Estudos mostram que a XEC, que deriva da variante da Omicron, emergiu da recombinação genética entre cepasiStock
Publicado 14/10/2024 20:13 | Atualizado 14/10/2024 21:15
Rio - A nova variante da Covid-19, chamada XEC, foi detectada no Rio de Janeiro, acendendo alertas sobre sua transmissibilidade. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificou a variante em amostras de dois pacientes da capital. A XEC é fruto de uma recombinação genética de linhagens anteriores da Ômicron, o que levanta questionamentos sobre os possíveis riscos associados.
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Em entrevista ao DIA, a infectologista Tânia Vergara, membro da diretoria da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, informou que a XEC possui mutações que podem favorecer sua disseminação. 
"É resultado da recombinação genética entre as linhagens KS.1.1 e KP.3.3, apresentando mutações adicionais que podem favorecer sua disseminação. Até o momento não temos evidências de que a XEC se relaciona a maior gravidade ou que tenha uma sintomatologia diferentes das outras variantes da Ômicron. Ela foi classificada como uma variante em monitoramento porque as mutações que possui podem afetar o comportamento do vírus e levar a vantagem de crescimento em relação a outras variantes", explica a especialista. 
Marcos Lago, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj, destacou as características que justificam o monitoramento da XEC pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
"É uma variante que surgiu agora, ela é um pouco diferente das outras. Não é só uma mudança pequena na estrutura, em alguns pontos, ela foi uma combinação de duas cepas e tem uma característica genética bastante diferente das anteriores. Por isso foi considerada uma variante de monitoramento. Ela não é uma variante de preocupação como foi a ômicron, mas a gente não sabe para onde ela vai. É preciso ficar monitorando atentamente para saber o que vai acontecer", detalha.
Lago ressaltou que mutações em vírus são comuns. No entanto, ele reforça que, graças à imunização e infecções anteriores, o impacto da nova variante deve ser limitado.
"Provavelmente a variante pode, até em determinado momento, vir a provocar uma nova onda de Covid em todo o mundo. Essa nova onda vai ter a mesma gravidade do que as anteriores? Não. A grande chance é que ela tenha uma gravidade menor, seja uma doença menos agressiva, se comportando como uma infecção viral comum. Isso porque o nosso sistema imunológico já foi submetido a muitos desafios. Por conta de você ter sido vacinado, ou já ter pego Covid, o sistema imunológico reconhece esse vírus, mesmo que ele seja diferente dos anteriores, e consegue combatê-lo de forma eficaz", diz o professor. 
O infectologista pediátrico André Ricardo Araújo, professor da Universidade Federal Fluminense, acrescentou que os sintomas da XEC são semelhantes aos de um quadro gripal comum, com febre, tosse e dores no corpo. 
"É como se fosse um quadro gripal, com aqueles sintomas clássicos da Covid. Febre, tosse, dor no corpo. Isso não varia muito em relação a, nesse momento, termos um padrão diferente. O fato é que a gente tem o imunizante que dá conta de fazer a ação contra essa variante", conclui.
Vergara enumera os cuidados principais: "Manter a vacinação em dia, conforme disponibilizada pelo Ministério da Saúde; Manter sempre as mãos limpas, lavando frequentemente com água e sabão ou com álcool. No caso de sintomas respiratórios procure atendimento médico. O teste para COVID-19 está amplamente disponível nas unidades básicas de saúde. Use máscara e fique em casa para evitar disseminação da infecção. Evite locais fechados e com aglomeração de pessoas". 
Monitoramento
As amostras analisadas pela Fiocruz foram coletadas de pacientes diagnosticados com Covid-19 em setembro. A identificação da nova variante foi conduzida pelo Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), que é referência para o monitoramento do SARS-CoV-2 junto ao Ministério da Saúde e à Organização Mundial da Saúde (OMS).
"A recombinação genética é um fenômeno frequente do SARS-CoV-2 e ela ocorre, principalmente, quando diferentes linhagens circulam numa população e acabam, por exemplo, duas linhagens distintas infectando o mesmo indivíduo. E durante o processo replicativo viral acaba pegando o pedaço de uma linhagem e de outra linhagem, montando, então, uma linhagem recombinada. E esse vírus, passando a ser viável, passa a ser transmitido pela população", explica ao DIA a virologista Paola Resende, pesquisadora do laboratório da Fiocruz.
O achado foi comunicado ao Ministério da Saúde e às Secretarias Estadual e Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. As sequências genéticas foram depositadas na plataforma online Gisaid em 26 de setembro e 7 de outubro. Resende destaca a importância do monitoramento contínuo em todo o Brasil.
"A vigilância genômica é uma importante ferramenta pra monitoramento da circulação e emergência de novas variantes e ela precisa continuar de forma homogênea no país. O Ministério da Saúde tem um acordo com notas técnicas, manuais, guias de vigilância genômica, que tem alguns critérios que elegem algumas amostras positivas para SARS-CoV-2 serem sequenciadas dentro da rede nacional. E é necessário que essa amostra seja coletada dentro do programa de vigilância. E após o exame de PCR ser positivo e elegível para sequenciamento, essa amostra é encaminhada para decodificação desse genoma e entendimento do que é e qual a linhagem desse vírus", reforça Resende.

Após o depósito das sequências do Rio de Janeiro, também foram depositados, por outros grupos de pesquisadores, genomas da linhagem XEC decodificados em São Paulo, a partir de amostras coletadas em agosto, e em Santa Catarina, de duas amostras coletadas em setembro.
Sobre a variante XEC
Segundo a Fiocruz, análises indicam que a XEC surgiu através da recombinação genética entre cepas que circulavam anteriormente. O fenômeno ocorre quando um indivíduo é infectado por duas linhagens virais diferentes simultaneamente. Nesta situação, pode ocorrer a mistura dos genomas dos dois patógenos durante o processo de replicação viral.

O genoma da XEC apresenta trechos dos genomas das linhagens KS.1.1 e KP.3.3. Além disso, a linhagem apresenta mutações adicionais que podem conferir vantagens para a sua disseminação.
 
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