O monumento será iluminado com a cor rosaDivulgação / Alessandro Mendes
Publicado 01/10/2024 00:00 | Atualizado 01/10/2024 15:43
A Fundação Laço Rosa ilumina, nesta terça-feira (2), o monumento ao Cristo Redentor, abrindo a programação do Outubro Rosa 2024. A cerimônia no Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, a partir das 19h30, receberá convidados e autoridades a fim de  chamar atenção para a causa. Também haverá uma celebração, presidida pelo Padre Omar. Neste ano, o foco da campanha Laço Rosa é falar sobre a importância da saúde mental para mulheres e familiares que recebem o diagnóstico de câncer de mama. A instituição pretende fazer 1.000 atendimentos psicológicos até 2025 e aguarda investimento financeiro de empresas para ampliar a doação.
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As comemorações continuam no dia 8 de outubro, quando acontecerá uma ação inédita, envolvendo 30 pacientes de diferentes regiões do país para uma atividade surpresa. No dia 19 de outubro, será a vez do PPG (Pavão-Pavãozinho-Cantagalo), onde fica a sede da Laço Rosa que completa um ano em outubro, receber a ativação de cadastramento feminino para o exame de mamografia iniciando o programa de navegação de pacientes na comunidade. "O tratamento de câncer já é uma jornada desgastante e o que muitos não percebem são os danos mentais que um diagnóstico de câncer de mama pode provocar na vida do paciente e dos familiares, por isso esse ano queremos trazer para o debate a importância do acesso as questões psicológicas também, afinal de contas o tratamento multidisciplinar deveria ser garantido para todos e não apenas para aqueles que podem pagar", ressalta Marcelle Medeiros, presidente da Fundação Laço Rosa.
Fruto da lei que regulamenta a doação de cabelos no Estado do Rio de Janeiro, sancionada pelo governador Cláudio Castro e de autoria da deputada Martha Rocha, a primeira turma de alunas de perucaria com o convênio de cooperação técnica entre Laço Rosa, Secretaria de Estado da Mulher e FAETEC recebeu a graduação em setembro. A Lei 9868/2022, que regulamenta o recebimento gratuito de cabelo humano para confecção de perucas destinadas à doação de pessoas portadoras de câncer ou outras doenças que provoquem a queda capilar em todo o estado do Rio de Janeiro, prevê a cooperação com escolas técnicas e a criação de um cadastro das entidades do terceiro setor aptas a receber os fios. É importante ressaltar que a Laço Rosa segue sem abrir seus canais para campanhas de doação de cabelos e ficará assim até a Lei ganhar status nacional.
Outra novidade é o lançamento do novo site institucional e da loja com produtos autorais. A primeira coleção de produtos foi inspirada em frases e palavras de pacientes, como por exemplo: o câncer não me define e coragem. Os produtos estarão à venda e toda a renda revertida é destinada à manutenção dos projetos da Laço Rosa.
Resgate de autoestima
A Fundação Laço Rosa é feita por um grupo de pessoas que luta diariamente para mudar a realidade do câncer de mama no Brasil e no mundo. Empoderamento feminino, influência de políticas públicas, resgate de autoestima e defesa de direitos de pacientes são os pilares da instituição que mantêm programas e atividades com esses objetivos. Entre os números de impacto de 2023 estão mais de 12.875 pessoas atingidas diretamente pelas ações da instituição; 3.176 exames de mamografia doados; 1.215 jovens impactados em escolas com informação segura sobre a doença; 1.080 voluntários envolvidos; Mais de 2.880.665 pessoas impactadas nas redes sociais.
A Fundação Laço Rosa nasceu no ano de 2011, pelas mãos de Aline Lopes, suas irmãs, Marcelle Medeiros e Andréa Ferreira, familiares e amigos. Com a missão de ajudar o paciente com câncer de mama e seus familiares a atravessarem os impactos do diagnóstico com leveza, conhecimento e sem perder a fé de que dias melhores sempre virão. Hoje, a instituição tem Marcelle Medeiros como presidente e conta com o apoio de uma diretoria dedicada, voluntários e colaboradores empenhados em ajudar a mudar o cenário do câncer de mama no Brasil.

