Números não diminuem a sensação de perigo nas ruas da Região Metropolitana do Rio de JaneiroArquivo Meia Hora
Publicado 03/03/2024 00:00
A frase "Perdeu, perdeu, sai do carro!" ecoa como um sinônimo de perigo iminente para os motoristas cariocas. Principalmente para os que dirigem com apreensão, evitam andar com os vidros abertos ou até evitam alguns trajetos. No Estado do Rio, houve uma queda de 11,7%, aproximadamente 22.250 ocorrências, nos registros dos principais índices de roubo de veículos, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).

O levantamento aponta que houve redução em cinco das sete Regiões Integradas de Segurança Pública (RISP) do estado. As RISP 2, 1, 6 e 4 foram destacadas pelo relatório, evidenciando um declínio nos índices no ano passado. Na capital, a Zona Oeste e parte da Zona Norte registraram 7.373 casos, representando uma queda de 8,2%. Enquanto isso, a Zona Sul, Centro e parte da Zona Norte contabilizaram 4.952 ocorrências, apresentando uma redução expressiva de -17,7%. Já no Norte Fluminense e Noroeste, foram registrados 239 casos, representando uma queda notável de -38,4%, enquanto na Grande Niterói e Região dos Lagos, houve 1.749 casos, o equivalente a uma diminuição de -40,7%. As regiões 3 e 4, no entanto, mostraram um crescimento de 1,8% e 3,5% nos roubos de veículos em 2023 em comparação com o ano anterior.

Apesar dos números positivos, a preocupação e a sensação de insegurança continuam entre os cariocas. O morador do Valqueire, na Zona Norte do Rio, teve seu carro furtado na primeira semana deste ano. Na manhã do dia 4 de janeiro, ele estranhou o veículo não estar estacionado no lugar costumeiro. Então, procurou no entorno e perguntou aos vizinhos, que acreditavam que ele teria saído cedo com o carro.

"Eu deixava o carro na rua, que era um Fiat Uno de 1995, e por ser um carro de pouco valor, eu não tinha alarme, trava e nem seguro, pois não esperava que fosse acontecer, mas fui surpreendido. Geralmente, quem tem um carro desse é uma pessoa que trabalha, tem poucas posses e que é muito difícil a gente adquirir outro carro. Eu preciso do carro, pois é uma ferramenta importante no meu dia a dia. Além do carro, perdi muita coisa que tinha dentro do carro, como algumas ferramentas necessárias, mesas e cadeiras. Então, é um prejuízo muito grande", relatou o aposentado.

Após o ocorrido, o morador que não quis se identificar, registrou o caso na 28ª Delegacia de Polícia (Praça Seca), mas não conseguiu recuperar o carro. Ele teve que recorrer a um empréstimo para adquirir um novo veículo.

Neste ano, somente no mês de janeiro foram registrados 1.866 casos de veículos roubados no estado, com uma variação de 2,9%, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo os dados do ISP. Já em relação aos furtos de veículos, houve uma incidência de 1.441 casos.

De acordo com o professor Robson Rodrigues, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, crimes como roubo de rua, de telefone, de veículos, de pessoas e coletivos acabam causando um impacto psicológico muito maior nas pessoas e aumentam a sensação de medo e insegurança.

“Todos os crimes de violência, incluindo aqueles classificados como letalidade violenta, precisam de um cuidado maior da segurança pública. Embora, recentemente, o crime mais grave tenha sido o homicídio ou latrocínio, pois tira a vida. Crimes como roubos, que ocorrem com mais frequência do que homicídios, também ampliam a sensação de medo e insegurança nas pessoas. É crucial também combater essas formas de crime, mesmo que não sejam tão letais, contribuem para uma sensação constante de violência na sociedade nas ruas que são especialmente impactadas por crimes corriqueiros”, enfatizou.

"A região metropolitana, embora tenha tido uma redução total, representa praticamente todo o estado do Rio de Janeiro. O indicador ainda tem números muito pequenos, mas ainda é muito afetado. Nos dados que dizem respeito ao mês de janeiro, é cedo para falar, mas tivemos aumentos consideráveis em algumas Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP), que precisam ser priorizadas. Por exemplo, a AISP 15, que é a área de Duque de Caxias, teve um aumento de 21,1%. Então, foram 230 veículos roubados apenas este mês e no mesmo período do ano passado, eram 190, ou seja, o número ainda é muito alto. A AISP 20, que engloba Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis e aqueles bairros adjacentes, houve um aumento considerável de 21%, quase empatado com AISP 15, que foram 179 veículos roubados", explicou Robson.

Para o pesquisador, as áreas mais afetadas pelo roubo de veículos compreendem a Baixada Fluminense, especificamente Duque de Caxias (230), também Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis (179). Seguido pela AISP 41, que engloba bairros de Irajá, Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Anchieta, Guadalupe até Ricardo de Albuquerque e estão no limite da Avenida Brasil, com 191 casos desse tipo de crime.

"Em geral, a região metropolitana é mais afetada por diversos tipos de crimes devido à concentração populacional e de riquezas circulantes. Têm criminosos que roubam carros ostentarem, há criminosos que roubam carros de luxo, inclusive para atravessar as fronteiras do país. Então, há dinâmicas diferentes e é preciso entendê-las para compreender quais são essas dinâmicas e propor formas de políticas eficazes", conclui Robson.

Diante da diminuição dos casos de roubo, o diretor executivo do Sindicato das Seguradoras do RJ/ESA, Ronaldo M. Vilela, esclarece que, as variações dos valores não são imediatas. O processo de análise da tendência demanda tempo e leva em consideração diversos fatores, como o índice de roubo e furto, além de outros componentes no cálculo do preço.
"As seguradoras acompanham a curva de crescimento dos roubos com atenção. Embora o roubo e furto sejam componentes importantes, a oscilação desse índice não implica uma variação imediata nos preços, seja para aumentar ou diminuir", diz Ronaldo Vilela.
Ele ainda ressalta que a proteção de um patrimônio é fundamental, especialmente quando se trata de um meio de locomoção. É essencial não apenas pelo valor intrínseco, mas também pela sua importância como bem precioso para muitas pessoas.
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