Publicado 02/05/2024 18:40 | Atualizado 03/05/2024 19:04
Rio - A deputada estadual Lucinha (PSD) foi indiciada por envolvimento com a milícia liderada por Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho. A investigação foi realizada pela Polícia Federal e a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) recebeu o ofício na quinta-feira passada (25).
PublicidadeO Conselho de Ética, presidido pelo deputado Júlio Rocha (Agir), tem até segunda-feira (6) para citar a parlamentar, que terá mais dez dias para apresentar sua defesa por escrito. A partir disso, acontecerão as reuniões ordinárias da comissão para ouvir Lucinha, convocar testemunhas e deliberar sobre o assunto.
A deputada foi um dos alvos da Operação Batismo, da Polícia Federal (PF) e do MPRJ, em dezembro do ano passado. A parlamentar de 63 anos seria o braço político da milícia de Zinho, preso no dia 24 de dezembro de 2023. O grupo paramilitar atua em pelo menos 13 bairros do Rio, a maioria na Zona Oeste, onde vive uma população de mais de 4 milhões de pessoas.
As investigações apontam que Lucinha se encontrou ao menos 15 vezes com Domício Barbosa de Souza, o Dom, um dos homens de confiança de Zinho. Além disso, ela teve atuação em cinco episódios com objetivo de beneficiar os criminosos.
Após a operação, a parlamentar chegou a ser afastada do seu mandato na Alerj. A decisão foi tomada em dezembro, mas logo em janeiro a Casa decidiu pela volta da deputada às atividades com a condição de que ela respondesse ao processo disciplinar no Conselho.
Cinco situações em que Lucinha beneficiou o crime, segundo a investigação
Na denúncia, são narrados cinco episódios nos quais Lucinha teria interferido para beneficiar a organização paramilitar, tanto para favorecer os interesses do grupo quanto para protegê-los de operações de autoridades policiais. A primeira situação aconteceu em julho de 2021. O órgão teve acesso a uma conversa entre 'Dom' e Ariane, na qual a assessora informa sobre a data que o prefeito Eduardo Paes estaria na Zona Oeste. A investigação aponta que essa informação permitiu que o miliciano se programasse para "retirar das ruas sua tropa armada", impedindo a identificação e prisão de integrantes do grupo.
O segundo caso ocorreu entre os dias 9 e 14 de setembro de 2021. Conversas entre os envolvidos apontam que Lucinha atuou diretamente para defender a "brecha da P5". O termo se refere ao transporte de vans nos bairros da Zona Oeste, maior fonte de recursos da milícia. Com isso, ela teria atuado para facilitar o esquema de vans ilegais na região.
O terceiro episódio é registrado entre setembro e novembro de 2021. Lucinha, utilizando o prestígio político, teria fornecido à Ariane informações sobre a investigação do homicídio do empresário Alberto César Romano Junior, que desapareceu em setembro. O veículo dele foi encontrado em Santa Cruz, na Zona Oeste.
Na conversa, Domício fala sobre a ligação do empresário com a organização criminosa e sugere que o homicídio foi realizado por uma milícia rival com o objetivo de incriminar o grupo de Zinho. A informação teria sido repassada à Lucinha para que ela informasse as autoridades policiais que investigavam o caso.
Em outro momento, Dom menciona o desejo de que seja realizada uma operação policial contra o grupo rival. O miliciano pede à Ariane que solicite à Lucinha para falar com o "presidente" na intenção de intervir em uma ação que estaria sendo adiada pelo "Doutor Amim", identificado como o delegado Marcos Amim, que foi titular da Delegacia de Combates às Drogas.
Já em novembro de 2021, outro integrante da milícia encaminha mensagens para Dom, afirmando que um homem teria levado "dinheiro alto" a várias delegacias da Polícia Civil com objetivo de "comprar" uma "mega operação". O nome de Lucinha é citado e os investigadores acreditam que os criminosos teriam intenção de que ela levasse as informações para uma pessoa não identificada.
O quarto acontecimento foi em novembro de 2021, quando a deputada foi acionada por Dom para que atuasse em favor dos milicianos que haviam sido presos em flagrante na posse de armas e fardas. O suspeito pede que Lucinha auxilie na soltura dos detidos. Pouco tempo depois, a parlamentar encaminha uma mensagem de que a ocorrência estava sendo encaminhada à 35ª DP (Campo Grande) sem presos, apenas com as apreensões. No dia seguinte, a deputada afirma que "fez sua parte" e que "quebraria o telefone", orientando Dom a apagar as mensagens.
O último episódio constatado pelo MPRJ aconteceu entre novembro e dezembro de 2021. A deputada teria pedido trocas de comando no 27º BPM (Santa Cruz) após diversas solicitações feitas pela organização.
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