Nomes de jovens vítimas da violência no Estado foram colocados na escadaria da igrejaReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicado 23/07/2024 11:02
Rio - O movimento "Candelária Nunca Mais" reúne, nesta terça-feira (23), familiares e amigos de vítimas da violência do Estado em frente a Igreja da Candelária, no Centro, onde, há 31 anos, oito crianças e adolescentes foram assassinados pela Polícia Militar. A ação, que acontece desde 2011, inclui uma programação especial e luta para que essas mortes não sejam esquecidas e para que novas tragédias sejam evitadas.
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Os organizadores prepararam, na noite desta segunda-feira (22), uma vigília em frente a Igreja da Candelária. Ao longo desta manhã, a programação seguiu com uma lavagem da escadaria, missa, caminhada na Avenida Rio Branco e por fim, com atividades culturais na igreja.
O "Candelária Nunca Mais" surgiu como uma resposta direta ao sofrimento dessas famílias. O movimento é composto por pais, mães, irmãos e amigos das vítimas, que se uniram em uma rede de apoio. Por meio de manifestações, vigílias, eventos educativos e ações, a organização trabalha para manter viva a memória das vítimas e buscar por respostas e responsabilização.
"A gente traz a memória para que essas histórias não se repitam. Nós abrimos a programação ontem com a vigília porque as mães têm o direito de ter esse momento para elas. Foi um momento muito simbólico e hoje tivemos a lavagem com a família de todos os meninos, não só da candelária, mas todos que foram mortos pela violência. Os nomes foram colocados na escadaria e pedimos paz e justiça para essas crianças e esperança, para os meninos que estão nascendo", explicou a fundadora do movimento, Fátima Silva.
Mãe do jovem Deyvison Felix, que foi morto durante uma ação policial em 2021, Marinete Félix, de 55 anos, participou do ato e falou sobre o sofrimento de perder um filho para a violência. "Meu filho morreu com 18 anos e se ele tivesse vivo, ele estaria com 21. Até hoje, eu sinto essa dor, ela não passa de jeito nenhum. Nós mães, sofremos ainda mais. Ele foi mais uma vítima da violência do Estado", contou em entrevista ao DIA.
A aposentada Sônia Maria de Araújo, irmã do sobrevivente da chacina Wagner dos Santos, luta para que mortes como as dos oito meninos e rapazes assassinados não se repitam. Ao DIA, ela falou sobre a importância da data.
"Esse dia é muito importante pra gente porque estamos lutando para que novas chacinas não aconteçam e mesmo assim continua acontecendo, imagina se a gente não lutar? A gente liga TV e é desgraça todo dia, fora o que nem é mostrado. Isso tudo é muito triste porque ninguém tem direto de tirar a vida de ninguém, mas infelizmente existem pessoas arrogantes e prepotentes que acham que podem. A gente luta para que o estado dê mais oportunidades aos pretos que moramemcomunidades", contou.
Chacina da Candelária
No dia 23 de julho de 1993, pouco antes da meia-noite, um táxi e um Chevette com placas cobertas parou em frente à Igreja da Candelária, no Centro do Rio. Em seguida, os ocupantes atiraram contra dezenas de pessoas, a maioria adolescentes, que estavam dormindo nas proximidades da igreja. Posteriormente, nas investigações, descobriu-se que os autores dos disparos eram policiais militares. Além das vítimas fatais, várias crianças e adolescentes ficaram feridos.
O crime teria acontecido porque, no dia anterior, os meninos jogaram pedras em um carro da Polícia Militar. As vítimas fatais tinham entre 11 e 19 anos. Já um dos sobreviventes dos disparos, que atuava como guardador de carros da região, foi uma peça chave nas investigações.

Em homenagem às vítimas, há em frente à igreja um pequeno monumento que relembra a chacina. Ele é constituído por uma cruz de madeira, que tem inscrito os nomes dos jovens assassinados, e uma placa de concreto.

Após 31 anos da chacina, todos os policiais investigados pelo crime estão soltos. Ao todo, dois PMs e um ex-policial foram condenados pelo massacre, todos com penas que superam os 200 anos de prisão. O agente Nelson Oliveira dos Santos cumpriu pena até sua extinção, em 2008. Já o PM Marco Aurélio Dias de Alcântara e o ex-PM Marcus Vinícius Emmanuel Borges cumpriram suas penas até receberem indultos em 2011 e 2012, respectivamente.
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