Publicado 01/04/2024 00:00 | Atualizado 01/04/2024 06:58
Em meio à agitação do Rio, onde cada bairro tem sua própria identidade e dinâmica, as regiões de Jacarepaguá e Campo Grande emergem como protagonistas e se destacam como as mais populosas do município. Para muitos cariocas, a ideia de sair de casa a pé para desfrutar da variedade do comércio local, relaxar em uma praça ou curtir a noite em um barzinho é um luxo reservado a poucos. No entanto, para aqueles que residem nessas áreas da Zona Oeste, tais privilégios ainda fazem parte da rotina.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Jacarepaguá abriga uma população de 653.492 pessoas, seguido por Campo Grande, com 600.464 habitantes, e Bangu, com 422 mil. Os números refletem não apenas o tamanho, mas também a vitalidade das regiões.
A paulista Nadir Moran Ferraria, 81 anos, mora na Freguesia há 30 anos, descreveu como é morar em Jacarepaguá: “Há 30 anos que eu vim pro Rio. Então eu estou achando assim muito perigoso andar aqui pela Freguesia, tem muito assalto. Apesar disso, o comércio aqui é muito bom, aqui tem muitos mercados que a gente pode fazer as compras e conduções para todos os lugares”, disse Nadir.
A empresária Kelly Cristina da Silva, 24 anos, também mora na região há três anos e também vê a facilidade no deslocamento e no transporte público como algo positivo: “Aqui tem conduções para todos os lugares e também é próximo de outros, eu chego em Madureira, no Centro do Rio muito rápido. Se eu quiser ir pra Bangu também, eu consigo chegar mais rápido. Mas o bairro ainda precisa melhorar na segurança”, disse a jovem.
A babá Vilma Ferreira, 61, mora no Pechincha há 50 anos, compara a realidade atual do bairro com os tempos passados: “Até um tempinho atrás era muito bom. Hoje você não pode mais passear na rua, é assalto em todos os lugares. Se for passear na rua, você tem que esconder tudo. É muito triste, porque é um bairro muito bom. Antigamente, todo mundo queria morar em Jacarepaguá. Falava morar em Jacarepaguá, morar na Freguesia, na Curicica, na Taquara era a felicidade do ser humano. Mas assim, não é um lugar ruim de morar. Só que está muito violento”, disse.
O também morador do Pechincha, Diego Franco, 33 anos, acredita que Jacarepaguá é um bairro muito bom para se morar, apesar dos problemas de segurança. “Eu moro no Pechincha, convivo aqui na Freguesia e na Praça Seca, e eu vejo que o problema que a gente tem constante é assalto, seja ele a mão armada ou com armas brancas, até mesmo invasão. Mesmo com a questão da falta de segurança, a gente vê gente nas pracinhas ainda, de diversão a gente não tem do que reclamar de Jacarepaguá, porque a gente tem muito. São muitas opções de bares e restaurantes, de vez em quando gosto de sair com os amigos para barzinhos por aqui mesmo.
Já o fiscal de qualidade, Luciano Fernandes Castro, 46, é morador de Campo Grande, também na Zona Oeste, e acha que é um bairro tranquilo para se viver apesar de ter muita gente.
“Acho Campo Grande muito tumultuado, bastante gente. Por isso que o nome se chama Campo Grande, porque é muito grande. Mas é muito tranquilo morar pois aqui tem tudo o que você precisar, é bom de frequentar. A diversidade de lugares pra você poder comprar aqui é enorme e tem lugares pra você ir, tem de cafeterias, bares, restaurantes, shopping, tem tudo. Além disso, a diversidade de cultura é muito grande, pois todo o tipo de gente veio pra cá pra morar em Campo Grande”.
Vera David, 62 anos, é moradora antiga de Campo Grande, e enfatiza que o bairro é muito bom e acredita que vai ficar melhor depois que as obras em andamento na região forem concluídas.
“Aqui é muito bom. Todo mundo um fala com o outro, todo mundo é amigo, tem um aconchego, é diferente! Quando eu vim morar aqui não tinha quase nada e agora tem tudo. O que precisamos é que tenham mais carinho e façam a manutenção do bairro. Está até ruim de se andar. O calçadão, por exemplo, tem muito buraco, eu inclusive já quebrei várias sandálias nos buracos. Mas aqui tem de tudo e vai ficar melhor ainda depois que as obras forem concluídas”, disse esperançosa a moradora.
A técnica de enfermagem Patrícia Barbosa acredita que é um bom lugar para se viver. Para ela, as opções de lazer como os restaurantes e shoppings são os que atraem as pessoas para a região.
"O pessoal aqui é bastante alegre e festivo. Gosta muito de sair e de estar na rua. Isso é o que o pessoal daqui de Campo Grande tem. É um povo animado mesmo com as dificuldades que o bairro oferece, como enfrentar muito trânsito e a violência. Mas somos um povo animado e que não coloca muitas dificuldades nas coisas", enfatizou a gestante.
"O pessoal aqui é bastante alegre e festivo. Gosta muito de sair e de estar na rua. Isso é o que o pessoal daqui de Campo Grande tem. É um povo animado mesmo com as dificuldades que o bairro oferece, como enfrentar muito trânsito e a violência. Mas somos um povo animado e que não coloca muitas dificuldades nas coisas", enfatizou a gestante.
