Publicado 02/08/2024 20:14 | Atualizado 02/08/2024 20:41
Rio - Um levantamento do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) registrou a aparição de 749 pinguins no litoral do estado do Rio de Janeiro entre maio e agosto deste ano. O número, oito vezes maior com relação à pesquisa do período de maio a meados de julho do ano passado, abrange as áreas monitoradas pelo PMP, que vão de Paraty, na Costa Verde, até Saquarema, na Região dos Lagos. Mas o que explicaria tamanho crescimento? Especialistas divergem.
PublicidadeMais de 75% (574) destes pinguins foram encontrados mortos, enquanto apenas 175, com vida – parte deles com ferimentos. Os números foram divulgados pela Econservation, empresa responsável pelo monitoramento das praias do Rio.
A bióloga Jéssica Nigro, mestre em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal pela Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta para a dificuldade de encontrar alimentos como uma das razões para o aumento expressivo nos números.
"Estamos passando por um problema gigantesco de sobre-exploração na pesca. A pesca predatória tem impactado a alimentação de toda a cadeia marinha, desde os grandes animais, como tubarões e baleias, até os pinguins. Esse período é bem cansativo para eles, que ficam desabilitados e desidratados quando sobem para a nossa costa. Se não acham os alimentos típicos que estão buscando, esse cansaço só piora", diz.
Jéssica explica que os animais são da espécie Pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus), que costuma se deslocar anualmente, por volta de abril, para a costa brasileira, em busca de alimento e calor. Isso ocorre devido a baixas temperaturas e escassez nas regiões onde vivem, na Patagônia argentina e chilena, e nas Ilhas Malvinas.
Além do problema com a alimentação, a especialista ressalta que a temperatura do oceano habitado pelos animais pode estar ainda mais fria, em razão de um desequilíbrio climático, e que as correntes marítimas e ventos utilizados para a migração também podem ter passado por alterações. "Estes fatores colaboram para o crescimento nos registros. Com isso, é importante reforçar estudos e análises das equipes que atendem essas ocorrências, como o PMP e projetos relacionados", completa.
Idade pode explicar o fato
Já Paula Baldassin, médica veterinária e doutora em oceanografia química com Pinguim-de-Magalhães, vê a explosão no número de casos como algo natural: "Não se compara um ano com outro. A migração é um evento que vem de anos. Temos uma análise temporal, de anos de estudos, que mostra que em alguns anos, eles aparecem por aqui mais do que em outros anos”, observa a especialista, descartando a possibilidade o ser humano ter influência no crescimento no número de pinguins em águas fluminenses: “Não tem ação humana relacionada diretamente com esse fato".
Sobre as condições de saúde adversas de muitos dos bichos, Paula – que integra o Instituto BW para a conservação e medicina da fauna marinha – ressalta que a idade é uma explicação.
"Na grande maioria, eles são juvenis, têm menos de 1 ano. É a primeira vez que estão saindo da colônia para pescar, migrar, conhecer o mar. Então, podem encalhar por diversas razões. E a maioria das patologias que encontramos nesses animais é eles estarem hipotérmicos ou muito magros. E isso acontece porque ainda não sabem pescar, comer corretamente. Então, eles perdem camada de gordura, não mantêm a temperatura corpórea ideal, e chegam hipotérmicos aos centros de reabilitação", afirma.
Pesquisador de pós-doutorado no Laboratório de Ecologia de Aves e Comportamento da Uerj, Caio Missagia também não entende que fatores terceiros possam afetar a rotina migratória dos pinguins: "Não há motivo para pensar que estejam passando por algum desequilíbrio. A menos nenhum diferente dos que já se conhece".
Para explicar o estado debilitado de muitos deles, ele vê apenas uma consequência da migração. “Os encontrados no Rio, em geral, estão oleados ou acometidos por alguma doença, injúria física ou desnutrição. Acontece pelo esforço da migração”, explica Missagia, reforçando, porém, a importância de acompanhar os animais de perto diante da maior incidência no Rio: “É importante continuar o monitoramento para verificar essa tendência ao longo do tempo”.
Somente em julho, houve registros de populares encontrando pinguins nas areias das praias de Cabo Frio, Arraial do Cabo, Saquarema e Rio das Ostras, na Região dos Lagos.
Além disso, fora da área de monitoramento da PMP-BS, como na cidade do Rio e na Região Metropolitana, os animais também foram resgatados no período. Vídeos de pessoas pedindo resgate nas praias de Leblon e Copacabana, na Zona Sul da capital, rodaram as redes sociais, e casos em Niterói e em Itaipuaçu também foram divulgados.
Além disso, fora da área de monitoramento da PMP-BS, como na cidade do Rio e na Região Metropolitana, os animais também foram resgatados no período. Vídeos de pessoas pedindo resgate nas praias de Leblon e Copacabana, na Zona Sul da capital, rodaram as redes sociais, e casos em Niterói e em Itaipuaçu também foram divulgados.
Caso um pinguim seja encontrado encalhado na praia, a equipe de resgate do PMP-BS ressalta que a população não deve tocar neles, utilizar flashes ou devolvê-los à água. As pessoas são instruídas a fazer silêncio, improvisar uma sombra, caso o animal esteja no sol, e ligar para o resgate pelo número 0800-999-5151.
*Reportagem de Luiz Maurício Monteiro e do estagiário Gabriel Rechenioti, sob supervisão de Iuri Corsini
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