Sisson foi o precursor da história em quadrinhosAcervo / Biblioteca Nacional
Publicado 20/10/2024 00:00
Boa parte de eventos marcantes da história social e política brasileira do período imperial ganharam destaque graças aos retratos feitos por Sébastien Auguste Sisson. E o terceiro andar da Biblioteca Nacional (BN), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC),, na Cinelândia, no Centro do Rio, vai receber a Exposição Sisson, 200 Anos que exalta a obra do artista francês, autor da primeira história em quadrinhos (HQ) do Brasil e da maior coleção de retratos originais publicados no País. A mostra é uma iniciativa do Instituto Sébastien Sisson e da iGUi Worldwide. A abertura acontece no dia 25 de outubro, às 14h.
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Com curadoria de Bárbara Ferreira, a mostra reúne obras raras da iconografia brasileira e demais itens históricos de grande valor, oferecendo uma jornada única pela história do Brasil por meio do estreito relacionamento do artista com a Biblioteca e do grande acervo de sua autoria preservado por esta instituição.
A exposição traz mais de 170 itens históricos e estará aberta ao público até janeiro de 2025 com o intuito de apresentar a especialidade artística de Sisson: os retratos litografados. São mais de 100 retratos de personalidades históricas do Brasil do século XIX, entre eles de D. Pedro II e de José de Alencar, de autoria do artista que, pelos serviços de restauro prestados à BN, foi condecorado pelo próprio Imperador.
Outras duas importantes vertentes artísticas de Sisson serão exibidas na mostra: as belíssimas gravuras de paisagens e monumentos da segunda metade dos anos 1800 e divertidas charges e caricaturas que ilustraram periódicos daquela época, incluindo a primeira história em quadrinhos brasileira (O Namoro, Quadros ao Vivo), publicada em "O Brasil Ilustrado" de 15 de outubro de 1855.

Sisson e a Biblioteca Nacional

Sébastien Sisson tem sua história intimamente ligada à Biblioteca Nacional. Na mais antiga instituição cultural do Brasil, fundada em 1810, o artista foi responsável por restaurar gratuitamente inúmeras gravuras que tinham se desgastado ao longo dos anos.

Como homenagem pelo bicentenário de nascimento de Sisson e por seu legado, o Salão da Biblioteca será palco da exposição de parte da vasta obra do retratista e litógrafo francês radicado no Brasil.
Para o presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, Sisson é uma das "lentes mais poderosas do século XIX no Brasil" por ter ampliado o olhar a respeito da história do próprio país por meio da litografia.
"Sisson deu rosto ao que hoje talvez não alcançasse mais que uma frase ou parágrafo. Permitiu a realização de biografias ilustradas, em sua famosa e rara Galeria. Uma perfeita conjunção entre a arte da foto e da litografia, mediante uma correta utilização do claro-escuro, da distribuição das figuras, bem como de certa imaginação e delicada ironia. Também conhecido pela sequência de imagem e palavra, como percurso de quadrinistas, entre o palácio e a rua, o rosto e a paisagem, sem perder uma atmosfera difusa, nítida e eloquente, quanto mais sutil e difusa", afirma Lucchesi, acrescentando que o artista é um patrimônio da história do Brasil e da Biblioteca Nacional.

Instituto Sébastien Sisson e a genealogia

Genealogista e designer, empresária do ramo de memória, especialista em Projetos de Design de História de Família, Bárbara explica que o início de sua paixão por genealogia foi por acaso. Interessada em desvendar detalhes sobre a família do marido, Christian Sisson, tataraneto de Sébastien, a curadora resolveu pesquisar sua árvore genealógica. Ao descobrir a participação importante do tataravô do esposo na história do País, percebeu que tinha algo extremamente valioso em mãos e assumiu a responsabilidade de cuidar dessa memória, criando o Instituto Sébastien Sisson (sebastiensisson.org), do qual é diretora-geral.

"Meu interesse por genealogia me levou a tomar conhecimento da vasta produção de gravuras do século XIX produzidas pelo antepassado do meu marido. Minha pesquisa genealógica sobre a Família Sisson no Brasil me fez chegar ao artista que incrivelmente é pouco conhecido pelos brasileiros, apesar da grande relevância histórica e artística de sua obra", detalha. Definindo como um "pecado"  a ausência de um trabalho de pesquisa que valorizasse o artista, Bárbara organizou paulatinamente a pesquisa até criar o Instituto Sébastien Sisson em 2012.

Um pouco mais sobre Sébastien Sisson

Nascido em 2 de maio de 1824 na cidade em Issenheim, região da Alsácia, na França, Sisson chegou ao Brasil, na então capital do Império, o Rio de Janeiro, em 1852, aos 28 anos de idade, onde se estabeleceu como desenhista-litógrafo, produzindo uma obra artística notável de grande relevância histórica.

No País, para além dos retratos, o litógrafo também se tornou conhecido por realizar gravuras dos cenários do Rio de Janeiro do século XIX. E indo além, Sisson tinha a preocupação em promover as artes por meio da educação. Por isso, o artista foi um dos 99 fundadores da Sociedade Propagadora das Belas Artes, que, por meio do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, promoveu gratuitamente o ensino técnico-profissional e artístico no Brasil.
Graças a esse trabalho artístico, Sisson foi amplamente reconhecido e, por seus serviços de restauro gratuitos de preciosas estampas de difícil reparo à Biblioteca Nacional, foi condecorado pelo Imperador D. Pedro II com a Ordem da Rosa, em 1882, deixando assim um legado duradouro na história iconográfica do Brasil. Outro título foi a condecoração, em 1864, pela Academia Imperial das Belas Artes depois que o artista apresentou dois retratos em litografia que lhe valeram uma medalha de prata concedida pela Academia. E outra conquista foi o título de Litógrafo Oficial. A litografia (ou litogravura) é a técnica de desenhar sobre uma pedra polida, usada como matriz para impressão da imagem pressionada contra o papel.
No ano de 1866, estabelecido no Centro do Rio de Janeiro, na Rua da Assembleia, 60, Sisson obteve autorização para afixar Armas Imperiais em frente à sua oficina litográfica, adotando o título de Litógrafo e Desenhador da Casa Imperial. A paixão pelo Brasil e pela cidade do Rio de Janeiro não ficou apenas nas gravuras. Embora tenha voltado à França para se casar com Marie Justine Faller em 1863, no mesmo ano o casal voltou para a então capital imperial, onde o casal teve quatro filhos, um deles falecido ainda criança. E também foi nesta cidade que ele residiu até falecer aos 74 anos, em 1898.

A exposição Sisson, 200 Anos pode ser vista de 25 de outubro até 22 de janeiro de 2025, das 10h às 17h, na Biblioteca Nacional (3º andar), na Avenida Rio Branco, 219, Cinelândia. A classificação é livre.

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