Publicado 14/10/2024 08:53
Rio - A Polícia Civil realizou uma ação, nesta segunda-feira (14), contra fraudes em uma seguradora de planos de saúde. Os alvos causaram prejuízo de R$ 11 milhões à empresa e são investigados pelos crimes de estelionato, associação criminosa e lavagem ou ocultação de bens e valores. A Operação Carência Zero cumpriu um mandado de prisão contra a líder da quadrilha, Adriana Neves na casa dela em Itaguaí, na Região Metropolitana, e outros cinco de busca e apreensão.
PublicidadeDe acordo com as investigações da 12ª DP (Copacabana), a fraude simulava vínculos empregatícios em empresas de fachada, criadas exclusivamente para contratar planos de saúde empresariais. Em seguida, os seguros eram vendidos indevidamente para pessoas físicas, que não teriam direito de adquirir planos coletivos, que não têm carência para utilização.
Os planos empresariais são destinados à pessoas que estejam vinculadas a empresas, através de relação de trabalho ou estatutária. Dessa forma, só podem usufruir sócios, administradores, empregados e familiares. As investigações descobriram que, ao todo, a quadrilha abriu dez empresas de fachada, entre 2010 e 2023, que não tinham sede nos endereços informados à seguradora. A maioria foi criada em locais com numérica inexistente.
"Conforme a seguradora verificava irregularidades no contrato, a quadrilha criava nova empresa e migrava as vidas seguradas, a fim de manter os planos de saúde em vigor", explicou o delegado titular da distrital, Ângelo Lages. De acordo com as investigações, o grupo criminoso também atuava em São Paulo.
Em depoimento, alguns dos beneficiários das empresas investigadas relataram que adquiriram o plano de saúde para passarem por procedimentos médicos que não seriam cobertos por planos por conta do período de carência, como cirurgias bariátricas, partos e até remoção de tumor cerebral. Eles contaram ainda que faziam pagamentos de valores mensais à Adriana Neves Castro, líder da quadrilha presa nesta segunda-feira.
Parte do dinheiro era repassado ao filho de Adriana, como forma de ocultação patrimonial. Segundo a Polícia Civil, o grupo criminoso simulou o vínculo empregatício de mais de 800 pessoas. A mulher ainda criou uma "taxa de isenção de carência", de cerca de R$ 3 mil a R$ 4 mil por cliente. Além de receberam todos os meses um percentual dos planos vendidos, ainda lucravam com a venda da carência. Em apenas seis meses de 2023, a quadrilha movimentou mais de R$ 2 milhões.
"Todos os planos têm a carência. Você tem que ficar dois anos num plano para você conseguir fazer a bariátrica. Então, essa é uma forma que você consegue entrar rápido", afirma Adriana em um áudio em que negociava o plano de saúde e a taxa de carência, obtido pela Polícia Civil. "É R$ 3,5 mil cada um e está na promoção, porque eu cobro R$ 4 mil", diz ela em outro.
Nas eleições municipais de 2024, Adriana concorreu ao cargo de vereadora do município de Itaguaí, pelo União Brasil. Em um vídeo publicado nas redes sociais, ela se apresenta como uma mulher casada, mãe de um estudante de Direito de 20 anos e diz que sua jornada começou como corretora de planos de saúde, mas que realizou o sonho de abrir uma loja de roupas e uma clínica médica, e já atua há 14 anos como empresária. Ela não foi eleita.
A reportagem de O DIA tenta contato com a defesa de Adriana Neves Castro. O espaço está aberto para manifestação.
Quadrilha tinha envolvimento de contador e médico
A organização criminosa tinha participação de um contador, que era responsável pela abertura das empresas de fachada, bem como de captadores de clientes, que ficavam em locais de grande movimentação oferecendo os planos de saúde. Há suspeitas também do envolvimento de um médico, que realizava cirurgias bariátricas e indicava aos pacientes a contratação do plano de saúde, para a realização imediata de consultas e do procedimento.
A primeira fase da operação teve apoio do Ministério Público do Rio (MPRJ) e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Com os mandados cumpridos, a delegacia pretende colher mais provas, localizar e ouvir pessoas que foram utilizadas para a abertura das empresas de fachada, para verificar se estão associados a quadrilha ou se tiveram seus dados utilizados. Os agentes também querem identificar os captadores de clientes, apurar a conduta do médico e qualificar possíveis outros integrantes da quadrilha.
Segundo a 12ª DP, também será apurada a conduta das pessoas que adquiriram os planos empresariais fraudulentos, para verificar a responsabilidade criminal. Elas podem ter que reparar os prejuízos causados à seguradora pela utilização indevida dos planos. A operação contra a quadrilha deve beneficiar os usuários de planos de saúde, já que as fraudes impactam os preços para o consumidor final, de acordo com a Polícia Civil.
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