inferior esquerdo da imagem. No segundo momento, enquanto o relógio marca 2h07, é possível ver o táxi ao fundo, no canto superior direito. Ele é cercado por homens até desaparecer às 2h08. Por fim, a imagem mostra que após o táxi deixar o local, uma aglomeração permanece onde aconteceram as agressões.
O vídeo apresenta três momentos: no primeiro, as mulheres não conseguem entrar no carro de aplicativo no canto inferior esquerdo da imagem. No segundo momento, enquanto o relógio marca 2h07, é possível ver o táxi ao fundo, no canto superior direito. Ele é cercado por homens até desaparecer às 2h08. Por fim, a imagem mostra que após o táxi deixar o local, uma aglomeração permanece onde aconteceram as agressões.
Veja o vídeo:
Em entrevista ao DIA, testemunhas e uma vítima relataram que um grupo de mulheres conseguiu colocar as mulheres trans dentro do táxi para que elas fossem embora. No entanto, segundo os relatos, homens que eram seguranças do espaço fizeram uma barreira para impedir a saída e chegaram a pegar a chave do veículo para impedir a partida.
O procurador da comissão da OAB-RJ, Rodrigo Mondego solicitou à Polícia Civil que o depoimento das vítimas seja tomado novamente e que o caso seja transferido para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
Segundo Mondego, o depoimento na madrugada do crime foi feito de maneira inadequada para vítimas de crime de ódio. "Solicitamos que elas sejam ouvidas novamente. O depoimento foi colhido de maneira enviesada. No calor do momento em que sofreram a violência, elas foram atendidas com rispidez. Foram ouvidas com os agressores olhando para elas, não foram acolhidas. A gente acredita que têm que ser ouvidas de novo para a polícia apurar corretamente. O ideal é que o caso seja averiguado pela Decradi. Por conta da hora, foi registrado na 5ª DP (Mem de Sá), que não tem a expertise para tratar de crime de ódio", afirmou.
Mondego, afirmou que todo a ocorrência teve "nítida motivação transfóbica". Segundo ele, uma das mulheres estava apresentando o espaço para a irmã que mora fora da capital. "Elas estavam consumindo e curtindo o samba, mas foram constrangidas e tratadas indevidamente desde quando estavam no interior do espaço. Buscaremos a devida apuração dos fatos e a responsabilização dos perpetradores de tamanha violência", declarou.
Parlamentares acionam Polícia e MP
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) e a deputada estadual Dani Balbi (PCdoB) enviaram ofícios ao Ministério Público e à Secretaria de Estado da Polícia Civil para notificar e solicitar providências sobre o episódio.
A deputada Renata Souza (Psol) colocou a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativo do Rio (Alerj) à disposição das jovens. A vereadora Luciana Boiteaux (Psol) se solidarizou com as vítimas e afirmou que está à disposição para cobrar apuração do caso por parte das autoridades. A depurada federal Erika Hilton (Psol-SP) também ofereceu apoio às mulheres agredidas.
A deputada Renata Souza (Psol) colocou a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativo do Rio (Alerj) à disposição das jovens. A vereadora Luciana Boiteaux (Psol) se solidarizou com as vítimas e afirmou que está à disposição para cobrar apuração do caso por parte das autoridades. A depurada federal Erika Hilton (Psol-SP) também ofereceu apoio às mulheres agredidas.
Início das agressões
Segundo uma das vítimas, a confusão teve início na saída do show, quando uma delas foi empurrada por um homem em uma fila e a modelo o empurrou de volta. Nesse momento, as três, que estavam com outra amiga, foram levadas para fora à força por seguranças. Do lado de fora, uma discussão teve início. Quando as irmãs tentaram embarcar no carro de aplicativo que haviam pedido para ir embora, o motorista teria se recusado a levá-las, por estarem envolvidas na briga. Conforme o relato, o motorista, posteriormente, passou a filmar a confusão. Uma das mulheres, então, agrediu o homem, que, junto com os seguranças e vendedores ambulantes, teriam passado a incitar a violência contra o trio e as chamaram de "vagabundas".
Em entrevista ao DIA, o motorista de aplicativo relatou que trabalhava no momento que uma garrafa de vidro danificou seu veículo, em frente ao estabelecimento. Ele saiu do automóvel para gravar a cena com objetivo de acionar o seguro. A filmagem mostra que uma mulher tenta tirar seu celular e, em seguida, ele aparece com um ferimento no rosto. O homem disse que levou um soco e se sentiu acuado.