Durante o mês de outubro, várias instituições realizam ações para que que as mulheres com câncer de mama se sintam acolhidas e vejam uma luz no fim do túnel. No dia 1º de outubro, o INCA realiza a palestra Saúde da mulher: desafios e perspectivas para o controle do câncer, que tem como objetivo motivar e instrumentalizar a população e os profissionais de saúde para as ações de controle e o cuidado integral relativos aos câncer de mama e do colo do útero, com foco na prevenção e na detecção precoce. O evento acontecerá no Hospital do Câncer III - Auditório Gama Filho - 4º andar Rua Visconde de Santa Isabel, 274, em Vila Isabel,  e também pode ser visto pela internet na TV INCA.
Mulheres de Propósito 2024 em Copacabana
No dia 4 de outubro, das 13h às 18h, o Instituto ZENcancer, com o apoio institucional da Fundação do Câncer e do INCAvoluntário, realiza Mulheres de Propósito 2024" , no JW Marriott em Copacabana, das 13h às 18h, e reunirá cerca de 150 mulheres em uma tarde de diálogos transformadores, prática restaurativa e um bazar vintage. O evento é uma oportunidade única para as participantes se conectarem, compartilharem experiências e explorarem seu propósito de vida, ao mesmo tempo em que contribuem para uma causa nobre.
O objetivo é arrecadar recursos para a continuidade das atividades gratuitas da instituição, que oferece práticas para promover o bem-estar de pacientes oncológicos, familiares e profissionais da saúde. A inscrição no evento será pela plataforma Eventbrite e revertida em doações. Além disso, o bazar beneficente apresentará peças únicas, cujas vendas também serão direcionadas ao apoio das ações do Instituto.
A programação contará com rodas de conversa que abordarão temas centrais para a saúde e bem-estar da mulher, como saúde feminina, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, independência financeira, além do autocuidado. As palestrantes compartilharão suas vivências e trajetórias, inspirando as participantes a buscarem o autoconhecimento e o bem-estar integral.

Entre as palestrantes confirmadas estão a doutora Flavia Miranda (Fundação do Câncer), Cristina Rebello (Sense Design & Comunicação) , Brunna Condini (Jornalista e escritora) , Fernanda Vieira (Gerente geral do INCAvoluntário), Vanessa Corrêa (XP Investimentos), Paula Pratti (Nutricionista Oncológica) e Luciana Lobo (Fundadora do ZENcancer). O evento será moderado pela jornalista Yasmine Saboya, coordenadora de Jornalismo e apresentadora do Canal Saúde da Fiocruz. Além das rodas de conversa, as participantes terão a oportunidade de vivenciar uma prática restaurativa no Espaço (re )Conexão e visitar o bazar vintage beneficente no Espaço RetroZEN.
Curta Espelho Meu

Já A FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) e a Estevacine Filmes se uniram em parceria para realizar o curta Espelho Meu, que retrata a jornada vivida por mulheres com câncer de mama e busca educar, sensibilizar, e mobilizar o público. O roteiro, escrito por Alexandre Estevanato, é fictício e inspirado em histórias reais como a de uma mulher que, após o processo de mastectomia, pediu ao marido que levantasse todos os espelhos da casa, a fim de que ela se enxergasse apenas do pescoço para cima, pois não queria ver seu corpo no espelho. Depois de muito tempo, quando decidiu tatuar as aréolas nas mamas reconstruidas, ela então pediu que o marido voltasse os espelhos às posições originais porque havia resgatado a sua autoestima. 
'A informação em saúde é uma ferramenta poderosa de prevenção'
Em entrevista ao jornal O DIA, a médica Maira Caleffi, de 66 anos, chefe do serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento e presidente fundadora da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA), fala sobre o câncer de mama e tira várias dúvidas comuns a muitas mulheres que vivem o problema.

O DIA: Qual a importância do Outubro Rosa?
Dra Maira Caleffi: A campanha do Outubro Rosa contribui de forma fundamental para a conscientização sobre a doença. Muitas vezes, as mulheres passam o ano postergando os exames que devem ser realizados. No momento em que organizações como a FEMAMA trazem a campanha, colocam na mídia, trazem a conscientização, aumenta muito a procura pelos exames, por uma consulta para fazer avaliação. E, uma vez que tem o Outubro Rosa todos os anos, isso faz com que a população se mantenha fazendo os exames anualmente. Do ponto de vista populacional, isso funciona como um rastreamento epidemiológico muito importante para que os diagnósticos sejam realizados o mais precocemente possível e, com isso, garantir mais chances de cura.

