Publicado 31/10/2024 19:35
Rio - "São seis anos que estamos lutando e nunca paramos de acreditar". Assim desabafou Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, após a condenação dos assassinos de sua filha. Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz receberam penas de mais de 50 anos de prisão, cada um, e responderão pela execução da vereadora, do motorista Anderson Gomes e pela tentativa de homicídio contra a assessora Fernanda Chaves.
Publicidade"A nossa coragem trouxe a gente até aqui. O dia de hoje entra para a história da democracia desse país. A gente vai seguir lutando", completou Luyara Franco, filha da vereadora.
Lessa recebeu a pena de 78 anos de prisão e nove meses, e Élcio a 59 anos e oito meses. Eles foram condenados pelos crimes: duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima); tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle; receptação do Cobalt prata, clonado, que foi usado no crime.
Monica Benício, vereadora do Rio e viúva de Marielle, exaltou a sentença lida pela juíza: "O discurso da sentença fez jus à nossa luta. Marielle foi morta pelo que defendia. Não há justiça que traga eles, mas é o principal recado: que não tenham a sensação de impunidade. A gente segue na luta, em especial para derrotar o que assessorou eles: a violência política. Os assassinos achataram que o seu corpo era descartável. Marielle presente é levada a sua memória adiante para seguir na luta".
Além da pena, os dois terão que pagar uma pensão ao filho de Anderson até que ele complete 24 anos, e R$ 706 mil de danos morais para cada uma das vítimas (Agatha Arnaus e o filho, Luyara Franco, Mônica Benicio e Marinete Silva). A prisão preventiva foi mantida, sem o direito de recorrer em liberdade.
Agatha, emocionada, disse que não viu verdade no pedido de perdão dos réus confessos durante o julgamento. "Eu vi um pedido de perdão por alguém que não tem nenhum sentimento. Quem tem que perdoar é Deus ou algo que ele acredita. Que eles eram assassinos a gente já sabia", disse. Agatha também se referiu aos irmãos Brazão, apontados como mandantes do crime. "A morte deles foi encomendada com o dinheiro da população, hoje tem parlamentares sendo investigados por isso", disse
"A gente lutou como que se estivesse pedindo favor. Hoje, estou feliz e agradecida pelo que a gente conquistou. Que eles fiquem lá para sempre", completou Agatha.
A ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, irmã de Marielle, relembrou seu discurso de 2018, quando afirmou que buscaria justiça pela vereadora após o assassinato. Ela reforçou a importância de honrar o legado de sua irmã e de todos aqueles que são vítimas da violência.
"Foram dias e noites vendo a dor. O maior legado que ela deixa para esse país é que mulheres, pessoas negras, quando chegam nos seus postos merecem estar vivas. A justiça começou a ser feita. A justiça melhor seria se não tivéssemos aqui hoje. A gente está aqui hoje dando uma resposta para o mundo inteiro. Aqui a gente responde com muita força: enquanto tiver sangue correndo sangue nas veias, vamos defender o legado de Marielle e Anderson. As pessoas precisam parar de normalizar isso, ver corpos tombados pela violência. Não vamos parar por aqui. Em 2018 eu disse que ia buscar justiça. Ainda tem muito caminho pela frente", afirmou.
Os sete jurados se reuniram na sala secreta do TJRJ por pouco mais de 1 hora. Eles estavam acompanhados da magistrada, MPRJ e um representante de cada um das defesas dos réus.
Um dos mais emocionados ao receber a sentença, o pai de Marielle também falou com a imprensa ao fim do julgamento. "A nossa luta começa no dia 15 de março, que ecoou até uns anos atrás. A primeira pergunta: quando serão condenados os mandantes? Aquele choro que eles exigem nas oitivas não é sincero. O nosso choro sim, é sincero. Podemos até dar o perdão, mas eles não estão arrependidos", disse Antônio Francisco da Silva.