As três caminharam até a esquina do Casarão, ainda sendo alvo dos xingamentos. Um ambulante se aproximou delas e disse que só pouparia de agressões a mulher cisgênero. "Eu não bato em mulher, em homem eu bato", teria dito, mas acabou a agredindo com socos quando ela o chamou de covarde, momentos em que as irmãs tentaram contê-lo.
A modelo acrescentou que outros homens, entre os seguranças do estabelecimento e ambulantes, apareceram e a briga se tornou generalizada. "Pode espancar que é tudo homem", um deles teria falado.
Durante a confusão, a modelo acabou caindo e continuou recebendo chutes de diversos homens. Algumas mulheres chegaram perto delas e conseguiram as colocar dentro de um táxi, mas o grupo as seguiu e impediu que o veículo saísse, tirando a chave da ignição. Depois de alguns minutos, elas desistiram de ir embora no táxi e foram levadas pelas mulheres até uma viatura da Polícia Militar próxima. Com uma das irmãs desacordadas, a modelo abriu a porta da viatura e a colocou no banco de trás, mas os policiais teriam gritado para ela sair e chegaram a apontar as armas. Somente após elas explicarem a situação, eles disseram que se elas estavam feridas deveriam ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e que só poderiam levá-las para a delegacia, o que foi aceito pelo trio.
Na delegacia, segundo a mulher, mais momentos de violência ocorreram. "Quando as pessoa veem duas travestis negras pedindo ajuda, elas entram em todos os estereótipos possíveis para poder deturpar a história e fazer com que (falem): 'Elas fizeram alguma coisa, elas causaram isso'. Toda hora a escrivã tentava deturpar, colocar que a gente estava em casa noturna, mas a gente estava no samba, colocar alguma conotação de que nós éramos prostitutas. Toda hora ela colocava em dúvida as coisas que a gente estava falando", desabafou.
Dois seguranças do Casarão e o motorista de aplicativo também foram ouvidos na distrital e as vítimas passaram por exame de corpo de delito. Uma delas teve o nariz quebrado, outra fraturou a costela. Para a mulher, o trio foi vítima do machismo e da violência de gênero.
A Polícia Civil informou na sexta-feira que "os envolvidos foram ouvidos e os agentes buscam testemunhas e imagens de câmeras de segurança da região". No entanto, a 5ª DP não atualizou mais o caso e não respondeu se conseguiu analisar imagens.
Segundo uma das vítimas, a confusão teve início na saída do show, quando uma delas foi empurrada por um homem em uma fila e a modelo o empurrou de volta. Nesse momento, as três, que estavam com outra amiga, foram levadas para fora à força por seguranças. Do lado de fora, uma discussão teve início. Quando as irmãs tentaram embarcar no carro de aplicativo que haviam pedido para ir embora, o motorista teria se recusado a levá-las, por estarem envolvidas na briga. Conforme o relato, o motorista, posteriormente, passou a filmar a confusão. Uma das mulheres, então, agrediu o homem, que, junto com os seguranças e vendedores ambulantes, teriam passado a incitar a violência contra o trio e as chamaram de "vagabundas".
Em entrevista ao DIA, o motorista de aplicativo relatou que trabalhava no momento que uma garrafa de vidro danificou seu veículo, em frente ao estabelecimento. Ele saiu do automóvel para gravar a cena com objetivo de acionar o seguro. A filmagem mostra que uma mulher tenta tirar seu celular e, em seguida, ele aparece com um ferimento no rosto. O homem disse que levou um soco e se sentiu acuado.
As três caminharam até a esquina do Casarão, ainda sendo alvo dos xingamentos. Um ambulante se aproximou delas e disse que só pouparia de agressões a mulher cisgênero. "Eu não bato em mulher, em homem eu bato", teria dito, mas acabou a agredindo com socos quando ela o chamou de covarde, momentos em que as irmãs tentaram contê-lo.
A modelo acrescentou que outros homens, entre os seguranças do estabelecimento e ambulantes, apareceram e a briga se tornou generalizada. "Pode espancar que é tudo homem", um deles teria falado.
Durante a confusão, a modelo acabou caindo e continuou recebendo chutes de diversos homens. Algumas mulheres chegaram perto delas e conseguiram as colocar dentro de um táxi, mas o grupo as seguiu e impediu que o veículo saísse, tirando a chave da ignição. Depois de alguns minutos, elas desistiram de ir embora no táxi e foram levadas pelas mulheres até uma viatura da Polícia Militar próxima. Com uma das irmãs desacordadas, a modelo abriu a porta da viatura e a colocou no banco de trás, mas os policiais teriam gritado para ela sair e chegaram a apontar as armas. Somente após elas explicarem a situação, eles disseram que se elas estavam feridas deveriam ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e que só poderiam levá-las para a delegacia, o que foi aceito pelo trio.
