O policial e o material apreendido foram encaminhados à Corregedoria Geral da Polícia Civil, no CentroReginaldo Pimenta/Agência O DIA
Publicado 01/08/2024 08:16
Rio - Um policial civil lotado na 24ªDP (Piedade) foi preso, nesta quinta-feira (1º), durante uma operação contra um grupo criminoso que forjava falsos registros de roubo de veículos para obter indenizações de seguradoras. Na ação, também foi detido um ex-funcionário de uma prestadora de serviços de automóveis, que inclusive já administrou o Pátio Legal da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA).
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Segundo investigações, além da dupla, participa do esquema um empresário do ramo de veículos. Contra ele, foi cumprido um mandado de busca e apreensão nos municípios de Barra do Piraí, Niterói e Benfica. Nos endereços foram apreendidas armas, munições e aparelhos celular.
O agente foi detido enquanto estava de plantão na delegacia. Enquanto o ex-funcionário foi encontrado em casa. A ação realizada pela Corregedoria Geral da Polícia Civil contou com apoio Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio (Gaeco). O objetivo era o cumprimento dos mandados de prisão temporária e quatro de busca e apreensão referente à prática dos crimes de associação criminosa, inserção de dados falsos, estelionato e peculato.
Entenda o esquema

Segundo o MPRJ, o policial inseriu 173 ocorrências de roubo de veículos das 471 registradas pela 24ª DP (Piedade) no ano de 2023. "A representação pela prisão destaca que um único agente, que tem uma escala na qual trabalha um dia e folga três (escala de 24hx72h), confeccionou aproximadamente 37% das ocorrências de roubo de veículo".

Ou seja, o agente realizou mais de 50% dos registros nos meses de outubro e dezembro de 2023. Além disso, ele teria feito ocorrências até mesmo nas suas férias. De acordo com o apurado, ocorrências também eram confeccionados sem a presença física da suposta vítima, inclusive com falsificação de assinatura.

Já o ex-funcionário, com livre acesso à Cidade da Polícia (Cidpol), era o responsável por intermediar a negociação criminosa com proprietários de veículos interessados em realizar o "tombo de seguro", além de, algumas vezes, ser ele quem recebia os automóveis no próprio pátio da DRFA.
De acordo com a Corregedoria da Polícia Civil, ao menos quatro falsas comunicações de roubos de veículos, onde os proprietários confessaram todo o esquema fraudulento. A ação do grupo criminoso agia inclusive aumentando o índice dos marcadores de roubo de veículo no estado do Rio.
Segundo o Delegado Pedro Casaes, os proprietários nem compareciam à delegacia para registrar a ocorrência.

"Essa vítima era angariada, muita das vezes passando por problemas financeiros, e registrava uma ocorrência sem ir a delegacia. O policial sabedor do veículo dela, dos dados, fazia esse registro e o veículo era entregue a um falso perito, que era um cidadão comum, com acesso a Cidade da Polícia por já ter trabalhado há muito tempo no pátio legal".

O delegado explicou ainda como funcionavam os acordos. "Essa pessoa que se passava como um perito marcava a negociação no pátio da DRFA para dar uma segurança maior às vítimas. Apuramos também que os proprietários entregavam o veículo a uma terceira pessoa, que levava na Cidpol, para darem um destino ilícito a esses carros que não teriam sido roubados. Provavelmente, ali era só um ponto da entrega para que fossem requentados e talvez entrassem no mercado de novo", disse.

Casaes reforçou que a participação de outros policiais também está sendo investigada. "A gente apurou que ele fazia a grande maioria de ocorrências de roubos de veículos, então temos aí vários registros para investigar. Estamos apurando ainda se há atuação de outros policiais, quem são os receptadores, o delegado até então tinha 0 participação nesse esquema. Os próximos passos são identificar os demais autores, outras pessoas que tenham entregue o veículo, realizado o boletim de ocorrência e prosseguir a investigação", relatou.

Já a promotora do Ministério Público, Laura Minc, esclareceu que o Gaeco atua em apoio à Corregedoria em razão da complexidade e da possibilidade de envolvimento de outras autoridades. Segundo ela, o agente já vinha sendo monitorado e a relação dele com os demais investigados ficou clara.

"Ele estava sendo monitorado e atuava já há um tempo na 24ªDP. Durante as investigações, ficou claro a relação do policial com o empresário. Eles se dizem amigos pessoais. Houve ainda análise bancárias de ambos e há cruzamento de informações com saques e transferências entre eles. O celular dele já foi apreendido, mas ainda será periciado", explicou.

Até a manhã desta quinta (1º), o policial ainda não havia prestado depoimento e aguardava o comparecimento do seu advogado.

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