Publicado 25/01/2024 13:28 | Atualizado 25/01/2024 13:33
Rio - Metade da população LGBTI+ que mora nas favelas cariocas afiram já ter sofrido violência durante uma abordagem policial. Além disso, 47% já tiveram suas moradias invadidas e 24% contaram que já se sentiram ameaçadas em uma abordagem por sua identidade de gênero ou orientação sexual. Os dados são do Primeiro Dossiê Anual do Grupo Conexão G, do Complexo da Maré, Zona Norte do Rio. Ao todo, 1.705 pessoas de 60 comunidades responderam a pesquisa entre 2022 2023.
O levantamento aponta que a população LGBTI+ enfrenta diversas formas de preconceito no seu dia a dia, seja no acesso ao emprego, à renda e à saúde. De acordo com a coordenadora do projeto, Gilmara Cunha, a coleta dos dados é fundamental para a construção de políticas públicas destinadas ao grupo.
"Esses dados vêm pra dar uma luz pra essa população favelada e também mostra o quanto precisamos construir uma política integral e inclusiva porque por mais que a gente tenha avanços, ainda sim não usufruímos desses avanços. Por exemplo, a segurança para territórios de favela não vão funcionar porque o nosso agressor mora a 3 casas da nossa casa. A metodologia da favela é violenta, a gente tá em um local que é dominado pelo serviço armado. Existe uma diferença muito grande entre ser travesti dentro de uma favela e travesti no asfalto", explicou ao DIA.
Em relação à empregabilidade, o emprego informal é a opção para 35% dos entrevistados. Apenas 28% estão formalmente empregados e 19% desempregados. Além da dificuldade para conseguir emprego com carteira assinada, o estudo mostra que metade da população LGBTI+ que mora nas favelas cariocas afirma já ter sofrido discriminação sexual ou de gênero no ambiente de trabalho. Dentre essas, 20% são vítimas recorrentes de homofobia.
"A gente não tem uma política de empregabilidade e inclusão, o que resta pra nossa população é a prostituição. Existe empresas com vagas para essa população, mas quando a gente vai ver não cabe no pré-requisito, mas isso ocorre porque elas não foram qualificadas, não porque não queriam, mas sim porque no passado foram expulsas das escolas, não puderam estudar. Infelizmente, uma coisa puxa a outra", disse Gilmara.
A pesquisa aponta, ainda, uma divisão no acesso à saúde entre o público LGBTI+. Enquanto 49% das mulheres trans vão ao médico mais de duas vezes ao ano, 40% dos homens trans afirmam que raramente vão. O estudo também mostrou que cerca de 9% dos pesquisados sobrevivem com menos de 500 reais por mês. "No asfalto, você consegue ter acesso aos direitos. Já na favela, a gente é regido por outros domínios territoriais que impedem da gente existir", ressaltou a coordenadora do projeto.
O observatório de Violências LGBTI em Favelas é um projeto de pesquisa e intervenção social que visa produzir e analisar dados acerca de episódios de violência e violações de direitos contra esse grupo.
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