Publicado 08/02/2024 20:01
Rio - O policial militar Eduardo Gomes dos Reis, lotado no 22º BPM (Maré), que matou Jefferson de Araújo Costa, de 22 anos, com um tiro à queima-roupa, no Complexo da Maré, Zona Norte, foi preso na noite desta quinta-feira (8). Ele responderá pelo crime de homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Segundo a Polícia Militar, o militar foi conduzido à 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) nesta noite, onde prestou depoimento e foi e preso em flagrante pelo crime. Sua arma e sua câmera operacional portátil, que estava na sua farda no momento em que atirou no jovem, foram recolhidas e disponibilizadas para a investigação. O agente será encaminhado para a Unidade Prisional da Corporação, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
A PM destacou que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM), por meio da Corregedoria Geral, para esclarecer as circunstâncias do fato. O agente chegou a prestar depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), mas o caso ficou a cargo da Justiça Militar.
Jefferson morreu depois de ser baleado na barriga durante um protesto nas margens da Avenida Brasil, no Complexo da Maré, contra operação realizada na região. Imagens que circulam nas redes sociais mostram a abordagem do PM, que usa o fuzil para bater no jovem. Logo em seguida escuta-se o disparo. A gravação mostra a vítima sangrando e desmaiando na calçada. O par de chinelos e o boné de Jefferson foram deixados no local onde ele foi baleado, ao lado de uma poça de sangue.
De acordo com a PM, agentes do 22º BPM (Maré) foram acionados para intervir em uma manifestação que ameaçava fechar a Avenida Brasil. A corporação informou que, durante a ação, o fuzil de um dos policiais disparou e acabou atingindo um manifestante.
Jefferson foi socorrido e encaminhado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte, mas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), já chegou sem vida na unidade.
"Ele é especial. Todo mundo está desesperado. Ninguém está acreditando. Ele era até acompanhado. Os policiais só jogaram o spray, ele botou a mão no olho e eles vieram já com fuzil atirando na barriga dele. Vieram para matar. Só quero Justiça. Vou até o fim", disse Marlene de Araújo Costa, irmã do jovem.
Outras duas pessoas foram baleadas na região. As vítimas, que não tiveram as identidades reveladas, foram socorridas e encaminhadas para o Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, também na Zona Norte. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), uma pessoa apresenta quadro de saúde estável e a outra já recebeu alta.
Operação emergencial
Policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da PM, e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, atuaram no Complexo da Maré nesta quinta-feira (8) depois de uma carreta com carros de luxo ser roubada e levada para o interior da região. Moradores relataram intensos tiroteios na área durante a atuação dos agentes.
De acordo com a PM, a corporação recebeu informações de que um caminhão cegonha, que transportava 11 veículos, teria sido roubado na Avenida Brasil e levado para a Maré. Então, os policiais começaram uma "operação emergencial" na região. O motorista do caminhão foi libertado pelos criminosos. Todos os 11 carros foram recuperados e levados para o pátio do 22º BPM (Maré), além de outro veículo de luxo e quatro motocicletas.
Ao DIA, uma professora, que preferiu não se identificar, disse que precisou aumentar a música da sala de aula para as crianças não ouvirem os tiros. "Por volta das 9h, estávamos fazendo um bailinho de Carnaval, quando começaram os tiros. O 'caveirão' está aqui e os policiais nas ruas", contou a mulher, que trabalha em uma escola na Nova Holanda.
Moradora da Maré, Rayanne Soares, de 26 anos, contou sobre o clima. "Muito tiro. Meu filho está na escola, assim como centenas de crianças, e os pais não podem buscar. Estamos sem saber o que fazer. Um clima horrível. É desesperador", afirmou a jovem.
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