Alvo da ação, Dibh Pereira Moubayed tinha anotações criminais por tráfico de drogasReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Publicado 09/07/2024 15:40 | Atualizado 09/07/2024 15:47
Rio - A segunda fase da Operação Rota do Rio prendeu operadores financeiros do esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas de facções dos estados do Rio de Janeiro e Amazonas. A ação cumpriu um mandado de prisão contra um dos principais alvos, na Baixada Fluminense, bem como nove em Manaus, entre eles um policial civil, e outros dois em São Paulo. Uma mulher também foi presa em flagrante na capital amazonense. 
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Segundo as investigações, os operadores financeiros eram responsáveis por captar contas bancárias onde eram depositados o dinheiro da compra de drogas e armas. Entre eles, Dibh Pereira Moubayed, que atuava em São Paulo, mas foi localizado em Belford Roxo. A partir das contas, o criminoso lavava o dinheiro por meio das suas empresas de fachada. Segundo o diretor do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD), delegado Gustavo Rodrigues, ele atuava não só para o narcotráfico, como para outras organizações criminosas. 
"Nós tivemos a prisão de um operador financeiro importantíssimo, que atua para 'N' tipos de organizações criminosas. Ele atuava com base em São Paulo, mas a função primordial dele era arregimentar os depositantes de dinheiro em espécie, para que pudesse, através de suas empresas de fachada, e eram dezenas delas, remeter esse dinheiro até a fronteira, para que fossem pagas as drogas e armas. Era um dos operadores financeiros que mais a gente procurava, por ele atuar em diversas frentes. Ele atuava desde a contrafação, na contravenção, com grupos paramilitares, aliados políticos. Era um verdadeiro operador financeiro", esclareceu. 
O delegado titular da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), Jefferson Ferreira, explicou que Dibh e outros operadores financeiros, como o policial civil André Luis Bessa Maia, preso em Manaus, recebiam uma porcentagem em cima das transações financeiras, em troca de captar as contas bancárias. "Ele (Dibh) tinha diversas empresas que utilizava para o fluxo financeiro dessa organização criminosa e era uma espécie de freelancer, que ganhava uma porcentagem em cima das transações financeiras. Não só ele, mas como alvos em Manaus, como esse policial civil, fazendo essa captação de contas bancárias, para servir de pulverização dos valores". 
Além do policial André Luiz, no Amazonas também foram presos sete outros envolvidos no esquema criminoso, entre eles André Luiz Peres de Araújo e Raimundo Lima da Silva. Os demais alvos não foram identificados. Na ação, Anne Beatriz de Lima Pedrosa foi presa em flagrante, em Manaus, com munições. Em São Paulo foram presas duas pessoas, uma delas identificada como Alcides Benedito de Andrade, na cidade de Boituva. No Rio, apenas Dhib foi preso. Os agentes também conseguiram o bloqueio R$ 126 milhões em bens móveis e imóveis dos 26 alvos da operação. 
"Esses operadores são importantes serem desmantelados, até porque nós tivemos experiências recentes no Brasil de como os operadores financeiros são a chave para qualquer esquema de corrupção, de crime organizado, de tráfico de drogas. São um elo que a gente tem para chegar em outros tentáculos", disse Rodrigues. 
As investigações do esquema criminoso levaram quatro anos. "A importância de operações como essa é, justamente, trazer à luz pessoas que figuravam os bastidores do narcotráfico e do tráfico de armas, mas que eram essenciais. Na verdade, eram as principais pessoas, porque, por intermédio delas, a droga chega aqui em atacado, para ser vendida no varejo. E também, para a gente mapear rota, conhecer a rota, da onde vem, quem domina tal rota, onde o cartel tem maior influência, quais locais e quais fronteiras. Nós temos uma extensa área a ser fiscalizada e com o trabalho de inteligência que é extraído dessa investigação, esse trabalho fica um pouco mais facilitado", afirmou o secretário de Estado de Polícia Civil, delegado Marcus Amim. 
