Casa do Choro, no Centro do Rio, participou da campanha de reconhecimento junto ao IphanRenan Areias/ Agência O Dia
Publicado 01/03/2024 15:46
Rio - Centro de preservação e divulgação do gênero no Rio, a Casa do Choro comemora o reconhecimento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) da manifestação cultural carioca. O Choro foi aprovado na quinta-feira (29) como Patrimônio Cultural do Brasil e será registrado no Livro das Formas de Expressão do país.
O presidente da Casa do Choro, Jayme Vignoli, afirma que o reconhecimento vai trazer mais visibilidade e acesso ao gênero, que, segundo ele, merece sempre mais espaço. "Quando comecei a tocar como profissional, há 40 anos, eu tinha 17 anos. Eu era um garoto e queria tocar, como falavam na época, música de velho. Não é culpa do Choro porque é um gênero antigo, tem mais de 150 anos. Mas é uma música viva, é jovial, tem a inquietação da juventude", diz Jayme.
Um dos exemplos de inovação e jovialidade do Choro, essencialmente uma prática conjunta de roda, é o projeto 'Chora - Mulheres na Roda', que promove shows, oficinas e rodas no Rio para multiplicar a participação das mulheres no gênero.
"Nós observamos que existe uma adesão muito grande a todas as práticas de roda de choro que nós realizamos ao longo desses seis anos de projeto. A gente percebe que existe uma demanda e um desejo muito grande por parte das mulheres instrumentistas de participarem e de se sentirem à vontade nesse espaço", afirma a cavaquinista e uma das fundadoras do projeto Laila Aurore.
A flautista e fundadora do 'Chora-Mulheres na Roda', Carolina Chaves, destaca que o movimento de mulheres no Choro também tem crescido em outros estados: "A gente também percebe que é um movimento que tem acontecido no Brasil. Temos visto que em outros estados têm surgido outros grupos regionais de Choro composto só por mulheres e com composições autorais".
O Choro tem caráter patrimonial desde seu surgimento após se firmar como uma escola da Música Brasileira, ressalta Jayme Vignoli. O presidente da Casa do Choro exemplifica que a sala de aula do gênero é a própria roda onde é executado. Os mais novos trocam com os mais velhos em uma prática de aprendizado mútuo que requer especial treinamento auditivo dos instrumentistas.
"Você não tem ensaio para ir para a roda de choro. Isso faz com que músicos precisem ter um treinamento auditivo muito forte. Cada um estuda em casa, mas é muito forte o aspecto prático coletivo. Na roda todos estão comungando, tocando junto. Não soa legal se cada um tocar para si próprio. A coisa mais prazerosa, mais bonita que pode existir, é conseguir conversar com o colega", ensina Vignoli.
Na Chora-Mulheres na Roda, a cavaquinista Laila Aurore observa a riqueza da diversidade no gênero. "Chegam instrumentistas dos mais variados instrumentos. Desde cavaquinho, pandeiro, flauta até violoncelo, violino, trompa, sanfona e contrabaixo acústico. Percebemos que o choro é um gênero que tem um potencial muito grande de agregar uma instrumentação diversa e também diversas maneiras de se tocar", acrescenta.
A Casa do Choro participou ativamente do pedido de registro pelo Iphan, apresentado em conjunto com o Clube do Choro de Brasília e pelo Clube do Choro de Santos com apoio de chorões e choronas de vários cantos do país por meio de abaixo-assinados.
"Recebemos o registro com enorme satisfação e alegria. É para comemorar e muito pela simbologia ser extremamente apropriada e justa, mas também por termos participado desse pleito junto a outras entidades. Recebemos como uma conquista de todos os músicos brasileiros", finaliza Jayme Vignoli.
A partir de agora, o corpo técnico do Iphan e os detentores do bem cultural vão desenvolver políticas públicas para a salvaguarda do Choro, com programas e cursos em escolas públicas, criação de editais para aquisição de instrumentos e promoção das rodas de choro em locais públicos, fortalecendo o desenvolvimento de formas de transmissão.
Ao leitor que desejar apreciar uma roda de choro carioca, a Casa do Choro recebe apresentações semanalmente às quartas e quintas-feiras em seu auditório às 19h no endereço Rua da Carioca, 38, Centro do Rio. 
As rodas de choro no Bar Bip Bip, em Copacabana, reúnem chorões às terças-feiras na Rua Almirante Gonçalves, 50. A roda de choro 'Arruma o Coreto' se apresenta na Praça São Salvador, em Laranjeiras de 11h às 14h aos domingos.
Já a Chora-Mulheres na Roda se apresenta no dia 5 de abril no Teatro Ruth de Souza, em Santa Teresa; no dia 20/4 no Centro de Referência da Música Carioca Artur da Távola, na Tijuca; e na Arena Carioca Jovelina Pérola Negra em 23/4, na Pavuna.
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