Publicado 03/09/2024 18:57
Rio - Tartarugas marinhas da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, que há muito tempo sofriam com a poluição, estão mostrando sinais de recuperação. Após anos de esforços para melhorar a qualidade da água na região, pesquisadores notaram que os animais estão mais saudáveis.
PublicidadeO estudo, conduzido por uma equipe de especialistas da rede Tartarugas Cariocas, revelou que a redução de poluentes na água trouxe benefícios diretos para a fauna local. A pesquisa aponta que a fibropapilomatose, um tumor comum nas tartarugas marinhas, diretamente relacionado à presença de poluição de diferentes origens, está regredindo nos animais, que vêm sendo monitorados desde 2022.
Kassia Coelho, professora de anatomia patológica veterinária da Universidade Federal Fluminense, explica que a presença do tumor dificulta a locomoção, alimentação e o funcionamento normal do organismo desses animais marinhos.
"O conhecimento da prevalência e gravidade desta doença em determinada população de tartarugas, leva a uma melhor compreensão e avaliação de risco das condições ambientais. É uma doença diretamente relacionada à presença de poluição de diferentes origens e tem distribuição mundial. Pode levar à morte, ou, ainda, expondo o animal a ameaças, como os predadores", detalha.
Monitoramento
Com a diminuição desses contaminantes, os cientistas observaram uma melhora no estado geral de saúde das tartarugas. Além de apresentarem a regressão da doença, esses animais também estão com níveis mais baixos de toxinas em seus organismos.
A rede Tartarugas Cariocas é formada por especialistas da Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio Grande, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fiocruz, Instituto Mar Urbano e o Instituto Caminho Marinho. Um método utilizado pelos pesquisadores para monitorar as tartarugas é a fotoidentificação.
"Cada indivíduo possui marcas únicas, como as impressões digitais dos seres humanos. São registros fotográficos para identificar características morfológicas do animal, que podem ser, por exemplo, da cabeça, uma vez que cada indivíduo possui marcas únicas na cabeça, como formato das placas pré-frontais e pós orbitais. O formato das placas e a posição não se repetem, o que torna possível o monitoramento fotográfico dos indivíduos desde o seu nascimento", diz Coelho.
Segundo Gustavo Baila, oceanólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), cada indivíduo é identificado, fotografado, medido e pesado para avaliar o seu índice corporal ao longo dos anos.
"Foram identificados a presença de diferentes parasitas ou objetos antrópicos, como anzóis de pesca esportiva. A presença de bactérias resistentes a antibióticos nos animais de vida livre também foram avaliadas, além de exames de imagem como ultrassom e radiografia, permitindo compreender a situação atual de cada tartaruga marinha e nos permitindo inferir sobre a evolução da saúde em cada animal", completa.
A professora Kassia Coelho enfatiza a importância do monitoramento constante dos animais como um indicador da saúde ambiental: "Esses animais precisam ser monitorados permanentemente e continuamente, para que se possa, ao longo dos anos, observar o quanto o ambiente em que vivem está mais limpo, e elas, consequentemente, mais saudáveis", afirmou.
Coelho também destacou a necessidade de financiamento contínuo para as pesquisas e a implementação de políticas públicas voltadas para a preservação ambiental e a conscientização da população. "Se elas estão doentes, a natureza também está, e certamente, nós também estamos sujeitos às doenças decorrentes da poluição ambiental", conclui.
Preservação
As mudanças provocadas nas águas da Baía é um processo que vem ocorrendo desde 2021, quando a concessionária Águas do Rio passou a ter que investir na recuperação e melhoria dos sistemas existentes. Segundo a empresa, em quase três anos de atuação, foram recuperados importantes sistemas de esgotamento sanitário que já evitam que 82 milhões de litros de água contaminada com esgoto caiam todos os dias nesse ecossistema.
"Maior projeto ambiental dentro da concessão fluminense, a recuperação da Baía de Guanabara é um processo gradativo. De acordo com o Marco Legal do Saneamento, a Águas do Rio tem até 2033 para universalizar o esgotamento sanitário, ou seja, coletar e tratar o esgoto de 90% da população em todos os 27 municípios onde atua, o que inclui as cidades no entorno da baía. O investimento vai somar R$ 12 bilhões e evitará que mais de 1,3 bilhão de litros de esgoto desaguem diariamente nesse ecossistema", disse a concessionária.
Entre as principais ações que possibilitaram esse resultado está a limpeza do Interceptor Oceânico, túnel que capta o esgoto da maior parte da Zona Sul do Rio, inclusive de vários sistemas de Coleta em Tempo Seco e os encaminham para o Emissário Submarino de Ipanema. O coletor passou a operar com sua capacidade máxima após a retirada de 3 mil toneladas de resíduos acumulados em 50 anos. Até o momento, a concessionária investiu R$ 3,1 bilhões no estado.
"Um dos maiores desafios que a gente tem é fazer as pessoas entenderem que a nossa subsistência, enquanto espécie, está totalmente atrelada a um oceano saudável. E a nossa relação com o oceano é com a Baía de Guanabara. E a gente tem nas tartarugas uma ótima oportunidade de entender o que significa o conceito de saúde única. É aquele conceito de que se as tartarugas têm saúde, se o oceano está com saúde, a gente está com saúde", concluí Ricardo Gomes, diretor do instituto Mar Urbano.
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