O ajudante de baiana Rodrigo Santana Chaves, de 26 anos, trabalha com a avó e a esposa vendendo Acarajé no calçadão de Campo Grande: “O bairro é bom, tem pouca segurança, mas é bom. Temos muito comércio, conseguimos achar coisas mais facilmente. Lojas de roupa e mercado, uma próxima da outra, temos correio, temos de tudo aqui. Mas aqui tem muitos lugares mal iluminados e, dependendo do horário, o trânsito é bem ruim”, comentou.
Para o subprefeito da Zona Oeste, Diogo Borba, a Zona Oeste como um todo tem muita história, e Campo Grande é como uma minicidade; por isso, toda e qualquer política pública implantada aqui vale muito para a região. “Você não precisa sair de Campo Grande para fazer nada. Aqui tem tudo. Grandes lojas, mercados, bons restaurantes, bares… Temos uma área totalmente rural ao pé da Serra do Mendanha onde há sítios de agricultura familiar com plantações de aipim, laranja, caqui, quiabo, acerola, entre outros. Temos muitas praças, quadras, centros e clubes esportivos. Temos boas faculdades, universidades, escolas, cursos… enfim, temos tudo aqui como a cachoeira do Mendanha, Park Shopping, os polos gastronômicos e culturais que ficam no Rio da Prata, na Estrada do Guandu-Sapê e na Praça Rosária Trota. Em relação ao espaço público de lazer, tem a Praça do Skate, a recém-inaugurada Praça do Parque Esperança, entre outros espaços”, comentou o subprefeito.
“O trânsito de Campo Grande é um problema que afeta quem mora, quem trabalha, quem vem visitar… enfim, essa sempre foi uma das maiores reclamações por aqui. Por isso, a Prefeitura do Rio está investindo muito em projetos de mobilidade urbana para proporcionar mais qualidade de vida para quem mora e trabalha aqui, atrair mais investimentos, crescimento econômico e geração de empregos. Tenho certeza de que quando as obras do Programa Avança Campo Grande estiverem prontas, Campo Grande vai ficar muito melhor, com mais qualidade de vida para a população”, enfatizou Borba.
Expansão, comércio e habitação
De acordo o geógrafo da PUC-Rio e pesquisador do Agropos, Helder Farias, a Barra da Tijuca expandiu-se com grandes investimentos, proporcionando mais oportunidades de emprego, tornando se um importante polo comercial:"Como resultado, muitas pessoas procuram morar nas áreas circundantes, como a Baixada de Jacarepaguá, para estar mais próximas do trabalho. Além disso, o transporte público foi fundamental. O acesso à Barra da Tijuca e à Baixada de Jacarepaguá foi crucial para atrair novos moradores e manter alguns residentes", destacou Farias.
Ainda de acordo com o geógrafo, Campo Grande é um dos pólos comerciais mais importantes da cidade. "Campo Grande consegue absorver sua mão de obra local, pois as pessoas não precisam necessariamente sair do bairro para encontrar trabalho, serviços ou educação. O transporte é fundamental para manter a conectividade do bairro com a cidade. Isso demonstra como novos empreendimentos chegam a Campo Grande", comentou.
“Com a competição pelo solo urbano escasso nas zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro, bairros como Campo Grande e a Baixada de Jacarepaguá ganham destaque por ainda oferecerem espaços verdes e abertos, com potencial para crescimento. Portanto, essas localidades atraem uma população de classe média e baixa, que pode ser incorporada aos serviços oferecidos, incentivando novas empresas e empreendimentos a se estabelecerem na região. Os incentivos governamentais também contribuem para que esses empreendimentos se estabeleçam nessas áreas, impulsionando o crescimento contínuo desses dois locais”, analisou o pesquisador.
Já para o professor de História da UERJ, Mario Brum, o crescimento econômico e programas de habitação são fatores que impulsionam o aumento:"O crescimento da Barra da Tijuca é um fator de atração de empregos, particularmente na Barra da Tijuca e ali na baixada de Jacarepaguá, onde temos ali shopping, condomínios, bastante serviços comerciais. No caso da Zona Oeste como um todo, os programas de habitação popular trazem, sem dúvida, um acréscimo populacional", comentou o professor.
“A dificuldade de transporte do Rio de Janeiro, o crescimento do trânsito, as poucas vias e a piora na qualidade dos serviços como trem, por exemplo, faz com que muita gente acabe ficando pela Zona Oeste mesmo, isso também, de certa forma, a gente também tem um crescimento, por assim dizer, “positivo” de serviços, de comércio na Zona Oeste, plantação de shoppings, essa demanda do consumo em alguns anos, que faz com que também a Zona Oeste torne-se também um polo gerador de empregos, uma transformação de uma área que até os anos 70 era basicamente rural, a tentativa de industrialização ocorre de uma forma muito efêmera, a gente tem a Companhia Siderúrgica do Atlântico em Santa Cruz, tem as obras do Porto de Itaguaí, tem o Porto de Itaguaí, mas isso ainda não é acompanhado de uma política, nem uma política urbana que fizesse com que a mão de obra se deslocasse rapidamente”, acrescentou Brum.
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