Narcomilicianos integram facção que atua em comunidades como o Morro do Dendê, na IlhaReprodução TV Globo
Publicado 03/06/2024 14:30 | Atualizado 03/06/2024 18:47
Rio - O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) abriu denúncia contra sete narcomilicianos acusados de cobrar taxas de motoristas de aplicativo na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. Aberto pelo promotor Sauvei Lai, da 2ª Promotoria de Justiça e Investigação Penal Territorial, o pedido cobra a prisão preventiva dos criminosos, que são integrantes da facção Terceiro Comando Puro (TCP) e atuam na comunidade do Dendê, Pixunas e outras localidades. 
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Segundo a denúncia, as vítimas são ameaçadas pelos grupo criminoso com o uso de armamento pesado, incluindo fuzis, e obrigados a pagar taxas semanais de R$ 150. A partir do pagamento, os motoristas seriam incluídos em cooperativas. Os grupos seriam chamados pelos criminosos de "Cooperativa do Crime" e "Cooperativa da Extorsão". 
"Duas vítimas procuraram a Polícia Civil narrando que foram sequestradas por um grupo de criminosos armados, fortemente armados, que tiraram foto deles, filmaram, anotaram os dados pessoais, ou seja, cadastrou e fichou os motoristas e exigiram um pagamento semanal de R$ 150 reais sob pena de morte, sob pena de não poderem trabalhar na Ilha, se não, morreriam", contou o promotor Salvei Lai, em entrevista ao O DIA.
O promotor explica ainda que um dos casos investigados pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) apura a morte de um motorista na Ilha. Essa vítima teria se negado a pagar a taxa exigida pelo grupo criminoso. 
"A Delegacia de Homicídios da Capital tem um registro de desaparecimento de um dos motoristas. Neste registro de ocorrência, a família alega que essa vítima, que era motorista, se recusava a pagar essa semanada, mas a investigação ainda está em fase preliminar. Temos que nos aprofundar para constatar a veracidade da alegação", disse.
Os alvos dos pedidos de prisão enviados à 5ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça são Mario Henrique Paranhos de Oliviera, conhecido como Neves ou Nem e apontado como mandante das ações; Marlom Rodrigues Chieregatto dos Santos, o ML ou Marreco; Leonardo Rodrigues Pereira, o Dogão; Leonardo Alves dos Santos, Valoroso ou Pavora; e Anderson Alves dos Santos Barbosa. 
A lista é finalizada com Claudio da Rosa Gomes da Silva Carvalho (Nhonho) e Mario Henrique Paranhos de Oliveira, que tiveram seus pedidos de prisão enviados para a 35ª Vara Criminal.
Conforme a investigação conduzida pela promotoria, os criminosos já praticavam a cobrança de taxas para taxistas e mototaxistas, mas expandiram a extorsão incluindo os motoristas de aplicativos. A partir do pagamento, essas vítimas eram obrigadas a colocar um adesivo que identifica os motoristas inseridos na cooperativa. 
"O esquema é antigo e já existe na Ilha do Governador há mais de 10 anos. Só que isso ocorria com as vans, mas agora houve um upgrade, houve a expansão para um mercado ainda não explorado, que é o dos motoristas de aplicativo. As denúncias surgem a partir de dezembro do ano passado", revelou Lai. 
O promotor relacionou a ação dos criminosos alvo da denúncia com a praticada por antigas lideranças do tráfico na região, como Fernando Gomes de Freitas; vulgo Fernandinho Guarabu, e Gilberto Coelho de Oliveira, vulgo Gil. Líderes do tráfico de drogas no Dendê e em outras comunidades na região, a dupla se associou com o miliciano Antônio Eugênio de Souza Freitas (Batoré), para juntos explorarem o transporte alternativo na região.
Os três foram mortos juntos, em 2019, durante uma operação policial realizada para detê-los, quando resistiram à prisão.
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