O envelhecimento traz a perda de equilíbrio e da força muscular associada e aumenta o risco de quedas Reprodução
Publicado 29/09/2024 00:00 | Atualizado 29/09/2024 14:04
Piso escorregadio, tapetes soltos e desníveis nas calçadas parecem inofensivos, mas para a população idosa, são armadilhas que podem resultar em quedas graves. Esses acidentes, cada vez mais frequentes entre os mais velhos, podem desencadear fraturas, necessitar de intervenções cirúrgicas e até provocar consequências neurológicas. No Dia Nacional do Idoso, celebrado em 1º de outubro, reforça-se a importância de falar sobre os cuidados necessários para prevenir acidentes que, além de letais, são a terceira maior causa de mortalidade na terceira idade. Dados do Ministério da Saúde revelam uma preocupante escalada, em 2013, foram registradas 4.816 mortes e já em 2022, o número chegou a 9.592.
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Quedas são o principal tipo de acidente em pessoas acima de 65 anos de idade
Segundo o ortopedista do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP-RJ), Ronaldo Arakaki destaca que as quedas são o principal tipo de acidente em pessoas acima de 65 anos em decorrência de “traumas cotidianos como escorregar em chão molhado, abaixar para pegar um controle remoto, se levantar para atender o telefone, sentar-se na cama, enrolar o pé no lençol, uma puxada da coleira do cachorro e etc", afirma.
Arakaki alerta que qualquer obstáculo simples para o idoso, como uma banheira, um degrau no banheiro, um tapete, um fio solto, uma mesa de centro na sala, tudo isso pode ser risco para a pessoa idosa tropeçar e sofrer um acidente em casa. O recomendável é evitar todas essas situações”, ressalta.
Ele explica que os fatores de risco que mais se associam às quedas são: a idade avançada, sexo feminino, história prévia de quedas, imobilidade, baixa capacidade física, equilíbrio diminuído, marcha lenta com passos curtos, dano cognitivo e o uso de medicações diversas (polifármacos)", pontua.
“A adaptação do ambiente doméstico ajuda muito o idoso porque as pessoas idosas passam a maior parte do tempo nas proximidades da residência ou mesmo dentro de casa. Então, reduzir o risco de quedas, de acidentes ou de qualquer tipo de trauma em casa pode prevenir o risco de uma fratura mais grave, que leve à necessidade de uma cirurgia, um trauma craniano e até algum tipo de acidente doméstico que provoque sequelas”, afirma. 
Entre os fatores de risco associados às quedas, Arakaki ressalta que "comportamentos de risco e ambientes inseguros como uma casa não adaptada para o idoso e a própria teimosia em insistir em alguns comportamentos aumentam a probabilidade de cair", diz. Ele explica que segundo a estatística “por volta dos 65 anos, um idoso chega a ter duas quedas por ano. Então, após a primeira vez, a chance é bem alta de ter uma nova queda. Se já tem uma queda que foi um acidente em casa, isso tem que servir como um alerta: risco de queda! Atitudes imediatas têm que ser tomadas para reduzir a chance de novas quedas”, pontua. Dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) mostram que 40% dos idosos com 80 anos ou mais sofrem quedas anualmente.
Relação entre idade e equilíbrio
De acordo com a neurologista Carolina Alvarez, os riscos neurológicos mais comuns após uma queda incluem a formação de hematomas intracranianos e fraturas. Embora as fraturas em si não tenham um contexto neurológico direto, "o tempo de internação e a restrição de mobilidade podem piorar o quadro cognitivo de pacientes que já apresentem algum déficit, mesmo que leve", explica ela. Portanto, é crucial tomar medidas preventivas para evitar essas complicações.
Ela também destaca que os idosos frágeis, que sofrem de sarcopenia (perda significativa de massa muscular), têm maior propensão a quedas devido à diminuição do equilíbrio e da capacidade de marcha. A desatenção em momentos de agitação também pode ser um fator agravante. "Pacientes com andar arrastado, dificuldade para subir degraus e limitações físicas estão mais suscetíveis a quedas", alerta a especialista.
As quedas em idosos, especialmente quando envolvem pancadas na cabeça, podem gerar complicações sérias, mesmo que os sintomas não apareçam de imediato. A neurologista Carolina Alvarez destaca a importância de observar qualquer impacto, ressaltando que “quedas com impacto na cabeça, mesmo que o paciente não sinta nada de imediato, podem ter consequências graves”. Ela explica que idosos já apresentam atrofia cerebral compatível com a idade, o que eleva o risco de sangramento após um trauma craniano. "Esse hematoma pode se manifestar de forma crônica, demorando a apresentar sintomas", afirma.
Entre os principais riscos neurológicos de uma queda em idosos, estão os hematomas intracranianos. Além disso, as quedas podem ocasionar fraturas, que, embora não tenham relação direta com o sistema neurológico, podem impactar a saúde cognitiva do paciente. "Com o tempo de internação e restrição de mobilidade, isso pode piorar o quadro cognitivo de algum paciente que já tenha algum déficit cognitivo, mesmo que leve", explica a neurologista.
Carolina Alvarez enfatiza que esse tipo de evento pode gerar um ciclo de deterioração. “As quedas vão impactar na saúde cognitiva, principalmente quando a gente tem alguma outra condição que possa estar associada. Ou seja, o paciente caiu e sofreu uma fratura, portanto, precisou ficar internado. Outro caso, o paciente caiu e quebrou um punho, logo, ele está com aquele braço imobilizado e, depois de quedas repetitivas, é muito comum o paciente idoso começar a ter medo de cair”, salienta a médica. Esse medo, por sua vez, leva à restrição de movimentos, agravando ainda mais o declínio cognitivo.
A médica também alerta para a vulnerabilidade de pacientes com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer ou Parkinson, e aqueles que utilizam medicamentos anticoagulantes ou para dormir. Esses fatores aumentam o risco de quedas e suas complicações. "Esses pacientes precisam de cuidados redobrados, principalmente em relação à administração de medicamentos e à segurança dentro de casa", frisa a neurologista. Assim, a prevenção é sempre fundamental. "O resto sempre é uma complicação relacionada a elas", conclui.
Já a fisioterapeuta especialista em gerontologia pela SBGG, Cristina Ribeiro destaca que as quedas em idosos podem ser atribuídas a fatores intrínsecos e extrínsecos: "As causas de quedas em idosos podem ser divididas em dois grandes grupos. O grupo dos fatores intrínsecos, que são os fatores internos, são fatores do organismo da própria pessoa que podem levar ao maior risco de cair. Eles compõem 70% das quedas. Entre esses fatores, como a idade avançada, sexo feminino, histórico de quedas, fraqueza muscular, distúrbios de marcha e equilíbrio, déficit visual e auditivo, e condições como artrose, depressão e déficit cognitivo.
Os fatores extrínsecos, que representam 30% das quedas, incluem barreiras arquitetônicas, como calçadas irregulares, o uso de calçados inadequados e a interação medicamentosa que afeta o equilíbrio”, salienta.

