Publicado 08/03/2024 06:00 | Atualizado 08/03/2024 07:24
Rio - Neste 8 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher. A data lembra todas as mulheres de que estão juntas na conquista por igualdade de gênero. A conquista de direitos é fruto da dedicação e trabalho de muitas ao longo da História. O DIA conversou com quatro delas que dedicam tempo e esforço para melhorar a vida das que estão ao seu redor.
Cada uma à sua maneira, elas promovem autonomia financeira, apoio a vítimas de violência, acesso à saúde e apoio às mães. Em comum, as quatro recebem nesta sexta-feira (8), às 10h, o Diploma Leolinda de Figueiredo Daltro 2024. A honraria é concedida há mais de 20 anos, desde 2003, pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) a dez mulheres, eleitas através de voto por membros da Comissão de Defesa da Mulher da casa.
O nome do prêmio é uma homenagem à Leolinda de Figueiredo Daltro, que no começo do século XX lutou pelo direito ao voto feminino. Baiana, Leolinda morou a maior parte da vida no Rio, onde fundou em 1910, o Partido Republicano Feminino.
Moradora do Complexo da Maré, Valdirene Militão dedica a vida a ensinar mulheres a conquistar autonomia financeira. A agricultora urbana, artesã, mãe de três filhos e avó toca o projeto 'Soberania e segurança alimentar e nutricional' desde 2011, no Campus Fiocruz Mata Atlântica, na Colônia Juliano Moreira, Zona Oeste do Rio. Valdirene trabalha por uma alimentação saudável, sustentável, sem agrotóxico e para que essa alimentação também produza renda no coletivo 'Quintais Produtivos da Colônia'.
"Elas plantam, colhem, trocam, vendem e assim conseguem uma autonomia financeira", explica Valdirene. Essa é apenas uma das frentes de atuação da educadora, que também capacita mulheres no artesanato com resíduos, produzindo, por exemplo, sabão ecológico a partir de óleo de cozinha usado.
"A ideia é olhar pro resíduo que as pessoas muitas vezes dizem que é lixo e ver a potência que tem. A gente pode produzir sem precisar gastar dinheiro e gerar renda para essas mulheres. O foco é que elas tenham autonomia financeira para que não precisem ficar presas em relacionamentos porque não conseguem se manter. Tem muito isso das pessoas falarem: 'não me separei porque eu não consigo viver, não sei fazer nada", explica a agricultora urbana.
Entre as mulheres que passaram por seus projetos, muitas sequer haviam saído de seus bairros e comunidades. Neste 8 de março, Valdirene destaca a necessidade de um transporte público melhor para dar mobilidade às mulheres, principalmente de periferia.
"Elas começam a andar, a reconhecer os seus direitos. A cidade também é delas. Na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, não tem transporte público, só tem van. Essas mulheres fazem feiras agroecológicas e não têm mobilidade urbana, só carro por aplicativo funciona", critica a agricultora e educadora popular da Maré.
Quem também destaca o direito de ir e vir com segurança como fundamental para as mulheres é Marinete Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada há quase seis anos, no dia 14 de março de 2018. Dona Marinete luta para manter o legado e a memória da filha e por justiça para Marielle e para o motorista Anderson Gomes.
"A gente só terá uma democracia plena quando souber quem e porque mandaram matar minha filha. A luta é para que saibam quem era Marielle e porque ela ocupava esse espaço de poder como mulher. Estamos em mais um 8 de março e é exatamente isso que ela defendia em suas pautas", ressalta Marinete Silva.
A mãe de Marielle Franco representa e apoia outras mães vítimas de violência, um coletivo que só cresce, lamenta, "Sigo com essas mulheres sofrendo a perda de seus filhos. A representatividade que tenho é dentro dos movimentos, junto com esse acolhimento fundamental que eu recebo seja nas ruas neste 8 de março e em todos os lugares para dizer o quanto é importante uma Justiça não só para minha filha, por Johnatha, e por tantos outros. Para todos aqueles que foram ceifados pelo caminho", declara Marinete Silva.
Acesso a saúde de crianças atípicas
Cria da Baixada Fluminense e moradora há 20 anos do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, Rafaela França ajuda mães de favela a conseguir medicamento de canabidiol para crianças com autismo e outras CIDs (Classificação Internacional de Doenças), como paralisia cerebral, epilepsia e transtorno global. Mãe da Maria, de cinco anos, Rafaela criou a ONG em junho de 2021 e desde então já atendeu 119 favelas e 400 famílias em diversos municípios do Estado do Rio.
Com sede no Alemão, o Núcleo de Estimulação Estrela de Maria (Neem), além da capital, já atuou em Caxias, Nova Iguaçu, Seropédica e São Fidélis. "Trabalhamos no acesso a direitos a crianças e pessoas com deficiência à cannabis medicinal. Eu não tinha o dinheiro para comprar cannabis para minha filha. Hoje a gente já distribuiu R$ 2 milhões em favelas do Rio de Janeiro com ajuda de empresas privadas", conta a empresária.
