Publicado 03/09/2024 00:00
A menopausa, um marco inevitável no ciclo de vida de todas as mulheres, ainda carrega consigo uma série de tabus e desinformações. Assim como a puberdade e a menstruação, ela é parte do ciclo natural feminino, mas os sintomas como ondas de calor, menstruação irregular, distúrbios do sono e diminuição da libido frequentemente passam despercebidos ou são mal compreendidos.
PublicidadeA advogada Darly Maria Baptista, de 60 anos, percebeu os primeiros sinais da menopausa aos 50 anos, quando começou a sentir ondas de calor intensas, algo que nunca havia experimentado antes. "Percebi porque eu nunca fui de transpirar e sentir calor. Eu sentia um calor insuportável e depois um frio. No início, eu sentia muito no durante a noite e passei a transpirar muito nas atividades físicas, o que não acontecia antes. Esses calores passaram a ser constantes, o que provocava um suor desagradável. Além disso, aumentei bastante de peso e estava sempre bem inchada," relatou Darly.
"Essas mudanças de temperatura deixam nosso humor bem alterado," acrescentou.Inicialmente, Darly tentou tratamentos com medicamentos alopáticos, mas não se adaptou bem a eles. Em busca de alternativas, optou por um tratamento com um ortomolecular e começou a tomar chá de amora, o que, segundo ela, tornou sua vida mais leve. Buscando melhorar sua qualidade de vida, Darly adotou novos hábitos, como a prática de lutas, participação em um grupo de corrida e pilates. Ela revisou a alimentação, o que contribuiu significativamente para seu bem-estar: "Mudei também a alimentação. Isso ajudou muito," concluiu.
Para a empresária e artesã no ramo de festas infantis Marília Leão Barbosa, 40 anos, a menopausa começou precocemente aos 39 anos. “Eu venho de um histórico familiar em que minha mãe entrou na menopausa aos 37 anos. Comecei a sentir que tinha muita dificuldade para dormir, acordava com a sensação que eu tinha apanhado a noite inteira, era um cansaço fora do comum", disse.
Marília enfrentou sintomas como cansaço extremo, insônia, formigamento nas extremidades, crises de taquicardia e uma sensação desesperadora de estar "pegando fogo" em todo o corpo. "Era do pé ao último fio de cabelo, e é uma sensação desesperadora. Eu não sabia o que fazer, jamais imaginava, não passou pela minha cabeça que pudesse ser menopausa”, afirmou.
Acreditando estar com uma doença grave, a situação afetou profundamente a vida pessoal, casamento e interações familiares, levando-a a se isolar e buscar conforto na fé. Ao ver um relato semelhante nas redes sociais, Marília decidiu procurar a ginecologista, que inicialmente duvidou da possibilidade de menopausa precoce devido à sua idade, mas após exames detalhados, confirmou o diagnóstico. A partir daí, ela iniciou a reposição hormonal, buscou ajuda psiquiátrica e psicológica para lidar com a depressão, ansiedade e, eventualmente, síndrome do pânico, decorrente do estresse intenso de lidar com os sintomas.
"Fiz 40 anos esse ano e confesso que o que mais me pegou e ainda está pegando hoje é a autoestima. Pensar que com nessa idade eu já estou na menopausa, não posso mais ter filhos. Mas tenho lidado com isso com ajuda da psicóloga", desabafou. Apesar das dificuldades, ela está focada em recuperar a rotina de exercícios e alimentação saudável.
Para a ginecologista Patrícia Magier, a menopausa é uma fase natural, porém marcante, na vida das mulheres, sendo definida como o momento em que a mulher permanece um ano sem menstruar. No Brasil, a idade média da menopausa é entre 48 e 52 anos. Magier explica que, do ponto de vista médico, a menopausa representa a falência ovariana, ou seja, a interrupção na produção dos hormônios femininos pelos ovários, que são as glândulas responsáveis por essa função. Ela enfatiza que, antes da menopausa se instalar completamente, pode-se observar uma série de sintomas que indicam que o corpo está entrando nessa transição.
Segundo Magier, os primeiros sinais que devem ser observados incluem irregularidades menstruais, alterações do sono, como dificuldade para dormir, cansaço excessivo, queda de cabelo, problemas de memória, fogachos (ondas de calor), dor na relação sexual, ressecamento vaginal e dores no corpo. Esses sintomas, embora muitas vezes sejam inespecíficos, apontam para um desequilíbrio hormonal causado pela diminuição progressiva dos hormônios femininos.