A informação em saúde é uma ferramenta poderosa de prevenção e também de enfrentamento de doenças. A campanha do Outubro Rosa tem dimensões globais e ajuda a reforçar a importância dos exames de rotina e da adoção de hábitos saudáveis. Falar sobre o câncer pode ser difícil para algumas pessoas, mas a campanha ajuda a quebrar esta barreira. Além disso, como falamos anteriormente, o acesso à informação ainda é uma barreira para muitas mulheres. E aqui existe um recorte social econômico e racial que é muito importante. Grande parte das mulheres do nosso país não possuem tempo para a própria saúde porque são responsáveis pelos cuidados com a casa, o trabalho e a família. Precisamos conversar com elas, fazer a informação chegar até elas de maneira descomplicada e assertiva.
A campanha da FEMAMA deste ano é sobre isso. Temos a certeza de que informação é um direito e conhecimento é uma forma poderosa de prevenção. E a campanha do Outubro Rosa tem a potência necessária para empoderar as mulheres do nosso país sobre esses temas.

O DIA: Os índices de câncer de mama sobem cada vez mais? Quais fatores contribuem para que se tenha a doença?
Dra Maira Caleffi: De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, existe um crescimento significativo na projeção de novos casos de câncer no mundo até 2050, que é reflexo do envelhecimento e crescimento da população e do aumento da exposição dessas populações a fatores de risco. No Brasil, o número de diagnósticos de câncer de mama vem aumentando nos últimos anos, passando de cerca de 50 mil novos casos em 2008, para 75 mil em 2023. A taxa de mortalidade também vem aumentando no país, o que vai na contramão dos países desenvolvidos, onde as taxas de incidência são altas, mas a mortalidade vem diminuindo nas últimas décadas. Além disso, o câncer de mama tem atingido mulheres cada vez mais jovens, que estão fora da faixa de cobertura mamográfica.
As razões para o aumento dos casos não são plenamente conhecidas, mas estima-se que esteja relacionado a fatores ambientais e de estilo de vida. Tabagismo, sedentarismo, alimentos processados, ingestão de bebidas alcoólicas, hormônios e poluentes diversos podem ter influência no aumento da incidência da doença.

O DIA: O que pode ser feito para os índices diminuírem?
Dra Maira Caleffi: A prevenção do câncer está muito ligada à prevenção primária. Isso significa, de maneira geral, que a população precisa ter maior acesso a alimentação equilibrada, atividade física regular e visitas de rotina às equipes de saúde para realização de exames e rastreamento.
Já a mortalidade está mais relacionada ao diagnóstico tardio e dificuldade de acesso ao tratamento adequado, ou seja, a problemas na gestão da promoção e do acesso à saúde no Brasil. Para reduzir o risco, precisamos repensar nossos hábitos enquanto sociedade. Para ampliar as chances de cura precisamos antecipar os diagnósticos e garantir o acesso ao tratamento de forma ágil.

O DIA: Muita gente fala em alimentação ruim, vida sedentária e estresse. Tem alguma comprovação de que o câncer de mama e outros tipos sejam causados por esses fatores?
Dra Maira Caleffi: O câncer de mama é uma doença com etiologia multifatorial, ou seja, pode ter diferentes causas, incluindo: fatores genéticos, poluição ambiental, exposição ocupacional e estilo de vida. Estima-se que cerca de 30% dos casos de cânceres de mama poderiam ser prevenidos ou evitados por meio de hábitos saudáveis de vida, principalmente nos cuidados com a alimentação e com a prática de atividades físicas, além de evitar bebidas alcoólicas e o tabagismo.

O DIA: O emocional tem maior, menor ou nenhuma interferência nesses casos?
Dra Maira Caleffi: Considera-se que cerca de 10% dos casos de câncer de mama podem ter relação com a herança genética, os 90% restantes são atribuídos a causas externas, como hábitos de vida e exposição a fatores de risco. Já existem estudos que avaliaram a relação entre aspectos emocionais e o câncer de mama, mas os resultados não identificaram uma causa emocional para o surgimento da doença. É comum que as pessoas digam, sem nenhum fundamento, que o câncer de mama surge a partir de sentimentos como mágoa, estresse, ansiedade, raiva ou tristeza, mas não há evidência de que esta relação realmente exista. É uma realidade, no entanto, que uma saúde mental em dia contribui para lidar com o diagnóstico e o tratamento, o que influencia a percepção geral de qualidade de vida durante a jornada da paciente.

O DIA: Qual a diferença entre o câncer primário e câncer metastático?
Dra Maira Caleffi: O câncer primário é aquele que se origina em um local específico do corpo. Por exemplo, se um tumor se desenvolve na mama, é considerado câncer primário de mama e se caracteriza pelas células que se transformam e crescem de forma descontrolada na área onde começou. Já o metastático se refere ao câncer que se espalhou a partir do local original, ou primário, para outras partes do corpo. Quando as células cancerosas são transferidas para outros órgãos ou tecidos, podem formar novos tumores e estes são chamados de metástases. Os tumores metastáticos são compostos pelas mesmas células do câncer primário. Por exemplo, se o câncer de mama se espalha para o pulmão, o tumor no pulmão é considerado câncer metastático de mama.

