Publicado 12/03/2024 08:39 | Atualizado 12/03/2024 17:16
Rio - A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta terça-feira (12), uma operação para desarticular uma quadrilha especializada na captura, receptação e tráfico de animais silvestres no Rio, e em outras quatro cidades da Região Metropolitana. Chamada de "Defaunação", a ação foi realizada por cerca de 100 agentes da PF, com apoio da Corregedoria da PM e do Corpo de Bombeiros. Até o momento, um bombeiro da ativa, apontado como líder do esquema, e outras duas pessoas foram presas, além de armas apreendidas e animais resgatados. Outros dois mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão devem ser cumpridos.
Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Federal Criminal de Niterói. Na casa de um dos alvos da operação, em Itaipu, na cidade de Niterói, foram encontradas cobras silvestres. Em outro endereço, em Itaipuaçu, que pertence a casal investigado, os agentes da PF apreenderam sete armas e munições. O homem e a mulher foram presos por porte ilegal.
Na porta da casa do bombeiro preso, no bairro de Araçatiba, em Maricá, os agentes encontraram um pônei mantido em um trailer em péssimas condições. O animal foi resgatado e o militar preso em flagrante por posse ilegal de arma.
Segundo a corporação, os integrantes da organização criminosa falsificavam documentos e selos públicos do Ibama e também do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para camuflar a prática. O grupo criminoso seria liderado por um militar dos bombeiros e composto por caçadores, receptadores, traficantes de animais e também servidores dos órgãos públicos de fiscalização.
A lista de integrantes inclui ainda dois médicos veterinários e uma estudante universitária. Um integrante do Comando de Policiamento Ambiental (CPAm) também participava da ação, que visava capturar animais em extinção.
Os investigadores da PF identificaram que a quadrilha realizava o cadastramento falso dos animais traficados no Sistema Nacional de Gestão da Fauna Silvestre (Sisfauna) e no Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros (Sispass), ambos geridos pelo Ibama, com o intuito de dificultar o controle e fiscalização dos órgãos ambientais.
De acordo com a PF, os animais sofriam uma série de maus-tratos por parte da quadrilha e eram vendidos por valores que variavam de R$ 20 mil a R$ 120 mil, que dependia diretamente da espécie e se esses bichos viriam com a documentação falsa. Até o momento, os agentes apuraram a venda de mais de 120 macacos-prego, entre eles o macaco-prego-de-crista, que está ameaçado de extinção.
Uma centena de outros animais como araras, pássaros, cervos, iguanas e papagaios foram capturados pelos criminosos em menos de um ano. Com a prática, a quadrilha teria conseguido lucrar cerca de R$ 2,4 milhões. O total, porém, pode chegar à R$ 14,4 milhões, segundo os agentes. Os valores vinham sendo ocultados em contas jurídicas de empresas no nome dos integrantes e também de terceiros.
Os envolvidos responderão, dentre outros crimes, por organização criminosa, receptação qualificada, crime ambiental, peculato, falsificação de documentos e selos públicos, falsificação de documento particular, uso de documento falso e falsidade ideológica. Se somadas, as penas podem alcançar de 46 a 58 anos de prisão.
No caso dos compradores, podem ser enquadrados pelo crime de receptação. As investigações seguem com o objetivo de apreender os animais ilegais e identificar outros receptadores e membros da quadrilha.
Em nota, o Inea afirmou que não compactua com os desvios de conduta, preza pela boa atuação dos seus funcionários e que no caso da operação deflagrada pela Polícia Federal, trata-se de ex-servidores, que não trabalham mais no Instituto. O instituto está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.
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