Publicado 18/02/2024 00:00
Rio – O músico Marcelo D2 inaugurou, na Rua Sete de Setembro, no Centro, o Centro de Pesquisa Avançada do Novo Samba Tradicional Onde o Coro Come – IBORU, um espaço para experimentações sonoras, em que receberá convidados como o gaitista, compositor e arranjador Rildo Hora, para trocas e compartilhamentos sobre música. O público também poderá assistir, de graça, a todo processo criativo do D2.
Além disso, a ideia é fazer ensaios abertos, com convidados especiais, para o show do D2 no Lollapalooza 2024, que acontecerá entre os dias 22 e 24 de março, em São Paulo, e promover lançamentos de livros, oficinas e debates. A programação completa deve ser conferida no Instagram do Marcelo D2: @marcelod2
O espaço foi idealizado como uma maneira de reverberar o movimento 'novo samba tradicional', criado por D2 a partir de seu último álbum, IBORU, o nono de sua carreira solo, que se baseia em criar um novo tipo de samba ao misturar o gênero com rap. Por isso, o nome 'novo samba tradicional', que carrega uma ideia de encontro entre vanguarda e novas gerações.
O ponto de partida é o som grave eletrônico, proposto pelo rap e abraçado por outros estilos, mas ainda faltando o samba. Marcelo D2 decidiu experimentar e levar a potência do rap para o samba. Assim, troca-se o surdo pela bateria eletrônica 808, coloca-se samples de rap e pensa-se o samba como se faz hip-hop.
Não à toa, caixas de som empilhadas são encontradas logo à esquerda da entrada do Centro de Pesquisa, uma analogia ao ‘paredão de som’, que ressoa o tom grave do samba. Todo o Centro de Pesquisa é uma representação física do projeto. A cozinha da sambista Clementina de Jesus, com chão de terra e itens de barro, como aparece no curta-metragem “IBORU - O Filme | que sejam ouvidas nossas súplicas" (outro desdobramento do álbum), está reproduzida também no primeiro andar do espaço, logo em frente às caixas de som. No curta, Clementina de Jesus, João da Baiana e Pixinguinha têm um encontro, fictício, há 100 anos, na cozinha de Clementina, em que conversam sobre os caminhos do samba e o seu futuro.
Não à toa, caixas de som empilhadas são encontradas logo à esquerda da entrada do Centro de Pesquisa, uma analogia ao ‘paredão de som’, que ressoa o tom grave do samba. Todo o Centro de Pesquisa é uma representação física do projeto. A cozinha da sambista Clementina de Jesus, com chão de terra e itens de barro, como aparece no curta-metragem “IBORU - O Filme | que sejam ouvidas nossas súplicas" (outro desdobramento do álbum), está reproduzida também no primeiro andar do espaço, logo em frente às caixas de som. No curta, Clementina de Jesus, João da Baiana e Pixinguinha têm um encontro, fictício, há 100 anos, na cozinha de Clementina, em que conversam sobre os caminhos do samba e o seu futuro.
Ainda no Centro de Pesquisa, o público encontrará ativações dedicadas à música, à arte e à educação, inclusive, em propostas de diálogo com a vivência do Centro. Os artistas convocados produzirão aos olhos do público. "Eu adoro saber o que as pessoas estavam pensando e sentindo quando criaram uma obra, uma música. Por isso, pensamos em fazer isso no Centro de Pesquisa", afirma Luiza Machado, produtora do espaço, junto com Marcelo D2.
'Linhagem Suburbana'
Os temas dos subúrbios cariocas, berços do samba, sempre estiveram presentes no rap de Marcelo D2, e não podia ser diferente no espaço físico do novo samba tradicional proposto pelo músico. Os segundo e terceiro andares do lugar abrigam a mostra 'Linhagem Suburbana', do jovem artista Youknowmyface, que trabalha com D2 há mais de dez anos, fotografando o músico, e agora faz a sua primeira exposição solo. São 22 fotografias, algumas na versão ‘lambe-lambe’, que apresentam um olhar único sobre a essência e o cotidiano do subúrbio, embora nem todas tenham sido retratadas naquele espaço.
