Publicado 12/09/2024 17:45 | Atualizado 13/09/2024 07:56
Rio - Em cerimônia que contou com a presença do presidente Lula, nesta quinta-feira (12), indígenas celebraram o retorno oficial do Manto Tupinambá ao Brasil, em evento realizado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na Zona Norte. O objeto, raro e sagrado, estava há mais de 300 anos na Europa e foi posto em uma sala da Biblioteca Central do Museu Nacional.
PublicidadeEm entrevista ao DIA, Tintim Tupinambá, de 28 anos, explicou que o retorno do manto significa um resgate do território indígena.
"Rapaz, muita energia positiva, né? Primeiramente, temos que agradecer a Deus e segundo a nós mesmo. Estamos aí em resgate do nosso território. A gente quer resgatar essa terra”, disse.
Para Rubens de Francisco de Araújo, o objeto sagrado não deveria nem ter saído do país. “Nós viemos de Ilhéus, de um lugar chamado Olivença. A gente que é dono, ele é nosso”, citou em meio a comemoração.
Segundo a antropóloga Jade Lobo, de 27 anos, a devolução do manto ao Brasil significa uma grande vitória para o povo Tupinambá.
"É um reconhecimento da história ancestral do povo Tupinambá, ancestral de Olivenças. Eu sou antropóloga, então saber a trajetória, a dificuldade que foi desde os primeiros meios enviados para o museu, desde a história, do reconhecimento e ver que estão sendo validados é fundamental. É a concretização de um sonho. Eu espero que hoje sinalize uma demarcação de território”, destacou.
"Rapaz, muita energia positiva, né? Primeiramente, temos que agradecer a Deus e segundo a nós mesmo. Estamos aí em resgate do nosso território. A gente quer resgatar essa terra”, disse.
Para Rubens de Francisco de Araújo, o objeto sagrado não deveria nem ter saído do país. “Nós viemos de Ilhéus, de um lugar chamado Olivença. A gente que é dono, ele é nosso”, citou em meio a comemoração.
Segundo a antropóloga Jade Lobo, de 27 anos, a devolução do manto ao Brasil significa uma grande vitória para o povo Tupinambá.
"É um reconhecimento da história ancestral do povo Tupinambá, ancestral de Olivenças. Eu sou antropóloga, então saber a trajetória, a dificuldade que foi desde os primeiros meios enviados para o museu, desde a história, do reconhecimento e ver que estão sendo validados é fundamental. É a concretização de um sonho. Eu espero que hoje sinalize uma demarcação de território”, destacou.
Ao todo, cerca de 170 indígenas participaram do evento, que foi organizado pelos ministérios dos Povos Indígenas (MPI), da Educação (MEC) e da Cultura (MinC), com a colaboração do Ministério das Relações Exteriores (MRE), além de lideranças do Povo Tupinambá.
Lula elogia manto
Durante o evento, o presidente Lula agradeceu ao Governo Nacional da Dinamarca pela doação do objeto, além da direção do Museu Nacional e a Embaixada do Brasil pelas tratativas.
"Eu vejo esse momento de hoje como extraordinário para que a gente reflita sobre o que acontece no nosso Brasil desde a descoberta em 1500. Ao longo da nossa história, diversos itens tradicionais atravessaram fronteiras e foram habitados nos centros europeus e em outros cantos do mundo. Esses objetos guardam crença, memória e tradições", explicou.
Lula ainda reforçou que o lugar do manto é na Bahia, terra do povo Tupinambá.
"Ele está no Museu Nacional, mas espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui. Nosso governador da Bahia tem a obrigação e o compromisso histórico de construir um lugar que possa receber esse manto, que tem uma dimensão espiritual para o povo Tupinambá. Para nós é uma obra artística de rara beleza, mas para os Tupinambás é uma entidade, um ser espiritual que retoma a ancestralidade para promover a cultura de todo povo. O retorno oficial desse manto para o Brasil representa uma retomada histórica que foi apagada, que precisa ser contada e preservada", disse.
Por fim, o presidente também teceu elogios ao manto. "É impossível não conhecer a beleza e força dessa peça centenária, tão bem conservada, mesmo depois de tanto tempo fora do Brasil. É nosso compromisso cuidar da preservação em condições desse patrimônio que é de todos nós, mas especialmente do povo Tupinambá. O reconhecimento dos povos originários são prioridades no meu governo", completou.
"Eu vejo esse momento de hoje como extraordinário para que a gente reflita sobre o que acontece no nosso Brasil desde a descoberta em 1500. Ao longo da nossa história, diversos itens tradicionais atravessaram fronteiras e foram habitados nos centros europeus e em outros cantos do mundo. Esses objetos guardam crença, memória e tradições", explicou.
Lula ainda reforçou que o lugar do manto é na Bahia, terra do povo Tupinambá.
"Ele está no Museu Nacional, mas espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui. Nosso governador da Bahia tem a obrigação e o compromisso histórico de construir um lugar que possa receber esse manto, que tem uma dimensão espiritual para o povo Tupinambá. Para nós é uma obra artística de rara beleza, mas para os Tupinambás é uma entidade, um ser espiritual que retoma a ancestralidade para promover a cultura de todo povo. O retorno oficial desse manto para o Brasil representa uma retomada histórica que foi apagada, que precisa ser contada e preservada", disse.
