Maurício Levi, morador da Tijuca e artesão Cléber Mendes/Agência O Dia
Publicado 21/04/2024 00:00
A essência do Rio se revela nos seus bairros, onde o orgulho e o sentimento de pertencimento se entrelaçam com a identidade dos cariocas, como na Tijuca e na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. No dia 12, o Hospital Maternidade Paulino Werneck, na Ilha do Governador, foi reaberto após mais de 10 anos fechado, o que possibilitará o nascimento de novos insulanos novamente na região. Nas redes sociais, o prefeito Eduardo Paes aproveitou para trazer à tona o questionamento: entre os tijucanos e os insulanos, quem tem maior sentimento de pertencimento e o mais fervoroso amor pelas suas raízes?
Publicidade
Na movimentada esquina da Praça Saens Peña, na Tijuca, encontra-se um pedaço da história da Tijuca: o quiosque Flores Cariocas. Maurício Levi, orgulhoso tijucano, carrega nos ombros décadas de história familiar. "Eu nasci no Méier, mas fui criado aqui na Tijuca, já que a minha família tem a floricultura aqui há 60 anos, fiz parte desse bairro. Esse bairro sempre me acolheu a vida inteira", conta Maurício, cujos olhos brilham ao falar sobre suas raízes profundamente entrelaçadas com o bairro.
O legado da floricultura teve início com Dona Moreninha e sua filha Elzi. "Minha avó dedicou a vida dela aqui, ela e minha mãe", diz. Ao longo dos anos, a Flores Cariocas se tornou mais do que uma floricultura. "É o que me faz ainda abraçar essa ideia de me manter aqui, porque a gente virou uma referência aqui no bairro", destaca Maurício.
A história da família de Maurício é o que o motiva a permanecer na região. Apesar de ter parte da família nos Estados Unidos, ele mantém o vínculo com a tradição familiar e o legado. Uma das coisas que Maurício mais gosta de fazer é tomar café em um restaurante do bairro, onde tem uma mesa cativa. Ele considera esse seu escritório ao ar livre e aprecia conhecer novas pessoas e expandir sua rede de contatos. "Foi um bairro que no passado era considerado nobre. E essa nobreza se mantém no trato com as pessoas. Acho que o tijucano é um povo muito educado. Então, isso facilita a convivência", ressalta.
Para Maurício, a Tijuca é muito mais do que um bairro. É um ponto de encontro de tradição, história e resiliência, onde as flores contam não apenas a história de uma família, mas de toda uma comunidade que valoriza suas raízes e celebra sua identidade.
Rafael Antônio Santos da Silva, de 41 anos, trabalha vendendo cocos e ficou conhecido popularmente pelo bairro como Coco Tijucano. "São 31 morando aqui, eu gosto da Tijuca, aqui tem tudo, como a Floresta da Tijuca, a proximidade com as praias da Zona Sul ou até mesmo com outros bairros da Zona Norte. Tem banco, tem shopping, tem loja", enumera Rafael.
O administrador Ricardo José da Luz de Deveza, de 50 anos, também é morador antigo do bairro e passa todos os dias no Coco Tijucano. "Já moro aqui mesmo há uns 20 anos, eu gosto muito da Tijuca por causa da acessibilidade, é perto de tudo, perto do Maracanã, perto da praia. Além disso, gosto de estar aqui pelos cachorros, tenho dois, a Kiara e o Raj, que são xodó aqui do povo. Toda manhã passeio com eles pelo bairro e eles tomam até água de coco. É um lugar muito bom, aqui todo mundo é muito simpático. Por mais que tenha muita violência, continuo morando aqui. Meu sentimento pela Tijuca é inexplicável", afirma, orgulhoso.
A gari Gelma Rosa da Silva, de 53 anos, é moradora da comunidade do Salgueiro e também trabalha na Praça Saens Peña. "Eu me orgulho porque fui nascida e criada aqui. Também aqui é perto de tudo, a gente pega o metrô e já está ali na Cidade ou na Barra. Ah, é bom de morar e o que eu mais gosto aqui e vejo quando estou varrendo é o chafariz, gosto de ver os pássaros que passam, acho muito bonito", diz a tijucana.
Os moradores da Ilha do Governador, conhecidos como insulanos, têm um orgulho inabalável. E esse sentimento se manifesta de muitas formas, mas talvez nenhuma tenha o aroma inconfundível da pipoca que faz sucesso há mais de 15 anos no bairro da Cacuia. Paulo Henrique, de 52 anos, é um desses insulanos que não só ama a Ilha do Governador, mas também encontrou nela a fonte de sustento para a família.
"Eu nasci aqui, no Hospital Paulino Werneck, e fui criado na Ilha. Para mim, é um lugar exemplar pela liberdade que os moradores têm de poder andar tranquilo com o celular no bolso, situação que a gente não vê fora da Ilha. É um bairro que eu amo. Aqui é um lugar onde todo mundo se fala e acaba virando uma família", declara ele, destacando o ambiente acolhedor e seguro que caracteriza a região.
Paulo trabalhou como manobrista do estacionamento VIP do Ilha Plaza Shopping. No entanto, a busca por uma vida mais estável o levou a mudar de rumo. "Parei para refletir e vi que não adiantava andar de terno, todo elegante, mas ter em casa uma situação complicada. Foi quando sentei com minha esposa, Conceição, e comecei a investir na pipoca", conta.
Paulo Henrique tem orgulho de ser insulano e faz sucesso vendendo como pipoqueiro na região - Cleber Mendes/Agência O Dia
Paulo Henrique tem orgulho de ser insulano e faz sucesso vendendo como pipoqueiro na regiãoCleber Mendes/Agência O Dia
O empreendedor logo encontrou apoio de comerciantes locais e da família para seguir com o ponto e posteriormente legalizar a barraquinha. Com dedicação e simpatia, foi conquistando a região.
O professor Rodrigo Manuel Aguiar Brito, de 46 anos, é morador da região desde os 2 anos de idade e se orgulha de ser um lugar tranquilo. "É um bairro muito tranquilo, já foi mais, mas em relação aos outros bairros, ainda é tranquilo e ter essa sensação de segurança também é importante. E aqui na Praia da Bica tem esse ar mais fresquinho, por exemplo. Eu moro aqui perto da praia e pescava por aqui com meu pai e tenho boas memórias aqui. Eu gosto da Ilha, como a maioria das pessoas gostam da ilha e não querem sair daqui, né", comenta Rodrigo.
O motorista Raphael Esteves, de 38 anos, sempre morou na Ilha e tem orgulho de pertencer à região. "A sensação de segurança aqui não se compara a nenhum outro lugar que eu passo. Aqui eu posso ficar num ponto de ônibus uma hora ou duas horas da manhã e nada vai me acontecer. Eu não preciso sair daqui para nada. Me divirto aqui e trabalho por aqui. O insulano aqui pode sair para andar, de uma maneira bem solta. Ir até ali em um bar, no shopping, na praça e a gastronomia aqui tem de tudo e é um dos pontos fortes daqui da região", ressalta o insulano.
Leia mais