Peixes apareceram mortos na Lagoa de Piratininga, na área do mirante do Parque OrlaGabriel Rechenioti / Agência O Dia
Publicado 25/07/2024 12:48 | Atualizado 28/07/2024 12:36
Rio - O crescimento na quantidade de peixes mortos na Lagoa de Piratininga, em Niterói, tem preocupado  ambientalistas e frequentadores do local, nas proximidades do mirante do Parque Orla, na Região Oceânica. Muitos relatam que avistam com frequência diversos animais mortos, boiando em cima de lodo.
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As fotos mostram os peixes mortos com lixos próximos, o que contribui para concluir que a poluição tem sido prejudicial para a manutenção da vida na água. Gustavo Sardenberg, um dos representantes do projeto SOS Lagoa, que luta pela proteção das lagoas de Piratininga e Itaipu, explica que essas mortandades são recorrentes, em razão dos poluentes na água.

"O problema é a água com esgoto que escorre na lagoa, aumentando o processo de eutrofização, que acaba com o oxigênio da água, aumenta a temperatura e sufoca os peixes. Só em 2023, registramos cinco grandes ocorrências de mortandades, isso porque não costumamos contabilizar essas mais específicas", detalha.

A poluição da lagoa foi constatada pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), responsável pela gestão, no último monitoramento, realizado no dia 2 de julho: "Os resultados indicaram valores fora dos padrões esperados, o que pode indicar uma possível contaminação por efluente sanitário. Essa condição pode fazer com que haja aumento de microorganismos no meio, consumindo a matéria orgânica e, consequentemente, o oxigênio", informou o órgão, em nota.
Renda de pescadores prejudicada com mortandade

Gustavo Sardenberg aponta para o bloqueio do túnel do Tibau, que liga a Lagoa de Piratininga ao mar, como outro problema causador da poluição e, consequentemente, das mortes. A passagem, construída em 2008, desmoronou pela primeira vez em 2018, e, desde então, não foi desobstruída. Um ano depois, em 2019, a prefeitura de Niterói investiu R$ 1 milhão em uma obra de contenção, que desmoronou em 2021.

"A água do mar só chega na lagoa quando está com uma ressaca muito forte, fora isso, a passagem é bloqueada, e ela só acaba sendo abastecida pelo canal de Itaipu. O mar proporciona uma sobrevida à lagoa, levando mais peixes e melhorando o estado de água. Ainda entram alguns peixes, mas nada como antes. Quando o túnel estava aberto, os pescadores trabalhavam muito. O camarão daqui, por exemplo, é muito bom, e garantia a eles uma boa renda", explica o ambientalista.

Questionada sobre a previsão para novas intervenções no túnel do Tibau, a prefeitura informou que, "apesar desta ser uma obra de responsabilidade do estado", a permissão para realização do projeto foi solicitada ao Inea. "O planejamento já foi concluído, e a obra será licitada em breve", finaliza a nota.

Luiz Mendonça, presidente da Associação dos Pescadores e Amigos da Lagoa de Piratininga (Apalap), reforça o sofrimento da classe com a situação da água. "A mortandade impacta diretamente na renda dos pescadores, já que camarões, siris, tilápias e várias outras espécies de peixes estão morrendo constantemente. Assim, o pescador precisa trabalhar de outra forma para sustentar a família", lamenta.

Muitos desses pescadores vão trabalhar na Lagoa de Itaipu, que é ligada à de Piratininga, mas as dificuldades continuam os perseguindo. "Lá, quando a maré está baixa, o canal fica muito assoreado, e, quando está alta, não conseguimos utilizar a ponte para pescar. Então, fica muito complicado", relata Mendonça.

O Inea ainda ressaltou que a gestão de limpeza da Lagoa é responsabilidade da prefeitura de Niterói. Questionada pela reportagem sobre a data da última manutenção, a Prefeitura de Niterói afirma que vem trabalhando para solucionar os efeitos da desobstrução do túnel do Tibau e a poluição da Lagoa de Piratininga.
"O assoreamento, que ocasiona a mortandade de peixes, é uma das consequências da interrupção do fluxo de água entre a Lagoa de Piratininga e o mar. O túnel do Tibau foi construído pelo Governo do Estado, mas a Prefeitura está desenvolvendo o projeto para estabilização estrutural do local. Nos últimos anos, a Prefeitura vem realizando constantes ações para recuperar o sistema lagunar", diz um trecho da nota.
Além disso, segundo a prefeitura, a Companhia de Limpeza de Niterói (Clin) recolhe, sempre que necessário, os peixes que boiam para as bordas. 
"É importante ressaltar que o trabalho de gestão das lagoas que possuem contato com o mar é de competência legal do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que construiu esse túnel que faz a ligação lagoa-mar, em 2008. Em complemento, a Prefeitura oferece toda a ajuda necessária para restabelecer a qualidade da água na Lagoa de Piratininga, já que o sistema lagunar da Região Oceânica tem uma gestão compartilhada entre o Município de Niterói e o Governo do Estado desde 2013", concluiu.
*Reportagem do estagiário Gabriel Rechenioti, sob supervisão de Marcela Ribeiro. 
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