A exposição foi dividida em três temas: a parede de lambe-lambes representa a mistura de coisas vistas na vivência do dia a dia, como os Arcos da Lapa. Nas fotografias emolduradas, há a parte da infância suburbana, como é a infância no subúrbio, com imagens representando brincadeiras, passinhos e conversas com mais velhos. Já a terceira parte se refere à vivência de um jovem suburbano pelo mundo: "Essa parte era o que Marcelo queria também. Ele e Luiza, curadores da mostra, queriam que eu falasse desse meu olhar para fora, um olhar de um suburbano para vários outros lugares. A primeira vez que eu fui para fora do país foi com o Marcelo, então ele entende e acompanha esse olhar ampliado que eu não tinha antes, e passei a ter um pouco depois de eu ter ido para mais de 15 países com ele”, diz Wilmore, o Youknowmyface.
O seu acervo manifesta suas experiências de vida: um garoto do subúrbio sensível às nuances do seu entorno e que tem prazer em contar histórias através da fotografia. "Para mim, é sempre uma satisfação poder mostrar esse olhar. Eu e Marcelo juntamos essas fotos principalmente pela nossa amizade e nossa vivência em comum, de termos nascido e vivido várias coisas do subúrbio. Muitas pessoas se identificam, não só pelo fato de ser a Zona Norte, mas diversas pessoas, de vários outros lugares do Rio, se identificam muito com coisas retratadas nas fotos. E era esse olhar afetivo que queríamos resgatar nas pessoas”, completa o fotógrafo, nascido e criado no Riachuelo, bairro da Zona Norte.
O cineasta Lucas Jesus, de 28 anos, mora em Belo Horizonte e veio ao Rio para o feriado de Carnaval. O primeiro passeio na cidade foi o Iboru e a mostra de Youknowmyface, artista que ele já conhecia pelo D2 e até comprou print de fotografia, despertou nele justamente esse sentimento de identificação que Wil procura com o seu trabalho.
"Eu tenho a obra dele que é a foto das duas mulheres fumando. Essa foi a primeira dele que eu comprei, e me impactou muito. No print que ele soltou para venda, tem um diálogo dessas duas pessoas, em que uma delas reclama que não aguenta mais fazer o serviço de casa porque o marido não a ajuda. Isso me trouxe uma identificação muito forte, pela proximidade da situação com a minha avó e minha mãe, e de eu entender esse lado delas. Eu sinto que a fotografia do Youknowmyface tem um senso de presença da própria visão e vivência dele, de conseguir identificar coisas que estão sempre no nosso olhar, sempre passando por nós, no dia a dia, e nós não vemos. Eu também consegui perceber que muito da conexão entre Marcelo e Wil está em ambos entenderem essa linguagem do subúrbio. Eu sinto que o Wil a traz nas fotos dele", afirma o cineasta.
Os registros de Wilmore transmitem a carga de vivência que ele teve no subúrbio e o entendimento do lugar, que o ajuda a identificar momentos de essência e registrá-los. Ele conta que depois de viajar para o exterior passou a dar muito mais valor à sua origem e lugar: "Eu me senti muito mais privilegiado por ser carioca e por ser da Zona Norte, suburbano, depois que eu conheci vários outros países. E isso me fez ter muito mais sentimento pelas características do Rio, do carioca e do subúrbio, coisas da essência da nossa vivência. As viagens me deram mais prazer em querer mostrar isso. Porque quando eu falava para pessoas estrangeiras que eu sou do Rio, perguntavam várias coisas que só quem é carioca entende. Comecei a ver que somos um ponto de referência cultural muito grande. As pessoas enxergam muita cultura na gente. Então isso pra mim foi talvez assim o que eu precisava pra eu entender e dar valor mais ainda a minha origem e mostrar esse lado para as pessoas entenderem mais de onde eu sou, o que é o meu lugar, o que é a minha área".
O Centro de Pesquisa Avançado do Novo Samba Tradicional Onde o Coro Come – IBORU faz parte do programa Reviver Centro Cultural, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE), em parceria com a Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar). O objetivo é ocupar imóveis abandonados na área formada pelas avenidas Presidente Vargas, Rio Branco e Primeiro de Março, e pela Rua da Assembleia, além de um trecho da Orla Conde. o IBORU se credenciou e, junto com outros 16 projetos, ganham as ruas do Centro, tendo apoio financeiro da prefeitura para a reforma dos imóveis e
ajuda nas despesas mensais.
ajuda nas despesas mensais.
