Trabalhadores da Fiocruz penduraram faixas e cartazes na passarela da Avenida BrasilRenan Areias/Agência O Dia
Publicado 01/08/2024 10:39
Rio - Funcionários da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizam uma paralisação de 24 horas, nesta quinta-feira (1º), reivindicando reajuste salarial. A medida foi decidida em uma assembleia com a presença de mais de 700 trabalhadores, na última segunda-feira (29), e também estabeleceu que os serviços considerados essenciais sejam mantidos durante o período, por servidores e terceirizados. O grupo volta a se reunir na sexta-feira (2), às 13h30, para deliberar sobre a continuidade da greve. 
Publicidade
No início da tarde, trabalhadores realizaram uma manifestação na sede da Fiocruz, em Manguinhos, na Zona Norte. O grupo estava exibindo cartazes pedindo por recomposição salarial e seguiu para a Avenida Brasil, onde ocuparam uma passarela e penduraram cartazes com as reivindicações. Para o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz (Asfoc), Paulo Garrido, o reajuste representa a valorização do trabalho dos profissinais da instituição com a saúde da população. 
"O que os servidores e servidoras da Fiocruz querem é um acordo que reconheça o papel que nós cumprimos de cuidar da saúde de todos os brasileiros e brasileiras, desde o tubo de ensaio até a vacina no braço. O ato de hoje é consequência da decisão dos trabalhadores em assembleia, depois que as negociações do sindicato e da presidência da Fiocruz na mesa com o MGI não evoluíram conforme a comunidade esperava", afirmou o presidente.
Segundo o Asfoc, o movimento pretende pressionar representantes do Ministério de Gestão e da Inovação (MGI) a aceitarem melhoria de salários dos 4.404 servidores. O Sindicato destacou que dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam uma corrosão salarial entre 59% e 75% nos últimos anos. Após um ano de negociação, há um impasse com o Governo Federal, por conta da proposta do MGI, que oferece 0% de reajuste em 2024, 9% em 2025 e 4% em 2026, e foi rejeitada por unanimidade na assembleia.
Já a proposta aprovada pelos trabalhadores prevê reajuste de 20% nas cinco folhas salariais que faltam deste ano, 20% no próximo ano e 20% no ano seguinte, e já foi enviada ao ministério. A realização de uma nova mesa de negociação também foi solicitada. O Sindicato também ressaltou que cálculos apresentados à assembleia demonstraram que, após a implementação total do reajuste proposto, haverá impacto total, em três anos, de R$ 907 milhões por ano a mais em relação à atual folha salarial da Fiocruz. 
"O motivo dessa greve é uma perda salarial que poucas vezes registramos na nossa história (...) Os servidores estão tendo que entrar em empréstimos consignados, se endividando. As pessoas tirando filhos da creche, cancelando plano de saúde, ficou um momento insuportável", afirmou Álvaro Nascimento, tecnologista da Fiocruz e membro do Comando de Greve.
O servidor ressaltou que a Fundação atua na produção de vacinas e medicamentos, controle de qualidade de saúde, pesquisa biológica e de saúde pública, bem como nos ensinos a nível técnico e de pós-gradução e tem hospitais e centros de saúde que fazem assistência médica. "Nós estamos em uma perda histórica, precisamos recuperar apenas o que nós ganhávamos. Não é aumento, portanto, é apenas um reajuste para voltarmos a ganhar o que ganhávamos (...) O governo tem que nos ouvir, por tudo o que a Fiocruz entrega à população brasileira, nós não aguentamos mais ter essa corrosão salarial", completou.
A assembleia também aprovou a implementação, em janeiro de 2025, do Reconhecimento de Resultados de Aprendizagem (RRA), já acordado com o governo desde 2015, mas que ainda não ocorreu. Nesta quinta-feira, o presidente da Fundação, Mario Moreira, está em Brasília para discussão da pauta. Em nota, a Fiocruz informou que a presidência e uma comissão de diretores, formada a partir do Conselho Deliberativo têm se reunido desde fevereiro com membros do executivo e legislativo "na defesa dos trabalhadores e da importância da tabela remuneratória e de mudanças nas carreiras dos servidores reflita o reconhecimento de todo o trabalho e dedicação à população brasileira".
A instituição afirmou também que o diálogo com a representação dos servidores tem sido permanente. Na sexta-feira, uma nova assembleia dos trabalhadores ocorrerá para avaliar o resultado das negociações com o ministério e definir a continuidade do movimento, que já discute uma greve progressiva - um dia a mais de paralisação a cada semana. "Caso não haja acordo, pode haver mais paralisações. A diretoria do Asfoc vai continuar buscando o diálogo com o governo para chegar a um acordo digno", disse Paulo Garrido.
Procurado, o Ministério de Gestão e da Inovação informou que a mesa específica para tratativa das carreiras da Fiocruz é uma das 17 abertas com negociações em andamento. A pasta disse também que segue aberta ao diálogo com os servidores de todas as outras áreas, "buscando atender as reivindicações de restruturação das carreiras de todos os servidores federais, respeitando os limites orçamentários" e que, até agora, já foram 28 acordos assinados com diferentes categorias.
*Colaborou Renan Areias
Leia mais