Antes de iniciar a ONG, Rafaela, que hoje gera renda para quatro trabalhadores no Neem, era feirante e já tocava o projeto Make in Favela, de profissionalização de mulheres através do mercado da beleza no Complexo da Maré, onde ainda é atuante. "Nosso foco é transformar a vida das mulheres a partir da maquiagem", acrescenta Rafaela.
Neste 8 de março, ela ressalta que as mães de crianças atípicas precisam de Saúde e Educação adequadas. "Na Saúde, a gente precisa ter acesso a terapias dignas de forma individual para as crianças. Que a fila do Sisreg para Neurologia diminua. Na Educação, precisamos de mediação nas redes escolares. Nossas mães estão aprisionadas sem poder evoluir. Essa mãe poderia estar estudando, sofre várias privações de direito", emociona-se.
Com uma escuta sensível e empática às mães também trabalha a conselheira tutelar Patricia Félix. A educadora social e advogada defende que todos têm que garantir os direitos das crianças e adolescentes, não somente a mãe. "Todos têm que ser garantidores: família, estado e sociedade, sem criminalização da pobreza e da miséria. A minha entrada [no conselho] procura entender porque tinham tantas mulheres sendo culpadas se a gente consegue identificar que o maior negligenciador é o estado e a sociedade", pondera a conselheira mais votada do Rio.
"São mães pobres que têm que trabalhar e acumular funções. O impacto do meu trabalho nas mulheres é não criminalizá-las. Também tem os pais, o governo, todo mundo tem que dar conta com as creches, escola integral, mobilidade urbana. Muitas moram em lugares distantes e não conseguem acompanhar o filho. Eu consegui ter essa sensibilidade de ouvir e estar junto, não que eu não vá cobrar as negligências, mas vou ouvir sem criminalizar", garante Patricia Félix.
Além do atendimento humanizado às mães, Patricia também destaca que a sociedade e o estado têm que avançar na garantia de direitos das meninas e educação dos meninos para que elas possam tornar-se mulheres potentes e confiantes.
"Elas plantam, colhem, trocam, vendem e assim conseguem uma autonomia financeira", explica Valdirene. Essa é apenas uma das frentes de atuação da educadora, que também capacita mulheres no artesanato com resíduos, produzindo, por exemplo, sabão ecológico a partir de óleo de cozinha usado.
"A ideia é olhar pro resíduo que as pessoas muitas vezes dizem que é lixo e ver a potência que tem. A gente pode produzir sem precisar gastar dinheiro e gerar renda para essas mulheres. O foco é que elas tenham autonomia financeira para que não precisem ficar presas em relacionamentos porque não conseguem se manter. Tem muito isso das pessoas falarem: 'não me separei porque eu não consigo viver, não sei fazer nada", explica a agricultora urbana.
Entre as mulheres que passaram por seus projetos, muitas sequer haviam saído de seus bairros e comunidades. Neste 8 de março, Valdirene destaca a necessidade de um transporte público melhor para dar mobilidade às mulheres, principalmente de periferia.
"Elas começam a andar, a reconhecer os seus direitos. A cidade também é delas. Na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, não tem transporte público, só tem van. Essas mulheres fazem feiras agroecológicas e não têm mobilidade urbana, só carro por aplicativo funciona", critica a agricultora e educadora popular da Maré.
Quem também destaca o direito de ir e vir com segurança como fundamental para as mulheres é Marinete Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada há quase seis anos, no dia 14 de março de 2018. Dona Marinete luta para manter o legado e a memória da filha e por justiça para Marielle e para o motorista Anderson Gomes.
"A gente só terá uma democracia plena quando souber quem e porque mandaram matar minha filha. A luta é para que saibam quem era Marielle e porque ela ocupava esse espaço de poder como mulher. Estamos em mais um 8 de março e é exatamente isso que ela defendia em suas pautas", ressalta Marinete Silva.
A mãe de Marielle Franco representa e apoia outras mães vítimas de violência, um coletivo que só cresce, lamenta, "Sigo com essas mulheres sofrendo a perda de seus filhos. A representatividade que tenho é dentro dos movimentos, junto com esse acolhimento fundamental que eu recebo seja nas ruas neste 8 de março e em todos os lugares para dizer o quanto é importante uma Justiça não só para minha filha, por Johnatha, e por tantos outros. Para todos aqueles que foram ceifados pelo caminho", declara Marinete Silva.
Acesso a saúde de crianças atípicas
Cria da Baixada Fluminense e moradora há 20 anos do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, Rafaela França ajuda mães de favela a conseguir medicamento de canabidiol para crianças com autismo e outras CIDs (Classificação Internacional de Doenças), como paralisia cerebral, epilepsia e transtorno global. Mãe da Maria, de cinco anos, Rafaela criou a ONG em junho de 2021 e desde então já atendeu 119 favelas e 400 famílias em diversos municípios do Estado do Rio.