"Ter o Marcelo D2 fazendo o seu barulho no Centro, levando gente e cultura, mostra que estávamos no caminho certo. O carioca gosta do Centro e quer ver o bairro pulsando novamente. Estamos felizes que ele e outros artistas e gestores culturais tenham acreditado e apostado na região", afirmou Chicão Bulhões, secretário da SMDUE.
Serviço:
Local: Centro de Pesquisa Avançada do Novo Samba Tradicional Onde o Coro Come - IBORU
Endereço: R. Sete de Setembro, 43 - Centro, RJ
Horário: Terça a Sábado, das 11h às 19h
Programação gratuita, por ordem de chegada e sujeita a lotação
Confira a programação completa no Instagram do Marcelo D2: @marcelod2
Serviço:
Local: Centro de Pesquisa Avançada do Novo Samba Tradicional Onde o Coro Come - IBORU
Endereço: R. Sete de Setembro, 43 - Centro, RJ
Horário: Terça a Sábado, das 11h às 19h
Programação gratuita, por ordem de chegada e sujeita a lotação
Confira a programação completa no Instagram do Marcelo D2: @marcelod2
Linhagem Suburbana
Os temas dos subúrbios cariocas, berços do samba, sempre estiveram presentes no rap de Marcelo D2, e não podia ser diferente no espaço físico do novo samba tradicional proposto pelo músico. Os segundo e terceiro andares do lugar abrigam a mostra 'Linhagem Suburbana', do jovem artista Youknowmyface, que trabalha com D2 há mais de dez anos, fotografando o músico, e agora faz a sua primeira exposição solo. São 22 fotografias, algumas na versão 'lambe-lambe', que apresentam um olhar único sobre a essência e o cotidiano do subúrbio, embora nem todas tenham sido retratadas naquele espaço.
A exposição foi dividida em três temas: a parede de lambe-lambes representa a mistura de coisas vistas na vivência do dia a dia, como os Arcos da Lapa. Nas fotografias emolduradas, há a parte da infância suburbana, como é a infância no subúrbio, com imagens representando brincadeiras, passinhos e conversas com mais velhos. Já a terceira parte se refere à vivência de um jovem suburbano pelo mundo: "Essa parte era o que Marcelo queria também. Ele e Luiza, curadores da mostra, queriam que eu falasse desse meu olhar para fora, um olhar de um suburbano para vários outros lugares. A primeira vez que eu fui para fora do país foi com o Marcelo, então ele entende e acompanha esse olhar ampliado que eu não tinha antes, e passei a ter um pouco depois de eu ter ido para mais de 15 países com ele", diz Wilmore, o Youknowmyface.
O seu acervo manifesta suas experiências de vida: um garoto do subúrbio sensível às nuances do seu entorno e que tem prazer em contar histórias através da fotografia. "Para mim, é sempre uma satisfação poder mostrar esse olhar. Eu e Marcelo juntamos essas fotos principalmente pela nossa amizade e nossa vivência em comum, de termos nascido e vivido várias coisas do subúrbio. Muitas pessoas se identificam, não só pelo fato de ser a Zona Norte, mas também com elementos retratados nas fotos. E era esse olhar afetivo que queríamos resgatar nas pessoas", completa o fotógrafo, nascido e criado no Riachuelo, bairro da Zona Norte.
O cineasta Lucas Jesus, de 28 anos, mora em Belo Horizonte e veio ao Rio para o feriado de Carnaval. O primeiro passeio na cidade foi a mostra de Youknowmyface, artista que ele já conhecia pelo D2 e despertou nele justamente esse sentimento de identificação que Wil procura com o seu trabalho.
"Eu tenho a obra dele que é a foto das duas mulheres fumando. Essa foi a primeira dele que eu comprei, e me impactou muito. No print que ele soltou para venda, tem um diálogo dessas duas pessoas, em que uma delas reclama que não aguenta mais fazer o serviço de casa porque o marido não a ajuda. Isso me trouxe uma identificação muito forte, pela proximidade da situação com a minha avó e minha mãe, e de eu entender esse lado delas. Eu sinto que a fotografia do Youknowmyface tem um senso de presença da própria visão e vivência dele, de conseguir identificar coisas que estão sempre no nosso olhar, sempre passando por nós, no dia a dia, e nós não vemos. Eu também consegui perceber que muito da conexão entre Marcelo e Wil está em ambos entenderem essa linguagem do subúrbio. Eu sinto que o Wil a traz nas fotos dele", afirma o cineasta.
