Luana frequentemente leva Otto para passeios na natureza e incentiva brincadeiras ao ar livreArquivo pessoal
Publicado 07/07/2024 06:00
Brincar, correr, pular e se divertir são atividades típicas da infância. Mas, em um mundo cada vez mais conectado, smartphones, televisões, tablets e videogames tomam conta da rotina. Com a chegada das férias escolares, os pais enfrentam um desafio ainda maior: limitar o tempo de tela dos filhos. É comum que, sem as obrigações escolares, crianças e adolescentes passem horas em frente a esses dispositivos, cenário que representa um risco tanto para a saúde física quanto mental. Assim, encontrar alternativas para preencher a rotina das crianças se torna uma preocupação constante para os responsáveis.
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Visando o bem-estar do filho, Luana Menezes, psicóloga e mãe de Otto, de 2 anos e 9 meses, conta que ele assiste à televisão quase todos os dias por pouco tempo. "Ele interage muito menos e, em alguns momentos, apresenta maior irritabilidade quando falamos com ele enquanto está assistindo à TV, assim como quando a desligamos", pontua. Para balancear, Luana frequentemente leva Otto para passeios na natureza e incentiva brincadeiras ao ar livre, além de ter livros acessíveis em casa para promover a leitura e atividades diversas como dançar e pintar.
Luana também destaca que "como as telas oferecem muitos estímulos, a liberação de dopamina atinge o ápice que nenhuma outra atividade proporciona". Isso resulta em maior irritabilidade quando o tempo de uso das telas termina. "A imaginação e a criatividade são reduzidas porque as telas já oferecem pronto", explica.
Para as férias, Luana planeja priorizar passeios ao ar livre e atividades culturais. Ela acredita que é importante a atenção e o afeto para as crianças. "Crianças precisam e desejam atenção e amor, assim como nós adultos, mas parece que nos esquecemos disso. Esses são os maiores bens que podemos proporcionar a elas", afirma.
A psicóloga e diretora da Minime Educação Infantil, Diana Quintella, destaca a importância de incentivar crianças e adolescentes a se afastarem das telas por meio de atividades práticas e diversificadas. Ela sugere "brincadeiras ao ar livre, passeios em família, jogos de tabuleiro, esportes, pinturas/desenhos e até mesmo a leitura" como alternativas que podem ajudar as crianças a esquecerem os aparelhos eletrônicos.
Diana ressalta que o excesso de tempo diante das telas pode interferir em atividades essenciais como brincar, exercitar-se e interagir socialmente. "A criança que passa muito tempo diante de telas deixa de fazer coisas que ela precisa para se desenvolver de maneira saudável", pontua.
Além disso, ela destaca que o uso excessivo de telas pode levar a uma série de problemas, como menos flexibilidade para lidar com situações desafiadoras, impaciência, irritabilidade, sono prejudicado e dificuldades de interação e comunicação. Quintella afirma que "a brincadeira é o fazer da criança". "É através dela que a criança descobre o mundo, elabora dúvidas, medos e inseguranças. O adulto não precisa incentivar a criança a brincar, basta permitir que ela brinque", diz.
Ela salienta que é crucial discutir e estabelecer limites para o uso das telas dentro das famílias, reconhecendo que isso pode gerar conflitos, mas insistindo na necessidade de ser firme com esses limites. Para crianças maiores, é útil conversar sobre os malefícios do uso excessivo, enquanto para as menores é importante oferecer outras alternativas.
Quintella recomenda estratégias práticas, como usar uma música ou uma ampulheta para sinalizar o momento de sair da tela, combinando isso previamente com a criança. Ela destaca que o comportamento dos pais é fundamental, pois "nada educa mais que o exemplo". Os pais devem ser modelos ao limitar seu próprio uso de dispositivos eletrônicos. Além disso, destaca que é importante "deixar a criança ser criança". "Permitindo que ela brinque livremente, que se suje, que faça bagunça, que descubra o mundo através das próprias experiências, que são muito mais interessantes que as experiências vividas por outras pessoas e relatadas nas telas", diz.
'O uso excessivo de telas atrapalha o desenvolvimento psicomotor das crianças', diz médico
Segundo o presidente do Grupo de Trabalho Mídias Sociais em Pediatria da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ), Eduardo Jorge da Silva, "o uso excessivo de telas atrapalha o desenvolvimento psicomotor das crianças. Até dois anos, é sugerido que as crianças não tenham nenhum tipo de contato com telas. É importante que elas tenham atividades lúdicas, que elas usem os cinco sentidos, tão ideal que elas andem, corram, brinquem e não utilizem telas. A partir de então, a gente escalonadamente vai liberando esse uso de telas", analisa.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição às telas eletrônicas, por qualquer período, não é recomendada para crianças menores de dois anos.
Eduardo destaca que, para a saúde e desenvolvimento, é crucial que as crianças tenham a oportunidade de correr, pular, brincar, dançar e interagir, pois a falta dessas atividades pode prejudicar o desenvolvimento psicomotor e social. "Em termos de saúde e desenvolvimento, o desenvolvimento psicomotor fica travado se as crianças não tiverem a possibilidade de correr, pular, brincar, dançar e interagir. Então, o desenvolvimento social também pode ficar alterado. Alterações em termos de saúde, obesidade, sedentarismo: a criança que fica muito tempo parada vai ter problemas relacionados a isso. Você tem, principalmente, com o uso de mídias sociais, questões como depressão, ansiedade e as questões relacionadas às crianças um pouquinho mais velhas. De uma forma geral, o uso excessivo de telas é uma dependência. Nomofobia, fobia de ficar sem o celular, as sensações de não ter pertencimento e uma série de questões relacionadas a isso", explica.
Para as crianças que já desenvolvem uma dependência de telas, ele enfatiza: "Se a criança está dependente, é necessário algum tipo de suporte e algum tipo de tratamento. O apoio psicoterápico é importante e a presença dos pais é fundamental nesse suporte, assim como algumas terapias também. Remédios são a última coisa que devemos utilizar; o tratamento é comportamental", pontua o médico.
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