Com sede no Alemão, o Núcleo de Estimulação Estrela de Maria (Neem), além da capital, já atuou em Caxias, Nova Iguaçu, Seropédica e São Fidélis. "Trabalhamos no acesso a direitos a crianças e pessoas com deficiência à cannabis medicinal. Eu não tinha o dinheiro para comprar cannabis para minha filha. Hoje a gente já distribuiu R$ 2 milhões em favelas do Rio de Janeiro com ajuda de empresas privadas", conta a empresária.
Antes de iniciar a ONG, Rafaela, que hoje gera renda para quatro trabalhadores no Neem, era feirante e já tocava o projeto Make in Favela, de profissionalização de mulheres através do mercado da beleza no Complexo da Maré, onde ainda é atuante. "Nosso foco é transformar a vida das mulheres a partir da maquiagem", acrescenta Rafaela.
Neste 8 de março, ela ressalta que as mães de crianças atípicas precisam de Saúde e Educação adequadas. "Na Saúde, a gente precisa ter acesso a terapias dignas de forma individual para as crianças. Que a fila do Sisreg para Neurologia diminua. Na Educação, precisamos de mediação nas redes escolares. Nossas mães estão aprisionadas sem poder evoluir. Essa mãe poderia estar estudando, sofre várias privações de direito", emociona-se.
Com uma escuta sensível e empática às mães também trabalha a conselheira tutelar Patricia Félix. A educadora social e advogada defende que todos têm que garantir os direitos das crianças e adolescentes, não somente a mãe. "Todos têm que ser garantidores: família, estado e sociedade, sem criminalização da pobreza e da miséria. A minha entrada [no conselho] procura entender porque tinham tantas mulheres sendo culpadas se a gente consegue identificar que o maior negligenciador é o estado e a sociedade", pondera a conselheira mais votada do Rio.
"São mães pobres que têm que trabalhar e acumular funções. O impacto do meu trabalho nas mulheres é não criminalizá-las. Também tem os pais, o governo, todo mundo tem que dar conta com as creches, escola integral, mobilidade urbana. Muitas moram em lugares distantes e não conseguem acompanhar o filho. Eu consegui ter essa sensibilidade de ouvir e estar junto, não que eu não vá cobrar as negligências, mas vou ouvir sem criminalizar", garante Patricia Félix.
Além do atendimento humanizado às mães, Patricia também destaca que a sociedade e o estado têm que avançar na garantia de direitos das meninas e educação dos meninos para que elas possam tornar-se mulheres potentes e confiantes.
"Desejaria que essas mulheres, crianças e adolescentes, sejam vistas como sujeitas de direito para construir a pauta humanitária com dignidade. A gente tem que valorizar o ser humano não só quando é adulto. Neste 8 de março, precisamos incluir crianças e adolescentes que são vítimas e negligenciadas, muitas violentadas sexualmente e psicologicamente", alerta a conselheira.
A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres da Alerj, Renata Souza (Psol), lembra que a Assembleia conta com apenas 15 mulheres entre os 70 parlamentares.
"Entregar o Diploma Leolinda Daltro no Dia Internacional de luta das Mulheres expressa o nosso reconhecimento pela relevância das homenageadas, a nossa reverência a uma aguerrida pioneira dessas lutas e nos lembrar que a luta feminista permanece ainda bastante necessária", afirma a deputada estadual.
Além de Marinete Silva, Patricia Félix, Valdirene Militão e Rafaela França, também serão homenageadas nesta sexta-feira a secretária municipal da Mulher do Rio, Joyce Trindade; a fundadora do Movimento RH Pretes, Mariana Torres; a idealizadora da Orquestra Sinfônica Juvenil Chiquinha Gonzaga, Moana Martins; a presidente da Associação Advocacia Preta Carioca Umoja (APC), Angela Kimbangu; a diretora do Instituto Lu Rodrigues, Sabrina Rodrigues; e a ex-deputada estadual Enfermeira Rejane.
A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres da Alerj, Renata Souza (Psol), lembra que a Assembleia conta com apenas 15 mulheres entre os 70 parlamentares.
"Entregar o Diploma Leolinda Daltro no Dia Internacional de luta das Mulheres expressa o nosso reconhecimento pela relevância das homenageadas, a nossa reverência a uma aguerrida pioneira dessas lutas e nos lembrar que a luta feminista permanece ainda bastante necessária", afirma a deputada estadual.
Além de Marinete Silva, Patricia Félix, Valdirene Militão e Rafaela França, também serão homenageadas nesta sexta-feira a secretária municipal da Mulher do Rio, Joyce Trindade; a fundadora do Movimento RH Pretes, Mariana Torres; a idealizadora da Orquestra Sinfônica Juvenil Chiquinha Gonzaga, Moana Martins; a presidente da Associação Advocacia Preta Carioca Umoja (APC), Angela Kimbangu; a diretora do Instituto Lu Rodrigues, Sabrina Rodrigues; e a ex-deputada estadual Enfermeira Rejane.
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