Os registros de Wilmore transmitem a carga de vivência que ele teve no subúrbio e o entendimento do lugar, que o ajuda a identificar momentos de essência e registrá-los. Ele conta que depois de viajar para o exterior passou a dar muito mais valor à sua origem e lugar: "Eu me senti muito mais privilegiado por ser carioca e por ser da Zona Norte, suburbano, depois que eu conheci vários outros países. E isso me fez ter muito mais sentimento pelas características do Rio, do carioca e do subúrbio, coisas da essência da nossa vivência. As viagens me deram mais prazer em querer mostrar isso. Porque quando eu falava para pessoas estrangeiras que eu sou do Rio, perguntavam várias coisas que só quem é carioca entende. Comecei a ver que somos um ponto de referência cultural muito grande. As pessoas enxergam muita cultura na gente. Então isso pra mim foi talvez assim o que eu precisava pra eu entender e dar valor mais ainda a minha origem e mostrar esse lado para as pessoas entenderem mais de onde eu sou, o que é o meu lugar, o que é a minha área".
Vivências do subúrbio
O acervo de Youknowmyface manifesta suas experiências de vida: um garoto do subúrbio sensível às nuances do seu entorno e que tem prazer em contar histórias através da fotografia.
"Para mim, é sempre uma satisfação poder mostrar esse olhar. Eu e Marcelo D2 juntamos essas fotos principalmente pela nossa amizade e nossa vivência em comum, de termos nascido e vivido várias coisas do subúrbio. Muitas pessoas se identificam, não só pelo fato de ser a Zona Norte, mas diversas pessoas, de vários outros lugares do Rio, se identificam muito com coisas retratadas nas fotos. E era esse olhar afetivo que queríamos resgatar nas pessoas", afirma o fotógrafo, nascido e criado no Riachuelo, bairro da Zona Norte.
Os registros de Wilmore transmitem a carga de vivência que ele teve no subúrbio e o entendimento do lugar, que o ajuda a identificar momentos de essência e registrá-los. Ele conta que depois de viajar para o exterior passou a dar muito mais valor à sua origem e lugar: "Eu me senti muito mais privilegiado por ser carioca e por ser da Zona Norte, suburbano, depois que eu conheci vários outros países. E isso me fez ter muito mais sentimento pelas características do Rio, do carioca e do subúrbio, coisas da essência da nossa vivência. As viagens me deram mais prazer em querer mostrar isso. Porque quando eu falava para pessoas estrangeiras que eu sou do Rio, perguntavam várias coisas que só quem é carioca entende. Comecei a ver que somos um ponto de referência cultural muito grande. As pessoas enxergam muita cultura na gente. Então isso pra mim foi talvez assim o que eu precisava pra eu entender e dar valor mais ainda a minha origem e mostrar esse lado para as pessoas entenderem mais de onde eu sou, o que é o meu lugar, o que é a minha área".
O Centro de Pesquisa Avançado do Novo Samba Tradicional Onde o Coro Come - IBORU faz parte do programa Reviver Centro Cultural, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE), em parceria com a Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar). O objetivo é ocupar imóveis abandonados na área formada pelas avenidas Presidente Vargas, Rio Branco e Primeiro de Março, e pela Rua da Assembleia, além de um trecho da Orla Conde. o IBORU se credenciou e, junto com outros 16 projetos, ganham as ruas do Centro, tendo apoio financeiro da prefeitura para a reforma dos imóveis e ajuda nas despesas mensais.
"Ter o Marcelo D2 fazendo o seu barulho no Centro, levando gente e cultura, mostra que estávamos no caminho certo. O carioca gosta do Centro e quer ver o bairro pulsando novamente. Estamos felizes que ele e outros artistas e gestores culturais tenham acreditado e apostado na região", afirmou Chicão Bulhões, secretário da SMDUE.
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