Anna Carolyne Bernardo da Silva, de 27 anos, morreu em setembro de 2023Arquivo Pessoal
Publicado 22/07/2024 19:23 | Atualizado 22/07/2024 19:41
Rio - O Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) denunciou Magno Gomes dos Santos, de 30 anos, pela morte de sua companheira, Anna Carolyne Bernardo da Silva, de 27 anos, ocorrida em setembro de 2023, em Inhaúma, na Zona Norte. De acordo com as investigações, o homem deu quatro facadas na clavícula da mulher dentro da casa onde moravam. O acusado alegou que quis fazer uma traqueostomia depois da vítima convulsionar em casa.
Publicidade
O promotor Alexander Araújo de Souza apresentou a denúncia à Justiça do Rio no dia 1º de julho. De acordo com o documento, Magno cometeu o crime com vontade livre e de maneira consciente. Ele ainda agrediu a vítima com socos no rosto no quintal da casa, localizada na região das Casinhas, no Complexo do Alemão.
Para o promotor, o crime foi praticado contra a mulher em contexto de violência doméstica e familiar, pois o denunciado era casado com a vítima, se relacionando com ela por seis anos. Souza ainda solicitou a prisão preventiva do acusado.
"Não se desconhece que a gravidade dos delitos em abstrato, por si só, não basta para a decretação da custódia cautelar do denunciado. Não obstante, a forma de execução do crime de homicídio duplamente qualificado, sobretudo pelo meio cruel que causou desnecessário sofrimento físico na vítima, provoca inegável repercussão e clamor público, abalando a ordem pública. Isto, sem dúvidas, exige resposta à altura por parte do Poder Judiciário, com a consequente decretação da prisão preventiva do denunciado Magno Gomes dos Santos, a fim de garantir a ordem pública, preservar o próprio prestígio da atividade jurisdicional, impedir a reiteração criminosa e eliminar o sentimento de impunidade", escreveu.
A advogada Vanessa Gonçalves, que representa a família da vítima junto com Leonardo Barreto, comemorou o avanço do caso. 
"É uma mudança radical no cenário. Foi revertida totalmente a situação. Foi uma luta muito grande em busca da justiça, que está só no começo", comentou.
De acordo com a defesa, a denúncia ainda está sendo analisada pela Justiça do Rio.
Relembre o caso
A morte de Anna aconteceu no dia 14 de setembro do ano passado. Ela deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Del Castilho, também na Zona Norte, em estado gravíssimo com quatro perfurações na região da clavícula, ferimentos na cabeça e no rosto, além de hematomas nas costas e um corte profundo no pescoço.
Em depoimento no mesmo dia da morte, Magno alegou aos policiais que a mulher teve uma convulsão em casa e ficou sem respirar. Ele contou que ficou desesperado e tentou reanimá-la, desferiu tapas nas costas da mesma e fez furos na traqueia para ela poder respirar. O suspeito ainda disse que Anna caiu de costas subitamente após passar mal, começou a tremer e espumar pela boca. Por isso, ele teria pego uma faca e tentado perfurar sua traqueia para ajudar na respiração.
No seu segundo depoimento, o suspeito confirmou que perfurou mais uma vez o corpo da mulher porque a primeira facada não deu o resultado que ele esperava, que era de facilitar a sua respiração naquele momento. Ele ainda alegou que as escoriações e hematomas encontradas no crânio e no rosto devem ter sido provocadas pela queda.
O caso foi registrado na 22ª DP (Penha). No decorrer das investigações, os policiais colheram depoimentos de amigas e familiares próximos da vítima, que alegaram Anna não parecia confortável no relacionamento e que o suspeito apresentava um comportamento abusivo e controlador. Um desses episódios foi presenciado por Cristiane Bernardo, mãe da recepcionista, dias antes de sua morte.
"Dias antes eu comecei a me sentir meio incomodada com algumas coisas que eu estava percebendo. Eu tirei minha total dúvida no dia anterior de sua morte. Ela ficou sem celular e precisou fazer uso do meu. Ao fazer uso, eu percebi a insistência dele ligar para ela e falar com ela. Ela passou quase 12h comigo e ele ficou ligando o tempo inteiro. Eu cheguei e falei com ela 'Você veio ficar comigo ou para ficar falando com ele?' Ele criou um grupo dizendo que ela ia ficar trancada. Ele oscilava e pedia desculpas. Aquilo me incomodou. Eu disse que ia esperar ela ficar com o telefone e marcar com ela para conversar, mas tinha medo de ligar para ela e ela colocar no viva voz. Só que não deu. Isso não ocorreu porque infelizmente ela morreu", contou ao DIA na época.
Em 10 de outubro de 2023, a Polícia Civil representou pela prisão temporária do suspeito, alegando que Magno não possui treinamento na área de saúde para dizer que o procedimento feito era adequado; que ele entrou em contradição ao descrever o número de perfurações; que o laudo de necropsia concluiu que a morte da vítima foi causada pelas facadas; e que havia certeza da prática do crime de homicídio qualificado na forma consumada, no mínimo, em dolo eventual.
No mesmo dia, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) concordou com o pedido de prisão temporária. Contudo, a Justiça negou, pois, segundo a juíza de plantão, ainda havia elementos a serem comprovados.
A 22ª DP indiciou o homem em janeiro deste ano pelo crime de feminicídio e voltou a pedir a sua prisão. 
Laudo ajudou investigações
Para responder as dúvidas da Justiça e auxiliar na investigação, os advogados Leonardo Barreto e Vanessa Gonçalves entregaram um parecer médico-legista ao laudo médico pericial assinado pelo perito Fernando Esbérard.
O documento que o DIA teve acesso apontou incongruências e contradições nos depoimentos de Magno na delegacia. Tais fatos seriam uma justificativa para as agressões que teriam sido cometidas pelo suspeito. Ele teria tentado ocultar um crime alegando que tentou fazer uma traqueostomia na mulher, segundo o parecer do perito.
Esbérard ainda escreveu que o homem era ex-paraquedista do Exército e tinha conhecimento sobre como matar uma pessoa com uma faca, além de ter instrução em primeiros socorros. O parecer ressalta que ambos os treinamentos e o fato de todas as lesões estarem próximas "são mais um indício de que o autor tinha plena consciência do que estava fazendo".
A reportagem ainda não localizou a defesa de Magno. O espaço está aberto para manifestação.
Leia mais