Publicado 21/05/2024 12:36
Nessa segunda-feira, foram ouvidas dez testemunhas de defesa. Quando os réus Marcos Felipe da Silva Salviano e Rodrigo Correia de Frias seriam ouvidos, seus advogados alegaram que foi juntado um documento pelo Ministério Público que eles não haviam analisado. Trata-se de um relatório completar multimídia, com vídeo feito por testemunhas no dia do crime, imagens das ruas do Complexo do Lins, como a Araújo Leitão, em que Kathlen foi atingida, e análises feitas pelos promotores.
A defesa também pediu para que o motorista do carro que levou o corpo de Kathlen ao hospital, citado por outro PM durante a audiência, seja ouvido como testemunha.
Por fim, a sessão foi interrompida. A Justiça deu prazo de cinco dias para os advogados dos réus analisarem o processo e será marcada uma quinta sessão, quando serão ouvidos a nova testemunha e os dois réus. A partir da próxima audiência a juíza vai analisar se o caso vai para júri popular ou não.
O advogado da Comissão Popular de Direitos Humanos do RJ Rodrigo Mondego acredita que o caso vá para o júri popular. "Todas as provas caminham nesse sentido, que o tiro partiu dos policiais, que eles tentaram executar sumariamente pessoas suspeitas de pertencer ao tráfico e, ao tentar executar essas pessoas, acertaram a Kathlen Romeu", avalia.
O caso aconteceu em junho de 2021, quando a jovem estava grávida de quatro meses e foi baleada durante uma ação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Complexo do Lins, na Zona Norte. Antes do início da audiência, familiares e amigos se reuniram com cartazes e pediram por justiça.
"A família espera que a justiça seja feita e que a Justiça reconheça o erro desses policiais, que hoje nós tenhamos uma resposta que a família, os amigos e toda a sociedade precisa. Esse abuso de poder dos policiais tem que ter um fim. Eles tiraram não só a vida da Kathlen como a do bebê dela, tiraram a nossa saúde, toda nossa alegria, e estão soltos, vivendo a vida deles maravilhosamente bem, como se nada tivesse acontecido. Aqui dentro do fórum, eles estão com cara de que vieram passear, debochados, alegres, com uma fisionomia de que 'tudo nós podemos e nada vai nos acontecer'. Minha neta, a única arma que ela usava era estudar, trabalhar e ter um filho no ventre", desabafou Sayonara de Fátima Queiroz de Oliveira, avó de Kathlen.
Sayonara estava com a neta no momento do crime. Ela contou que chegou a alertar Kathlen sobre as recorrentes operações que estavam acontecendo na região.
"Ela foi na minha casa e nós saímos. Eles tinham acabado de se mudar havia um mês, então tinha coisas dela lá. Alguns dias antes, estavam tendo muitas operações só naquele pedaço, então eu proibi ela de ir lá. uma semana antes, ainda falei: 'minha preta, não vem aqui, porque Deus me livre e guarde de você ouvir um tiro e perder a criança'. Uma semana depois, perdi ela e a criança", lamentou.
Os dois militares também respondem por fraude processual em outro processo, assim como outros três agentes, pois teriam alterado a cena do crime. À época, os réus afirmaram que Kathlen foi atingida durante uma troca de tiros com traficantes da região, mas Sayonara afirmou que essa alegação não condiz com a realidade e foi descartada pelos investigadores.
"É tudo mentira, já foi comprovado de que não houve troca de tiros. Sou testemunha viva de que só houve uma rajada, não troca de tiros. Eles não tiveram respeito por ninguém, atiraram de um ponto cego para a rua onde eu e minha neta estávamos passando. Já foi comprovado, teve a perícia", afirmou.
Em novembro do ano passado, o TJRJ ouviu testemunhas arroladas pela acusação que afirmaram que não houve troca de tiros. Ainda em maio de 2023, o pai de Kethlen, Luciano dos Santos Gonçalves, relatou que recebeu, de um morador, um vídeo, gravado pelo celular, que mostra policiais recolhendo cartuchos no chão, após a tragédia. Esse vídeo está anexado ao processo.
Relembre o caso
A jovem Kathlen de Oliveira Romeu, de 24 anos e grávida de quatro meses, foi baleada durante uma ação policial de militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Complexo do Lins, na Zona Norte, em junho de 2021.
Os policiais militares, Marcos Felipe da Silva Salviano e Rodrigo Correia de Frias são acusados de terem sido os responsáveis pelos disparos. Além de réus por homicídio, eles respondem, junto com mais três PMs, por fraude processual, pois teriam alterado a cena do crime.
Os dois realizavam patrulhamento de rotina na área conhecida como Beco da 14, próximo à Rua Araújo Leitão, por onde a jovem passava com a avó. A dupla alega que houve troca de tiros com traficantes locais e a vítima acabou sendo atingida.
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