Segundo a Polícia Civil, a prova técnica é fundamental para a responsabilização criminalDivulgação / Polícia Civil
Publicado 02/11/2024 12:33
Rio - Agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) realizaram, neste sábado (2),  perícias complementares na Linha Vermelha e na rodovia Washington Luiz. As reproduções simuladas vão auxiliar nas investigações das mortes de três pessoas durante uma operação da Polícia Militar em pontos próximos ao Complexo de Israel, no dia 24 de outubro.
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A ação foi agendada para o final de semana com intuito de evitar impactos no trânsito. Segundo a Polícia Civil, a prova técnica é fundamental para a responsabilização criminal dos autores do crime. Na ocasião, criminosos trocaram tiros com os militares, que tiveram que recuar.
As vítimas estavam no trânsito em três vias diferentes, a uma distância que variava de 200 a 2 km de onde ocorria a ação. O que estava mais próximo da comunidade Cidade Alta, uma das localidades onde PMs atuavam, era o açougueiro Ricardo Oliveira, de 48 anos. Ele foi atingido por um disparo na cabeça enquanto seguia para o trabalho, dentro de um ônibus da linha 493 (Ponto Chic x Central). Renato chegou a ser socorrido em estado grave e encaminhado ao Hospital Federal de Bonsucesso, onde passou por cirurgia, mas não resistiu.
O motorista de caminhão Geneilson Eustáquio Ribeiro, de 49 anos, dirigia o veículo de carga pela pista sentido Rio da Rodovia Washington Luiz (BR-040), próximo ao Trevo das Missões, quando também foi morto por um disparo que atingiu sua cabeça. O local onde o caso aconteceu fica cerca de 1 km de distância da favela Cidade Alta.
Já Paulo Roberto de Souza, de 60 anos, foi a vítima mais distante dos locais onde ocorriam as ações. Ele dirigia o veículo que usava para trabalhar em aplicativos de corridas pela Linha Vermelha. Na altura do Parque Duque, cerca de 2 km de distância da comunidade, um tiro de fuzil o acertou.
Atentado terrorista
Na dia do crime, logo após o incidente, o governador Cláudio Castro já havia definido a ação dos criminosos como um atentado terrorista. "Foi uma operação de inteligência, uma operação que a Polícia sabia o que estava fazendo. Infelizmente, tivemos uma reação por parte do tráfico muito desproporcional, inclusive a outras ações que já foram feitas na Cidade Alta nos últimos meses. Nunca tivemos nada similar a isso. O que a gente viu foi um ato de terrorismo. Não dá para classificar de outra forma. É só ver como foi a configuração. A Polícia estava de um lado e a ordem foi atirar nas pessoas que estavam do outro lado. Não foi uma troca de tiros que acertou as pessoas", disse o governador.

A operação da PM aconteceu em três das cinco comunidades que integram o território chamado de Complexo de Israel, que é dominado pelo traficante Álvaro Malaquias, o Peixão. As favelas envolvidas na ação foram a Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco Bocas. As três áreas ficam entre os bairros de Cordovil e Brás de Pina e margeiam a Avenida Brasil.
A Polícia Civil abriu mais um inquérito contra Álvaro Malaquias Santa Rosa, o 'Peixão', chefe do tráfico de drogas do Complexo de Israel, para investigar se ele cometeu terrorismo.
Contra Peixão constam 20 mandados de prisão por crimes como homicídio, tortura, associação ao tráfico, roubos e ocultação de cadáver. Ele atualmente é considerado foragido da Justiça.
Saiba quem é Peixão
Considerado um dos criminosos mais procurados do Rio de Janeiro, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, Alvinho ou Aarão, de 38 anos, possui uma extensa ficha criminal e chama a atenção das autoridades por práticas incomuns no mundo do tráfico.
Ele lidera o Complexo de Israel, região formada por cinco comunidades: Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco-Bocas. O líder do Terceiro Comando Puro (TCP) está na mira das polícias Civil e Militar há pelo menos 12 anos, quando iniciou uma política de expansionismo violento para tomar territórios do Comando Vermelho (CV). 
Peixão se mantém protegido pela 'Tropa do Arão', como se intitulam os criminosos que fazem a sua segurança, e por um forte poder bélico. Em maio de 2023, durante uma operação da Polícia Civil, mais de R$ 1 milhão em armamento foram apreendidos no Complexo de Israel. Entre as armas apreendidas, estavam uma metralhadora. 50 e outra.30. Estes armamentos são capazes de perfurar veículos blindados e podem derrubar aeronaves. Outros 15 fuzis, 21 granadas e milhares de projéteis foram apreendidos.
Somado a todos esses fatores citados anteriormente, o Complexo de Israel se transformou em um território altamente hostil. Adepto de símbolos de Israel, como a Estrela de Davi, o traficante passou a ser conhecido por sua intolerância contra praticantes de religiões de matriz africana e costuma expulsar esses moradores de suas áreas de influência, além de determinar a invasão e depredação de centros religiosos. 
A religiosidade de Peixão é tamanha que ele se autointitula como Arão, o profeta de Deus, irmão de Moisés. O nome foi assumido também pela sua quadrilha que se autodenomina "Tropa do Arão". O próprio Complexo de Israel, seria uma referência à terra prometida.
Além disso, o traficante também usa símbolos para marcar seus territórios, que geralmente estão colocados em pontos altos das comunidades. Na Cidade Alta, por exemplo, foi instalada uma Estrela de Davi que pode ser vista a mais de 2,5km de distância.
 
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