Por fim, o presidente também teceu elogios ao manto. "É impossível não conhecer a beleza e força dessa peça centenária, tão bem conservada, mesmo depois de tanto tempo fora do Brasil. É nosso compromisso cuidar da preservação em condições desse patrimônio que é de todos nós, mas especialmente do povo Tupinambá. O reconhecimento dos povos originários são prioridades no meu governo", completou.
Símbolo de resistência
Para Ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara, o manto é mais que um ato simbólico, pois comunica a importância da conexão entre indígenas e a ancestralidade.
"Para os povos originários, essa vestimenta espiritual liga o passado ao presente. Representa resistência dos saberes. Essa virada histórica que nós estamos vivenciando nesse espaço tão fundamental para preservação da nossa memória, acompanhando a recuperação do Museu Nacional aqui no Rio de Janeiro, faz parte de um movimento intergovernamental para recuperação das culturas e da luta pela preservação da nossa memória e dos nossos saberes tradicionais”, disse.
Para Ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara, o manto é mais que um ato simbólico, pois comunica a importância da conexão entre indígenas e a ancestralidade.
"Para os povos originários, essa vestimenta espiritual liga o passado ao presente. Representa resistência dos saberes. Essa virada histórica que nós estamos vivenciando nesse espaço tão fundamental para preservação da nossa memória, acompanhando a recuperação do Museu Nacional aqui no Rio de Janeiro, faz parte de um movimento intergovernamental para recuperação das culturas e da luta pela preservação da nossa memória e dos nossos saberes tradicionais”, disse.
Ainda segundo a ministra, a história da da humanidade, a partir da cultura material, é marcada por episódios de extração de referências culturais dos seus locais de origem e dos seus povos.
"Artefatos indígenas são bens culturais e históricos que contam a nossa história e sobretudo são bens sagrados para os povos indígenas no nosso país. O retorno desses bens tem mobilizado o poder público, pesquisadores e a sociedade civil. Este ano, o Brasil recebeu outras valiosas peças culturais de volta. Após 20 anos na França, 585 artefatos indígenas retornaram ao Brasil. O conjunto desses objetos provêm de mais de 40 etnias e nós vamos seguir este esforço pela repatriação e pelo retorno desses bens ao nosso país", acrescentou.
Uma das lideranças indígenas, a cacique Kawany Tupinambá, disse também que o manto é um símbolo de força e união.
"Invadiram nosso território saqueando as nossas riquezas para enriquecer as nações europeias. A ambição permanece até hoje. Matam os nossos lagos e nascentes, queimam nosso ambiente, exterminam nossa fauna. Querem tomar tudo de nós", criticou.
"Artefatos indígenas são bens culturais e históricos que contam a nossa história e sobretudo são bens sagrados para os povos indígenas no nosso país. O retorno desses bens tem mobilizado o poder público, pesquisadores e a sociedade civil. Este ano, o Brasil recebeu outras valiosas peças culturais de volta. Após 20 anos na França, 585 artefatos indígenas retornaram ao Brasil. O conjunto desses objetos provêm de mais de 40 etnias e nós vamos seguir este esforço pela repatriação e pelo retorno desses bens ao nosso país", acrescentou.
Uma das lideranças indígenas, a cacique Kawany Tupinambá, disse também que o manto é um símbolo de força e união.
"Invadiram nosso território saqueando as nossas riquezas para enriquecer as nações europeias. A ambição permanece até hoje. Matam os nossos lagos e nascentes, queimam nosso ambiente, exterminam nossa fauna. Querem tomar tudo de nós", criticou.
A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, celebrou a conquista, mas frisou ser apenas um primeiro passo para o reconhecimento dos povos originários. “Assim como o aumento da participação indígena nesse governo, este retorno é apenas uma parte do processo, um primeiro passo de muitos que ainda virão, mas ele é significativo, pois marca o compromisso de olhar para o passado colonial de forma crítica, visando também a atuação política povos indígenas e de construir um futuro de justiça, dignidade de respeito”, disse.
Objeto histórico
O manto Tupinambá tem quase 400 anos e estava fora do país desde o meio do século XVII. O objeto ficou no Museu Nacional da Dinamarca por 335 anos. Desde que chegou ao Brasil, o manto segue em um espaço de guarda, numa sala da Biblioteca Central do Museu Nacional preparada para garantir a sua preservação.
Atualmente, o objeto não está em exposição, mas será destaque, em 2026, na reabertura das exposições do Museu Nacional, no Paço de São Cristóvão.
O manto é uma peça com cerca de 1,20 metro de altura, por 80 centímetros de largura. Considerado uma entidade sagrada pelos Tupinambá, é confeccionado (em sua maioria) com penas de guarás, mas também com plumas de papagaios, araras-azuis e amarelas. A peça teria sido levada à Europa por holandeses, por volta do ano de 1644.
O manto é uma peça com cerca de 1,20 metro de altura, por 80 centímetros de largura. Considerado uma entidade sagrada pelos Tupinambá, é confeccionado (em sua maioria) com penas de guarás, mas também com plumas de papagaios, araras-azuis e amarelas. A peça teria sido levada à Europa por holandeses, por volta do ano de 1644.
A devolução contou com a articulação entre instituições de Brasil e Dinamarca, incluindo o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil na Dinamarca, museus dos dois países e lideranças do povo Tupinambá.
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