"A gente acredita que esse trabalho de rastreio financeiro é primordial, tanto para quebrar a rota de retroalimentação de drogas e armas, quanto para nós conseguirmos, efetivamente, mapear a entrada dessas drogas e armas. Ou seja, através do rastreio reverso, para onde esse dinheiro vai depois que todo esse comércio é realizado, a gente consegue, literalmente, entender de onde vêm as drogas", completou o delegado Gustavo Rodrigues.
Cartel de drogas
Durante a coletiva, os delegados Marcus Amim e Gustavo Rodrigues apontaram o Comando Vermelho do Rio de Janeiro, facção alvo da operação, como um cartel de drogas. De acordo com eles, a denominação ocorre porque o grupo criminoso passou a dominar rotas e fornecimento de drogas tanto dentro do Brasil, quanto em países da América do Norte, Europa, Ásia e África. 
"A grande diferença é esse domínio de rotas, o fornecimento em atacado. Os grandes cartéis têm esse viéis, ou produção e distribuição, ou distribuição da droga, é o que faz hoje esses dois cartéis, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Eles têm o domínio dessas rotas e do fornecimento da droga, tanto para os consumidores domésticos, aqui do Rio de Janeiro, grupo interno do Brasil, como também essa emissão dessa droga para a América do Norte, Europa, Ásia e parte da África, que também serve como entreposto", afirmou Amim. 
Segundo Rodrigues, o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo, foi incluído na lista negra do tesouro americano, a Ofac, para restrições e sanções financeiras nos países signatários de tratados com os Estados Unidos. "O Comando Vermelho se aproxima de também sofrer restrições a nível financeiro internacional nas suas ramificações, o que, obviamente, o impossibilita de fazer diversas outras tratativas financeiras para esses países e continentes", apontou o diretor. 
Operação deixa moradora baleada
A segunda fase da Operação Rota do Rio mirou criminosos na Baixada Fluminense, bem como na Glória, Zona Sul, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, e nas comunidades do Parque União e Nova Holanda, Complexo da Maré, Zona Norte. Na região, a Polícia Civil informou que os agentes foram atacados a tiros e houve confronto. Após os disparos, as equipes encontraram uma mulher baleada na perna, socorrida por um médico da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e levada para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha. 
Por conta do confronto, 24 escolas foram fechadas, uma Clínica da Família interrompeu o atendimento e outra suspendeu as visitas domiciliares. A ação foi realizada pela DCOC-LD, após investigações que analisaram transações entre 2017 e 2022 e apontaram uma estrutura criminosa complexa, com uma divisão sofisticada de tarefas para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. O esquema envolvia depósitos bancários em contas de pessoas jurídicas, localizadas, principalmente, em regiões de fronteira do Amazonas, para ocultar a origem ilícita do dinheiro.
Rota do Rio
A primeira fase da operação Rota do Rio descobriu um dos maiores esquemas de fornecimento de drogas entre as facções Comando Vermelho (CV) e Comando Vermelho do Amazonas (CVAM). As investigações mostraram que a droga era adquirida na fronteira tríplice entre Peru, Colombia, Brasil e escoada do Amazonas em uma rota pelo Rio Solimões, passando pelo Centro-Oesto do país, Minas Gerais, até chegar ao Rio de Janeiro. Já o dinheiro pago pelos entorpecentes fazia o caminho de volta.
Em um período de dois anos, o esquema movimentou cerca de R$ 30 milhões. Para esconder a origem ilícita do dinheiro da compra e venda de drogas, a organização realizava pagamentos de forma pulverizada em contas bancárias para laranjas e empresas. Entre elas, um frigorífico no Amazonas do ex-prefeito de Anamã, Raimundo Pinheiro da Silva, o Chicó, que teve o mandato cassado por abuso de poder econômico. O estabelecimento era usado para a movimentação da droga e recebimento de valores da rota final do tráfico.
Na ação, que ocorreu em 21 de maio, agentes prenderam, no Morro dos Prazeres, Região Central, os agentes prenderam Juan Roberto Figueira da Silva, o Cocão, apontado como uma das lideranças da comunidade e um dos principais responsável pelos roubos de veículos da organização criminosa. As investigações apontaram que os automóveis roubados eram clonados e o dinheiro obtido com as vendas era usado na compra de cocaína e maconha do tipo Skank vindas do Amazonas.
 
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