Na delegacia, segundo a mulher, mais momentos de violência ocorreram. "Quando as pessoa veem duas travestis negras pedindo ajuda, elas entram em todos os estereótipos possíveis para poder deturpar a história e fazer com que (falem): 'Elas fizeram alguma coisa, elas causaram isso'. Toda hora a escrivã tentava deturpar, colocar que a gente estava em casa noturna, mas a gente estava no samba, colocar alguma conotação de que nós éramos prostitutas. Toda hora ela colocava em dúvida as coisas que a gente estava falando", desabafou.
Dois seguranças do Casarão e o motorista de aplicativo também foram ouvidos na distrital e as vítimas passaram por exame de corpo de delito. Uma delas teve o nariz quebrado, outra fraturou a costela. Para a mulher, o trio foi vítima do machismo e da violência de gênero.
A Polícia Civil informou na sexta-feira que "os envolvidos foram ouvidos e os agentes buscam testemunhas e imagens de câmeras de segurança da região". No entanto, a 5ª DP não atualizou mais o caso e não respondeu se conseguiu analisar imagens.
A casa, inicialmente, negou envolvimento dos seguranças e tratou a denúncia como "fake news". Nesta segunda-feira, houve mudança no tom do posicionamento. Por meio de conta no Instagram, o espaço afirmou que "lamenta profundamente os fatos ocorridos na madrugada da última sexta-feira (19). A casa se sensibiliza com o relato das vítimas, e garante não tolerar qualquer tipo de violência, principalmente atos que possam ser decorrentes de discriminação".
Confira a nota completa abaixo:
"O Casarão do Firmino lamenta profundamente os fatos ocorridos na madrugada da última sexta-feira (19). A casa se sensibiliza com o relato das vítimas, e garante não tolerar qualquer tipo de violência, principalmente atos que possam ser decorrentes de discriminação.
Queremos assegurar que somos comprometidos em promover um ambiente seguro e acolhedor no Casarão. A segurança e o bem-estar dos nossos frequentadores são sempre a nossa prioridade.
Estamos à disposição das mulheres envolvidas no caso para acolhimento, apoio e apuração dos fatos, assim como das autoridades competentes para o esclarecimento da lamentável ocorrência.
Desde já, o Casarão do Firmino se compromete a reforçar o treinamento de todos os nossos colaboradores, com o objetivo de garantir o respeito às diversidades - em especial ao público LGBTQIAP+, bem como racial e étnica - à dignidade humana e à liberdade de pensamento e de ideologia política.
Inaugurado em Setembro de 2022, o Casarão do Firmino já foi palco para mais de 200 shows e se tornou um espaço conhecido publicamente por seu ambiente de união e alegria, além de respeito à diversidade de seu público. Isto se reflete na escolha dos artistas que se apresentam na casa e dos profissionais dedicados ao atendimento ao público. O Casarão abraça e seguirá abraçando todos os tipos de públicos, tratando a nossa comunidade de forma isonômica e respeitosa, sem espaço ao racismo, misoginia, LGBTQIAP+fobia e xenofobia em nosso acolhedor ambiente."
Queremos assegurar que somos comprometidos em promover um ambiente seguro e acolhedor no Casarão. A segurança e o bem-estar dos nossos frequentadores são sempre a nossa prioridade.
Estamos à disposição das mulheres envolvidas no caso para acolhimento, apoio e apuração dos fatos, assim como das autoridades competentes para o esclarecimento da lamentável ocorrência.
Desde já, o Casarão do Firmino se compromete a reforçar o treinamento de todos os nossos colaboradores, com o objetivo de garantir o respeito às diversidades - em especial ao público LGBTQIAP+, bem como racial e étnica - à dignidade humana e à liberdade de pensamento e de ideologia política.
Inaugurado em Setembro de 2022, o Casarão do Firmino já foi palco para mais de 200 shows e se tornou um espaço conhecido publicamente por seu ambiente de união e alegria, além de respeito à diversidade de seu público. Isto se reflete na escolha dos artistas que se apresentam na casa e dos profissionais dedicados ao atendimento ao público. O Casarão abraça e seguirá abraçando todos os tipos de públicos, tratando a nossa comunidade de forma isonômica e respeitosa, sem espaço ao racismo, misoginia, LGBTQIAP+fobia e xenofobia em nosso acolhedor ambiente."
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