Como evitar as quedas

Segundo Ronaldo Arakaki, “o envelhecimento traz a perda de equilíbrio e da força muscular associada e aumenta o risco de quedas. Por isso, a prevenção com a fisioterapia, musculação e atividade física são essenciais para a redução de quedas no idoso”, pontua o ortopedista.
A fisioterapeuta Cristina Ribeiro ressalta que com exercícios como fortalecimento muscular, alongamento e trabalho de flexibilidade, é possível melhorar o equilíbrio, a coordenação motora e a postura dos idosos. "A melhora do alongamento muscular também vai diminuir o risco da pessoa cair", afirma. 
Cristina destaca ainda a importância de realizar exercícios desafiadores em um ambiente controlado: “No momento em que a pessoa está na fisioterapia, são realizados exercícios desafiadores com o objetivo de aumentar a segurança dela dentro de um ambiente seguro, onde não vai ter o risco de ela cair”. Esse treinamento prepara o idoso para enfrentar obstáculos em ambientes externos, reduzindo o risco de quedas.
Ela também compartilha dicas práticas para a prevenção de quedas. Entre elas, estão: realizar atividades com calma e atenção, evitar ficar parado por muito tempo para evitar rigidez muscular, utilizar calçados adequados, manter uma boa hidratação, evitar arriscar-se subindo em lugares altos, eliminar armadilhas domésticas como tapetes soltos ou fios pelo chão, e ter cuidado ao ir ao banheiro, garantindo boa iluminação e fácil acesso.
Cristina acrescenta ainda a importância de utilizar dispositivos de auxílio à marcha, como bengalas ou andadores, quando necessário. No entanto, alerta que essa decisão deve ser tomada com orientação profissional. “Isso deve ser feito após uma avaliação e treinamento por um profissional especialista em gerontologia. Não deve a pessoa idosa começar a usar, por exemplo, uma bengala ou um andador por conta própria”, enfatiza.
A neurologista Carolina reforça que os cuidados que se deve ter com pacientes idosos que já têm alguma doença neurodegenerativa são principalmente a prevenção das quedas, ou seja, uso de sapatos adequados, evitar chinelos ou sapatos que possam sair facilmente dos pés, retirar tapetes ou objetos do chão que possam fazer o paciente tropece ou escorregue.

Em ambientes que o piso possa estar úmido, ter pisos antiderrapantes ou materiais que vão evitar que o paciente escorregue, manter sempre, principalmente à noite, o ambiente muito bem iluminado para o paciente idoso conseguir ver o que tem ao seu redor.

Além disso, é importante ter escadas com corrimão e evitar que esse paciente tenha que subir muitas escadas, principalmente à noite. Indico também a importância de prestar atenção no horário das medicações pro paciente não ficar se locomovendo, o que facilita para evitar essas quedas, no caso dos banheiros, se possível as barras de apoio, barras de segurança pra ele conseguir tomar banho, poder se levantar do vaso sanitário sem ter riscos maiores de queda.
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