A ginecologista também explica que as mudanças hormonais podem começar até dez anos antes da menopausa propriamente dita. “O primeiro hormônio a diminuir é a testosterona, cuja queda provoca sintomas como diminuição da libido, cansaço, dificuldade para perder peso e ganhar massa muscular, além de alterações de humor. A seguir, a progesterona começa a cair, provocando ciclos menstruais anovulatórios mais frequentes, já que esse hormônio é produzido após a ovulação. Com a queda da progesterona, há uma predominância estrogênica, pois o estrogênio é o último hormônio a diminuir. A redução do estradiol, que é o tipo mais comum de estrogênio, provoca sintomas como ondas de calor, dores no corpo, ressecamento da pele e vaginal, ganho de gordura abdominal, alterações de humor, depressão e outros problemas que afetam a qualidade de vida da mulher”, explicou.
Ela detalha que os sintomas mais comuns da menopausa são os fogachos, que se caracterizam por ondas de calor que começam no pescoço e sobem para a cabeça, durando até um minuto e sendo seguidas por uma sensação de frio. Esses episódios podem causar mal-estar, tontura e vermelhidão no rosto, sendo mais frequentes à noite, o que interfere no sono. Outros sintomas incluem dores nas articulações, alterações do humor, depressão, ganho de peso, ressecamento vaginal, incontinência urinária e uma série de outras manifestações que podem impactar a qualidade de vida da mulher.
Para Magier, é fundamental que as mulheres se preparem para a menopausa desde a perimenopausa, que é o período que antecede a falência hormonal completa, adotando um estilo de vida saudável e, quando indicado, fazendo reposição hormonal. Ela destaca que o gerenciamento dessa fase inclui uma alimentação balanceada, rica em proteínas e orientada por um nutricionista, prática regular de atividade física, principalmente musculação, manutenção de um bom sono e manejo do estresse.
A especialista reforça que a terapia de reposição hormonal, quando não contraindicada, pode ser uma ferramenta importante para devolver qualidade de vida às mulheres, sendo preferencialmente realizada com hormônios isomoleculares e acompanhamento médico rigoroso.
"Tem que se cuidar e a gente estimula sempre as mulheres a procurar ajuda para não sofrer, não achar que menopausa é normal, que sofrer com os sintomas da menopausa é comum. Não. A menopausa tem tratamento para todas as queixas que a gente entender que é dessa fase da vida, conseguimos abordá-las de uma forma integrativa, funcional, resgatando qualidade de vida para as mulheres", salienta Patrícia Magier.
Segundo a médica especialista em Menopausa, dra. Beatriz Tupinambá, "hoje a terapia de reposição hormonal é considerada uma terapia segura. No passado, a reposição era feita com estrogênios extraídos da urina de éguas prenhas, mas, ao longo dos anos, os tratamentos evoluíram para incluir o estradiol sintético e, atualmente, opções isomoleculares e bioidênticas, que são mais seguras e até mesmo evitam o aumento de riscos como trombose”, explica.
Para manter a saúde durante a menopausa, Beatriz destaca a importância de priorizar o sono: "Eu costumo dizer que a noite é o início do dia seguinte, não o final do dia. Então o sono precisa ser reparador", afirma. Ela também enfatiza o impacto positivo da atividade física, que pode reduzir sintomas como fogachos, melhorar a memória, disposição e humor, e a importância de uma alimentação saudável e não inflamatória, com foco em alimentos naturais e frescos. Controlar o estresse é outro aspecto essencial, com práticas como yoga e meditação ajudando a lidar com os desafios dessa fase: “Quando a gente introduz hábitos de vidas saudáveis, faz essas mudanças necessárias para essa fase de vida, a gente acaba com todos os sintomas e vive bem a menopausa”, enfatiza.
Além disso, a ginecologista desmistifica a ideia de que a libido desaparece durante a menopausa, "a libido é uma energia vital que permanece ao longo da vida”, afirma Tupinambá. Ela ressalta a importância de cuidar da saúde sexual, inclusive tratando condições como atrofia vaginal e dores na relação, para manter a função e o prazer sexual. "O clitóris, que é o órgão de prazer sexual, depois do cérebro não tem data limite para acabar, sabe? A capacidade orgástica de um clitóris se mantém durante a vida toda", pontua a médica. Ela defende que o autocuidado e a priorização da saúde sexual também são fundamentais para uma experiência plena durante a menopausa.
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