Álvaro Malaquias, o Peixão, está foragido da Justiça do RioReprodução
Publicado 28/10/2024 17:36 | Atualizado 28/10/2024 18:14
Rio - Considerado um dos criminosos mais procurados do Rio de Janeiro, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, Alvinho ou Aarão, de 38 anos, possui uma extensa ficha criminal e chama a atenção das autoridades por práticas incomuns no mundo do tráfico. O nome do criminoso foi bastante citado nos últimos dias, devido à série de episódios violentos registrados no Complexo de Israel, região é formada por cinco comunidades: Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco-Bocas.
Publicidade
O líder do Terceiro Comando Puro (TCP) está na mira das polícias Civil e Militar há pelo menos 12 anos, quando iniciou uma política de expansionismo violento para tomar territórios do Comando Vermelho (CV). Contra ele constam 7 mandados de prisão por homicídio, tortura, associação ao tráfico e ocultação de cadáver e pelo menos 20 inquéritos em aberto. Recentemente, Peixão também passou a ser investigado por terrorismo
Os primeiros registros de Peixão no mundo do crime são de 2012, quando dois homens foram executados a tiros em Parada de Lucas. Em 2019, a Polícia Civil concluiu que Peixão foi um dos responsáveis por sequestrar, torturar e matar oito jovens na Zona Norte. Os restos mortais das vítimas jamais foram localizados. 
Em meio a pandemia, entre 2020 e 2021, Álvaro Malaquias iniciou a criação do Complexo de Israel, um território atualmente considerado bem estruturado e com regras tanto para os integrantes do tráfico quanto para os moradores. Para integrar as cinco comunidades, Peixão ordenou a criação de pontes entre os territórios. As investigações da Polícia Civil apontam que o criminoso do TCP investe em câmeras de segurança para controlar o espaço.
Peixão se mantém protegido pela 'Tropa do Arão', como se intitulam os criminosos que fazem a sua segurança, e por um forte poder bélico. Em maio de 2023, durante uma operação da Polícia Civil, mais de R$ 1 milhão em armamento foram apreendidos no Complexo de Israel. Entre as armas apreendidas, estavam uma metralhadora. 50 e outra.30. Estes armamentos são capazes de perfurar veículos blindados e podem derrubar aeronaves. Outros 15 fuzis, 21 granadas e milhares de projéteis foram apreendidos. 
Somado a todos esses fatores citados anteriormente, o Complexo de Israel se transformou em um território altamente hostil. Em abril deste ano, Stanley Pinheiro Fernandes Leite, de 19 anos, e outros dois amigos, entraram por engano na região. Na comunidade, eles foram agredidos e extorquidos pelos criminosos, que libertaram duas vítimas. No entanto, o jovem de 19 anos não foi liberado e seguiu sendo mantido como refém pelos bandidos.
A mãe contou que o rapaz é filho de um sargento da Polícia Militar, apesar de não ter contato frequente com o pai. Essa é uma das hipóteses que está sendo investigada pela Polícia Civil para entender o porquê do Stanley não ter sido liberado com os amigos. Além disso, os criminosos vasculharam o celular e viram que ele mora próximo ao Complexo do Chapadão, comunidade dominada por uma facção rival.
Religião e o crime organizado
Adepto de símbolos de Israel, como a Estrela de Davi, o traficante passou a ser conhecido por sua intolerância contra praticantes de religiões de matriz africana e costuma expulsar esses moradores de suas áreas de influência, além de determinar a invasão e depredação de centros religiosos. A religiosidade de Peixão é tamanha que ele se autointitula como Arão, o profeta de Deus, irmão de Moisés. O nome foi assumido também pela sua quadrilha que se autodenomina "Tropa do Arão". O próprio Complexo de Israel, seria uma referência à terra prometida.
Além disso, o traficante também usa símbolos para marcar seus territórios, que geralmente estão colocados em pontos altos das comunidades. Na Cidade Alta, por exemplo, foi instalada uma Estrela de Davi que pode ser vista a mais de 2,5km de distância.
Álvaro Malaquias também teria dado ordens contra o funcionamento das igrejas católicas em julho deste ano. Algumas igrejas católicas dos bairros Brás de Pina e Parada de Lucas, na Zona Norte, teriam sido proibidas de realizar missas e atividades no dia 6 de julho por ordem do criminoso. Segundo denúncia de moradores, bandidos armados foram presencialmente às paróquias para obrigar o fechamento. Apesar dos relatos e confirmação do não funcionamento das paróquias, o Governo do Estado negou a informação e diz que a PM "garante a segurança dos fiéis".
Em comunicado nas redes sociais, pelo menos três igrejas da região relataram o encerramento temporário dos serviços, foram elas: Paróquia Nossa Senhora da Conceição e São Justino, em Parada de Lucas; Paróquia Santa Edwiges e Paróquia Santa Cecília, ambas em Brás de Pina. O motivo do fechamento não foi divulgado.
Casas de luxo para Peixão e comparsas
Em julho do ano passado, a Polícia Militar localizou três residências luxuosas do traficante na comunidade Para-Pedro. Em uma das casas foi encontrado um amplo espaço de lazer, com piscina, lago artificial, pedalinho e grama sintética. Já em outra residência, descoberta pela Polícia Civil há dois anos, os agentes encontraram ao lado da piscina uma enorme pichação que retrata a cidade de Jerusalém, com imagens de soldados e o símbolo da estrela de Davi, em alusão ao Complexo de Israel.
Nas áreas internas da casa tinha uma academia equipada com aparelhos modernos de ginástica, um banheiro com hidromassagem e cozinha com eletrodomésticos novos.
No início de outubro deste ano, mais um 'resort' de Peixão foi descoberto pela polícia. Os investigadores encontraram um imóvel de luxo em Parada de Lucas. De acordo com o delegado Fábio Asty, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), que realizou a ação, 'Peixão' morava no imóvel de luxo, mas conseguiu fugir antes da chegada dos policiais, na manhã desta quinta-feira. O espaço conta com um grande lago artificial com carpas, área de lazer e uma academia de ginástica totalmente equipada. Assim como nos espaços anteriores, o local também era decorado com Estrelas de Davi.
Leia mais