Delação premiada
É importante destacar que os ex-PMs firmaram um acordo de delação premiada, no qual ficou estabelecido que Ronnie Lessa cumprirá, no máximo, 18 anos em regime fechado e mais 2 anos em semiaberto, enquanto Élcio ficará, no máximo, 12 anos em regime fechado. Esse prazo começou a ser contado a partir da prisão de ambos, em 12 de março de 2019.
Como parte do acordo, ambos obtiveram o benefício de transferência dos presídios federais de segurança máxima para penitenciárias estaduais. No entanto, o acordo poderá ser anulado caso seja comprovado que algum dos dois mentiu durante o processo de delação.
Relembre o caso
Ronnie e Élcio foram presos em 12 de março de 2019, cerca de um ano após a execução da vereadora e do seu motorista. Na prisão, Ronnie já teria confessado ser o autor dos disparos que atingiram o carro da parlamentar. Enquanto Élcio era o responsável por dirigir Chevrolet Cobalt prata, usado na emboscada.
Desde que o caso aconteceu, as investigações sobre a morte de Marielle passaram por várias instâncias da segurança pública no Rio, com trocas de delegados responsáveis pela Delegacias de Homicídios (DH). Os últimos episódios desses mais de seis anos sem resposta foi a prisão dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, apontados por Lessa como mandantes do assassinato da vereadora, em 24 de março deste ano.
O crime teria sido encomendado pelos irmãos, réus desde junho em processo que também apura a morte da vereadora e do motorista. Segundo investigação da Procuradoria Geral da República (PGR), a morte de Marielle seria uma maneira de frear os embates da parlamentar contra os loteamentos clandestinos de terras na Zona Oeste. A vereadora teria sido contra uma série de projetos de leio que favoreciam ao clã Brazão. Os dois possuíam interesse econômico direto na aprovação das normas legais que facilitassem a regularização, uso e ocupação do solo na Zona Oeste, que inclui áreas dominadas pela milícia.
Desde que o caso aconteceu, as investigações sobre a morte de Marielle passaram por várias instâncias da segurança pública no Rio, com trocas de delegados responsáveis pela Delegacias de Homicídios (DH). Os últimos episódios desses mais de seis anos sem resposta foi a prisão dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, apontados por Lessa como mandantes do assassinato da vereadora, em 24 de março deste ano.
O crime teria sido encomendado pelos irmãos, réus desde junho em processo que também apura a morte da vereadora e do motorista. Segundo investigação da Procuradoria Geral da República (PGR), a morte de Marielle seria uma maneira de frear os embates da parlamentar contra os loteamentos clandestinos de terras na Zona Oeste. A vereadora teria sido contra uma série de projetos de leio que favoreciam ao clã Brazão. Os dois possuíam interesse econômico direto na aprovação das normas legais que facilitassem a regularização, uso e ocupação do solo na Zona Oeste, que inclui áreas dominadas pela milícia.
A vereadora Marielle Franco foi assassinada na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, Região Central do Rio. A parlamentar, que estava acompanhada do motorista Anderson Gomes, de 39 anos, e da assessora Fernanda Chaves, de 43, voltavam de um evento de mulheres negras na Rua dos Inválidos, na Lapa.
O carro onde a vereadora estava passava pela Rua Joaquim Palhares, próximo a Praça da Bandeira, quando um carro, modelo Chevrolet Cobalt, na cor prata, emparelhou com o veículo. Em seguida, foram feitos nove disparos. Quatro deles atingiram Marielle, sendo três na cabeça e um no pescoço. Anderson foi atingido por três disparos nas costas, ambos morreram dentro do carro. A assessora ficou ferida por estilhaços.
O carro onde a vereadora estava passava pela Rua Joaquim Palhares, próximo a Praça da Bandeira, quando um carro, modelo Chevrolet Cobalt, na cor prata, emparelhou com o veículo. Em seguida, foram feitos nove disparos. Quatro deles atingiram Marielle, sendo três na cabeça e um no pescoço. Anderson foi atingido por três disparos nas costas, ambos morreram dentro do carro. A assessora ficou ferida por estilhaços.
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