Publicado 05/07/2024 11:42
Rio - Embaixadores do Gabão e de Burkina Faso foram chamados ao Itamaraty, em Brasília, na manhã desta sexta-feira (5) para receber um pedido formal de desculpas do Governo brasileiro. Os diplomatas são pais de dois dos adolescentes que sofreram uma abordagem considerada truculenta e racista da Polícia Militar em seu primeiro dia de férias no Rio de Janeiro. Quatro jovens foram recebidos no fim da manhã desta sexta-feira (5) pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (CDDHC). A Polícia Civil investiga o caso.
PublicidadeO Ministério das Relações Exteriores anunciou durante a reunião com os pais dos adolescentes que vai acionar o Estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem. O Itamaraty acrescentou que vai entregar uma carta idêntica em mãos, ainda nesta sexta-feira, ao Embaixador do Canadá.
Os adolescentes, três deles negros e estrangeiros, e a avó de um deles, que está responsável pelos jovens durante a visita à cidade, foram acolhidos pela comissão neste primeiro momento. A presidente da CDDHC, deputada estadual Dani Monteiro, afirmou que vai questionar a Polícia Militar em ofício sobre quais medidas serão tomadas, se os agentes envolvidos responderão a processo administrativo disciplinar e quais protocolos são adotados para garantir a segurança das vítimas e familiares.
"É inaceitável que abordagens racistas ainda ocorram no Rio de Janeiro a partir das forças de segurança. Este é mais um exemplo das experiências diárias enfrentadas por jovens negros no estado", disse Dani Monteiro.
"É inaceitável que abordagens racistas ainda ocorram no Rio de Janeiro a partir das forças de segurança. Este é mais um exemplo das experiências diárias enfrentadas por jovens negros no estado", disse Dani Monteiro.
Após a veiculação da notícia pela imprensa, a Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat) iniciou a investigação. Neste momento, agentes buscam identificar os jovens e testemunhas estão sendo ouvidas. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) colabora com a investigação.
Uma câmera de segurança registrou o momento, na noite de quarta-feira (3), quando uma viatura se direciona ao grupo de jovens de maioria negra na Rua Prudente de Morais, em Ipanema. Dois policiais militares saem do carro com armas em punho e iniciam a abordagem dos adolescentes. Os policiais mandam os jovens encostarem na parede e revistam cada um. Eles só foram liberados após um adolescente brasileiro dizer que os demais eram estrangeiros e estavam no Rio a turismo.
O caso veio à tona após a mãe do brasileiro relatar a ocorrência nas redes sociais. Na tarde de quinta-feira, Rhaiana Rondon contou que a viagem foi planejada há meses pelos amigos.
"Quatro adolescentes de 13 e 14 anos, acompanhados dos avós de um deles, experienciaram a pior forma de violência", desabafou. Rhaiana relatou que os PMs disseram para que os jovens tomassem cuidado quando andassem na rua, pois seriam abordados novamente. Além dos quatro turistas, o primo de um deles, que mora no Rio, também sofreu a abordagem.
"Não há dúvida: a abordagem foi racial e criminosa. Há anos frequentamos o Rio e nunca presenciei nada parecido no quadradinho privilegiado de Ipanema com meus filhos. É um lugar aparentemente seguro. Depende pra quem! Antes da viagem, fiz inúmeras recomendações, alertas e conselhos de mãe preocupada: 'Não ande com o celular na mão, cuidado com a mochila, não fiquem de bobeira sozinhos'. Pensei em diversas situações, mas jamais que a polícia seria a maior das ameaças", escreveu.
Rhaiana ressaltou que todos estão assustados com o ocorrido e que o incidente envolveu quatro países: França, Canadá, Gabão e Burkina Faso. O Itamaraty informou que acompanha o caso e "busca averiguar as circunstâncias do ocorrido para eventual tomada de providências".
O que diz a PM?
A Polícia Militar informou que os agentes envolvidos na ação usavam câmeras corporais e que as imagens serão analisadas para constatar se houve algum excesso.
A corporação destacou que insere nas grades curriculares de todos os cursos de formação, como prioridade, disciplinas como Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e Leis Especiais.
O órgão reforçou que a ouvidoria está à disposição dos cidadãos que se sentirem ofendidos para a formalização de denúncias através do telefone (21) 2334-6045 ou e-mail ouvidoria_controladoria@pmerj.rj.gov.br.
A Corregedoria Geral da PM também pode ser contatada através do telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo site cintpm.rj.gov.br. O anonimato é garantido.
A corporação destacou que insere nas grades curriculares de todos os cursos de formação, como prioridade, disciplinas como Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e Leis Especiais.
O órgão reforçou que a ouvidoria está à disposição dos cidadãos que se sentirem ofendidos para a formalização de denúncias através do telefone (21) 2334-6045 ou e-mail ouvidoria_controladoria@pmerj.rj.gov.br.
A Corregedoria Geral da PM também pode ser contatada através do telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo site cintpm.rj.gov.br. O anonimato é garantido.
Já o Governo do Rio afirmou, em nota, que não admite nenhum tipo de comportamento preconceituoso de qualquer ordem e destacou as investigações em andamento por parte das polícias Civil e Militar.
"A Polícia Civil, por meio da Delegacia Especial de Atendimento ao Turismo, iniciou uma investigação tão logo soube do caso pela imprensa, com diligências imediatas, ouvindo testemunhas e buscando a identificação dos jovens. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância está colaborando com a investigação. No âmbito da Polícia Militar, a 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, subordinada à Corregedoria-Geral da PM, está fazendo uma rigorosa apuração dos fatos, com análise de imagens de câmeras e depoimentos de testemunhas", comunicou.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.