O DIA: Existem casos em que pacientes de câncer de mama desenvolvem pólipos no útero em decorrência do uso de algumas medicações. O que pode ser feito para que bloqueadores hormonais não causem efeitos colaterais como esse?
Dra Maira Caleffi: Existem diversas estratégias de manejo para efeitos adversos. É importante sempre considerar que cada pessoa é única e cada tumor também, o que exige uma atenção personalizada e integral. De maneira geral, as estratégias de manejo do desenvolvimento de pólipos no útero em pacientes com câncer de mama que estão usando bloqueadores hormonais podem incluir o monitoramento regular com ultrassonografias ou outros exames de imagem para acompanhar a saúde do útero e identificar pólipos precocemente, a avaliação da possibilidade de ajuste da dosagem dos bloqueadores hormonais, a consideração de alternativas quando possível e indicado, a adição de medicamentos que ajudam a proteger o revestimento do útero, entre outras.
De toda a forma, é importante que pacientes oncológicas mantenham um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e exercícios físicos regulares para melhorar a qualidade de vida e os indicadores gerais de saúde, reduzindo o risco de desenvolvimento dessas complicações. Conversar abertamente com a equipe médica sobre sinais, sintomas e riscos associados, permite que uma decisão informada sobre o tratamento possa ser tomada em conjunto.

O DIA: O que faz uma pessoa ter recidiva e outra não?

Dra Maira Caleffi: O câncer de mama é uma doença complexa e cada pessoa apresenta uma jornada única, com desfecho muito difícil de prever a longo prazo. Existem algumas mutações genéticas que favorecem o aparecimento do câncer de mama e também a persistência da doença no organismo. Também existem fatores comportamentais, como a adoção de um estilo de vida mais, ou menos, saudável, que pode ter influência no período pós diagnóstico inicial. Para evitar uma recidiva, também é fundamental a adoção dos protocolos de procedimentos (ex. cirurgia, radioterapia etc.) e tratamentos (ex. quimioterapia, terapia hormonal etc.) adequados para cada tipo de tumor. Existem exames disponíveis no SUS e na saúde suplementar, para determinar a melhor abordagem clínica para cada caso. No entanto, infelizmente, mesmo quando o tratamento é realizado da forma correta, é possível que ocorra uma recidiva em alguns casos. Este é um fator de grande apreensão para as pacientes.

O DIA: Está em pesquisa uma vacina anticâncer. A senhora acredita que irá servir para todos os tipos?

Dra Maira Caleffi: As vacinas contra o câncer estão sendo avaliadas para casos em que já existe o diagnóstico da doença, portanto, atuam no tratamento, não na prevenção do câncer, embora este seja também o objetivo a longo prazo. A imunização tem a vantagem de ser menos agressiva que a quimioterapia convencional. No caso do câncer de mama, a vacina pode vir a ser uma opção de tratamento para o câncer de mama do tipo triplo negativo, que representa 15% dos casos de câncer de mama no mundo e é o mais frequente entre mulheres com menos de 40 anos. Atualmente este tipo de tumor de mama é o que apresenta menos opções de abordagem terapêutica.
A estratégia da vacina consiste em marcar moléculas das células tumorais para que os mecanismos de defesa do corpo as reconheçam e eliminem. Esta abordagem pode sim, a longo prazo, ser expandida para outros tipos de câncer de mama ou cânceres em geral. Já existem outros estudos similares, inclusive brasileiros, direcionados a outros cânceres, como pele, pulmão e cérebro.

O DIA: Com certeza a maioria das pessoas não poderá pagar por esse tipo de vacina. O que pode ser feito para popularizá-la?
Dra Maira Caleffi: Se as vacinas tiverem sua eficácia e segurança comprovadas, o caminho para o acesso seria a incorporação dessas novas tecnologias em saúde no SUS. Mas este é um longo caminho que precisa de atuação das organizações da sociedade civil do setor e da participação da sociedade. A FEMAMA atua justamente nesse processo, dialogando com Câmara Federal e Senado a fim de levar as demandas representativas das pacientes de cânceres femininos para a agenda política. A partir desse movimento podem surgir Projetos de Lei, consultas públicas e outros tantos caminhos de deliberação que podem - ou não - levar a decisão de incorporação da tecnologia no SUS para garantir acesso à população.
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