Abrigo acolhe pessoas com autismo em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul Acervo pessoal
Publicado 12/05/2024 07:00
Diante do enorme momento de dor vivenciado por diversas famílias afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, duas mulheres, mães de crianças autistas, fizeram nascer uma bela iniciativa na região. Sensibilidade e acolhimento norteiam a ação da jornalista Debora Saueressig e da nutricionista Roberta Vargas, idealizadoras do Instituto Colo de Mãe. Cientes de que os impactos emocionais também são desafios a serem enfrentados pelos gaúchos, especialmente para grupos mais vulneráveis, elas uniram esforços para criar um ambiente acolhedor e adaptado em Porto Alegre. O abrigo é voltado para pessoas neurodivergentes, entre elas a do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
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Debora e Roberta já comandavam o Colo de Mãe, nascido, segundo o próprio perfil do instituto no instagram, "de duas mães de autistas dedicadas ao acolhimento da maternidade atípica". Diante da catástrofe que tomou conta do Rio Grande do Sul, elas entenderam que estavam diante de um cenário desafiador e perceberam a necessidade de um acolhimento específico.
Afinal, as mudanças abruptas de rotina e os estímulos intensos decorrentes das operações de resgate, incluindo sirenes, ambulâncias, aviões e helicópteros, podem desencadear reações em pessoas com TEA, como crises de choro, gritos, xingamentos e até comportamentos de autolesão.
"A gente que trabalha com essa população em um sistema de voluntariado já há dois anos percebeu que não era possível continuar vendo isso sabendo que vão ser dias e meses muito difíceis pela frente e não ter um envolvimento direto com isso. A gente começou a ir atrás de locais que já estavam funcionando como abrigo e nos deparamos com uma situação de guerra mesmo. A gente viu que para os nossos filhos, por exemplo, seria impossível permanecer naqueles lugares com muito estímulo, muitas pessoas, muito grito e sem alimentação específica. Então, criamos um espaço próprio em academia de crossfit, em um de box de crossfit, com a estrutura que a gente considera ideal para receber as famílias", explicou Débora Saueressig.
"É um olhar mais empático e é um olhar de quem vive essa situação em condições 'normais', a gente vive com essas pessoas. Então, a gente está reproduzindo um cuidado materno e um olhar materno num ambiente coletivo", enfatizou.
O abrigo montado em Porto Alegre possui uma equipe especializada em saúde, incluindo pediatras, neuropediatras, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos, proporcionando, dessa forma, uma intervenção multidisciplinar. A iniciativa também abriga crianças com Síndrome de Down, por exemplo.
Diante do cenário caótico e da necessidade de um acolhimento específico, o local, concebido com muita sensibilidade, tem sido um refúgio para quem busca conforto em meio ao desastre.
A adaptação da rotina no abrigo é focada em aspectos como a alimentação, com a nutricionista Roberta Vargas, que é especialista em transtorno do espectro autista e neurodivergência, identificando as necessidades específicas de cada criança, suas intolerâncias, preferências e alergias alimentares.
O funcionamento também requer adaptações estruturais, como reforço de segurança para lidar com comportamentos desafiadores das crianças, como de fuga e interferência, incluindo telamento, instalação de redes e portões de segurança. Tudo isso é feito com recursos captados na campanha de doação promovida pela associação.
Quem quiser doar à organização ou precisar de acolhimento pode entrar em contato com as idealizadoras do projeto por meio da página da ONG no Instagram (@somoscolodemae).
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