Publicado 21/05/2024 08:27
Rio - Policiais civis do Rio de Janeiro e do Amazonas realizaram uma ação, nesta terça-feira (21), contra um dos maiores esquemas de fornecimento de drogas entre as facções Comando Vermelho (CV) e Comando Vermelho do Amazonas (CVAM). A Operação Rota do Rio cumpriu 99 mandados de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro, Amazonas, Minas Gerais e Pará. Ao todo, quatro pessoas foram presas, entre elas uma liderança do tráfico do Morro dos Prazeres.
PublicidadeDe acordo com as investigações, a droga era adquirida na fronteira tríplice entre Peru, Colombia, Brasil e escoada do Amazonas em uma rota pelo Rio Solimões, passando pelo Centro-Oesto do país, Minas Gerais, até chegar ao Rio de Janeiro. Já o dinheiro pago pelos entorpecentes fazia o caminho de volta. O material era vendido tanto nas favelas fluminenses, quanto no asfalto. Segundo o secretário de Estado de Polícia Civil, Marcus Amim, todos que vendem drogas, nas comunidades ou em áreas nobres, têm ligação com organizações criminosas.
"Ninguém consegue traficar cocaína e vender cocaína sem estar associado a uma organização criminosa. O tráfico privilegiado no Brasil só existe se o indivíduo conseguir produzir e vender a droga. O comércio ilegal de drogas do mundo é controlado por organizações criminosas. Tanto no asfalto, quanto na favela, o indivíduo que trafica cocaína está diretamente ligado a uma organização criminosa", afirmou Amim. "O 'playboy' que vende cocaína nas festas, nas badaladas noitadas do Rio de Janeiro, também tem responsabilidade no enfrentamento que existe nas comunidades do Rio", completou.
Os alvos eram pessoas e empresas apontadas como integrantes ou associados a um dos braços operacionais e financeiros do CV. Os mandados no Rio foram cumpridos em endereços nobres de Copacabana, Ipanema, Arpoador e Catete, na Zona Sul, e na Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, onde foi foi identificado grande fluxo do tráfico de drogas e uma espécie de disk drogas. Os agentes também cumpriram mandados em Cabo Frio e Armação dos Búzios, na Região dos Lagos.
Houve ainda buscas na comunidade do Fallet, Fogueteiro e nos morros do Escondidinho e Prazeres, na Região Central, onde moradores relataram que houve intenso confronto. A Secretaria Municipal de Educação informou que, por conta da operação, cinco unidades escolares de Santa Teresa e outras duas no Rio Comprido foram impactadas.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o Centro Municipal de Saúde Salles Netto, no Rio Comprido, acionou o protocolo de acesso mais seguro e suspendeu o funcionamento. Já a Clínica da Família Sérgio Vieira de Mello, no Catumbi, mantém o atendimento à população, mas suspendeu atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.
Nos Prazeres, os agentes prenderam Juan Roberto Figueira da Silva, o Cocão, apontado como uma das lideranças da comunidade e um dos principais responsável pelos roubos de veículos da organização criminosa. Segundo o delegado do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD), Gustavo Ribeiro, os automóveis roubados eram clonados e o dinheiro obtido com as vendas era usado na compra de cocaína e maconha do tipo Skank vindas do Amazonas.
Na região do Fallet e Fogueteiro, os policiais fizeram buscas por um criminoso amazonense foragido, identificado apenas como Cleiton, mas ele não foi encontrado. Apontado como um dos principais operadores da organização, o bandido é elo entre os estados, já que era responsável pela distribuição das drogas no Rio de Janeiro e pela chegada do dinheiro ao Amazonas. Em um período de dois anos, o esquema movimentou aproximadamente R$ 30 milhões.
Para esconder a origem ilícita do dinheiro da compra e venda de drogas, a organização realizava pagamentos de forma pulverizada em contas bancárias para laranjas e empresas. Entre elas, um frigorífico no Amazonas do ex-prefeito de Anamã, Raimundo Pinheiro da Silva, o Chicó, que teve o mandato cassado por abuso de poder econômico. O estabelecimento era usado para a movimentação da droga e recebimento de valores da rota final do tráfico.
"No estado do Amazonas ocorria a ocultação da origem ilíticita desse crime, onde esse frigorífico desse ex-prefeito recebeu voluptuosa quantia em dinheiro e depois repassava para as regiões de fronteira. Não só a pessoa jurídica do frigorífico, como a pessoa física do ex-prefeito foi beneficiária de recursos oriundos diretamento da técnica do Cleiton, que era o elo do Rio de Janeiro com o Amazonas. Esse frigorífico funciona, ele exerce a venda, transporte de pescados e isso auxilia a camuflagem dos recursos oriundos do tráfico de drogas", explicou o delegado Jefferson Ferreira, titular da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD).
Ferreira esclareceu ainda que foram constatadas movimentações atípicas de cerca R$ 230 mil de Cleiton para o frigorífico e de aproximadamente R$ 20 mil para Chicó. Alvo da operação, o ex-prefeito fugiu antes da chegada dos policiais, em um voo com destino à Brasília, por volta das 3h. Entretanto, não há mandado de prisão contra Raimundo. Na casa dele foram apreendidos cerca de R$ 10,6 mil.
"Esse ex-prefeito já teve uma operação em seu desfavor por ameaçar um desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas, foi cassado duas vezes por abuso de poder econômico, teve suas contas julgadas improcedentes pelo Tribunal de Contas estadual. É uma figura ainda proeminente na política local, ele tinha cargo em comissão na própria prefeitura e hoje ele se evadiu horas antes da operação, tendo voo com destino à Capital Federal, demonstrando ainda os tentáculos políticos que ele tem", apontou Ribeiro.
Além de Cocão, três pessoas foram presas e outras seis conduzidas para a Cidade da Polícia, no Jacaré, Zona Norte. Os agentes também apreenderam cerca de R$ 100 mil, R$ 500 mil em drogas, munições, veículos e também celulares e computadores. A operação foi realizada pela DCOC-LD, com o apoio da Delegacia de Repressão a entorpecentes (DRE), da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) e da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) da Polícia Civil do Amazonas. As investigações também contaram com o apoio do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra).
A reportagem do DIA tenta contato com a defesa do ex-prefeito Raimundo Pinheiro da Silva. O espaço está aberto para manifestação.
*Colaborou Reginaldo Pimenta
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