Machine, o síndico do SambódromoRENAN AREIAS
Publicado 04/02/2024 07:00
Há 40 anos, o Sambódromo, palco do Carnaval carioca, tem sido o cenário dos desfiles das escolas de samba nos vibrantes dias de folia. O projeto, idealizado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, foi inaugurado em 1984 como Avenida dos Desfiles. A partir de 1987, passou a se chamar Passarela Professor Darcy Ribeiro. E, neste ano, celebra quatro décadas de esplendor e manifestações artísticas, representando uma parte significativa da cultura popular do país.
Quando o Rio se transforma em um espetáculo de cores e ritmos, nenhum pedaço de chão é mais cobiçado do que o da Marquês de Sapucaí. No entanto, para José Carlos Caetano, mais conhecido como Machine, a Sapucaí não é apenas o palco da festa: é também o seu lar. Ele é a única pessoa autorizada a morar no local, sob o título de “síndico da Sapucaí” e se torna não apenas um espectador, mas o guardião dedicado do coração pulsante da folia carioca. “O Carnaval é tudo para mim! É uma alegria imensa!”, afirma José Carlos.
Machine tem uma trajetória de 40 anos na festa de Momo e recebeu o apelido “Machine” durante os anos como passista na Beija-Flor, na década de 90, durante uma viagem à França. Enquanto dançava em um palco, um francês o apelidou de ‘La Machine The Samba’, que significa “máquina de sambar”.
Atualmente, ele atua como coordenador-geral dos ensaios noturnos de mestre-sala, porta-bandeira, comissão de frente e ala coreografada de bateria, com uma equipe que abre o portão para as escolas realizarem seus ensaios e coordena as atividades na pista.
O amor pelo Carnaval de quem trabalha na Sapucaí é compartilhado pela auxiliar de estoque Anny Caroline Da Silva, 36 anos. Para ela, estar na Apoteose é de arrepiar o corpo e também a alma. Ela participa há quase 20 anos da festa e conta que era levada para assistir aos desfiles pela tia desde criança.
“Eu ficava ansiosa esperando minha mãe autorizar minha tia a me levar para os desfiles. A gente levava tudo, espuma, lanche e refrigerante. Mas quando virei mãe, levei minha filha e também meu sobrinho. Foi fascinante e mágico, revivi minha infância através deles, que ficaram com os olhos brilhando”, lembrou.
Para ela, a emoção está na energia, na troca e nas amizades que faz na arquibancada para torcer junto. Já para a salgueirense Cleusa Nascimento, o Carnaval é uma data aguardada durante todo o ano. “Comecei a participar dos desfiles desde a inauguração da Passarela do Samba. Sempre fui salgueirense de coração, morava na Praça da Bandeira. Como a escola era a mais próxima, íamos todo domingo. Mas quando a Furiosa perdeu o título do Carnaval, ficamos olhando o relógio, o tempo acabando, me recordo que todos saíram chorando. Foi o maior espetáculo que a escola fez, mas todos choravam sentidos”, disse.
‘Minha vida é o Carnaval’

É na Sapucaí, esse emblemático espaço, que José da Penha Ferreira, assim como inúmeros foliões, passaram noites efervescentes, entregando-se à magia dos desfiles das escolas de samba. Conhecido como Mestre Penha, ele começou na folia aos 17 anos, e hoje, aos 70, afirma: “Minha vida é o Carnaval”.
Ele, que há 20 anos desfila pela Portela e também já passou pela bateria da Beija-Flor de Nilópolis e pela Tradição, compartilhou o sentimento de estar na Avenida: “Comparo a emoção de pisar na Sapucaí com a sensação que um jogador experimenta ao entrar no gramado do Maracanã. Para mim, a Sapucaí é o nosso Maracanã. Cada vez que piso lá, entro com o pé direito, é uma onda de emoção que percorre todo o meu corpo, provocando arrepios intensos. Lembro-me do ano passado, quando, depois de tantos anos desde 1984, ainda me emocionei. Ao passar por ela, uma história desfila diante dos meus olhos, como se estivesse viajando por todas as épocas e acontecimentos marcantes. Essa experiência é indescritível”, contou Penha, emocionado.
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