O Manto Tupinambá é uma vestimenta sagrada, utilizada em rituais e composta por penas de aves nativasReprodução / Internet
Publicado 11/07/2024 14:07 | Atualizado 11/07/2024 22:10
Um manto sagrado para o povo tupinambá retornou ao Brasil após passar três séculos em Copenhague, na Dinamarca. A devolução foi negociada pelo Itamaraty, a embaixada e o governo do país europeu, que guardava a peça. A relíquia, uma vestimenta coberta de penas vermelhas de guará, vai integrar o acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, parcialmente destruído após um incêndio em 2018.
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A chegada do artefato ao país aconteceu em sigilo, devido à um acordo com o governo do país e ele precisará passar por um processo de desinfestação chamada anóxia atmosférica – uma espécie de embalagem à vácuo. Ele ainda passará por rituais com descendentes da tribo antes de ser disponibilizado ao público.
Chamado Assojaba pela etnia, ele é composto por penas de guará – uma ave nativa do país  – e era utilizado em rituais. Para o povo Tupinambá ele representa um encontro entre a dimensão espiritual, o meio ambiente, a economia e a agroecologia e a transmissão de saberes ancestrais.
Ele estava em posse do Museu Nacional da Dinamarca desde 1689. Originalmente a etnia vivia na "Pindorama', (Terra das Palmeiras, como o Brasil era chamado na época), em uma localização próxima à Bahia, quando os europeus dominaram seu território.
Segundo uma publicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) existem outros. Atualmente, sabe-se da localização de dez mantos remanescentes, produzidos durante o período colonial brasileiro. Todos eles se encontram na Europa, em museus Suíça, Bélgica, França e Itália.
Museu comemorou devolução
Em uma postagem na rede social X, o Museu Nacional celebrou a incorporação da relíquia. "É com enorme alegria que o Museu Nacional/UFRJ confirma a chegada do Manto Tupinambá ao Brasil", postou.
Segundo a instituição, a exibição acontecerá em breve. "Nas próximas semanas, em data ainda a ser confirmada, após a adoção de todos os procedimentos necessários para a perfeita conservação dessa peça tão importante, e sagrada para nossos povos originários, apresentaremos o manto a sociedade", destacou.
No entanto, o Museu pediu "paciência" para que os ritos religiosos envolvendo a vestimenta sejam respeitados. "Pedimos a compreensão de todos, pois queremos organizar a apresentação do manto para a sociedade, com todo cuidado e respeito aos saberes dos povos indígenas, com quem estamos trabalhando em harmonia e contato direto, através do Ministério dos Povos Indígenas", ressaltaram.
Entidades solicitam contato com a peça
O Conselho Indígena Tupinambá de Olivença, que representa a etnia a qual pertence o Manto, ressalta pelas redes sociais que a peça representa "um ancião para o nosso povo, aguardado com alegria e emoção", divulgou.
A antropóloga Glicéria Tupinambá conta a importância da relíquia. "Essa peça tem uma espiritualidade viva. É um ancestral que se mantém vivo até os dias de hoje e consegue se comunicar", falou.
Porém questiona a forma como ele chegou ao país. "O Manto retornou ao país, mas ainda não foi recepcionado pelo nosso povo de acordo com as nossas tradições", disse.
A organização ainda fez um apelo à administração do Museu. "Solicitamos que o Museu Nacional do Rio de Janeiro retifique de acordo com o protocolo que será elaborado pelo Cito, em conformidade com o povo tupinambá".
Glicéria ainda explicou como ele deve ser recepcionado. "O pajé precisa acolher esse ancestral. Não é um objeto de arte, admiração, é um objeto de espiritualidade muito forte, que precisa ser cuidado", ressaltou.
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