Publicado 01/12/2024 14:20
Rio - A fumaça das ervas defumadas purificou a volta do povo à Casa do Jongo da Serrinha, um dos berços da cultura e tradição afro do Rio, na manhã deste domingo (1), durante a reabertura do espaço. O galpão, que abriga uma quadra, salas de aula, cozinha, além de uma área dedicada à memória dos seus fundadores, foi totalmente reformado após quase mais de quatro anos de portas fechadas. A estrutura não abria desde a pandemia de covid-19, em 2020.
PublicidadeMatriarca da Casa e neta de Tia Maria, uma das fundadoras da casa do Jongo, Deli Monteiro, contou ao DIA sobre a dificuldade do período sem funcionamento e da alegria de ver a vida novamente do espaço. "Para todos nós do Jongo da Serrinha foi muito triste passar pela porta e ver tudo fechado. Um lugar que era de festa, de alegria, sem poder abrir por causa da pandemia. Ainda perdemos muitos na pandemia. Ver essa abertura hoje, para mim, é uma alegria imensa", comemorou Deli.
A reinauguração do espaço contou com uma programação que começou às 9h, com uma prece na quadra da casa. Na sequência, por volta das 10h, foi realizado um cortejo que começou na esquina da Avenida Ministro Edgard Romero com a Rua Compositor Silas de Oliveira, onde fica a Casa do Jongo da Serrinha. A caminhada foi feita ao som da bateria do bloco Cordão do Boitatá, que fez parte da festa de reabertura. Ao fim do trajeto, já na porta do espaço, uma roda de capoeira foi aberta e acompanhada de perto pelos visitantes do jongo.
O evento seria acompanhado pelo prefeito Eduardo Paes, mas a participação acabou sendo cancelada por conta de uma coletiva no Centro de Operações Rio. O secretário municipal de Cultura, Marcelo Calero, representou o município. "Primeiro falando da importância da Casa do Jongo, que é o lugar onde é cultivada, celebrada e passada para as próximas gerações. É a memória dessa manifestação cultural que tem tudo a ver com a nossa história, com a história da nossa cidade e da população negra que construiu essa cidade. É o protagonismo negro", pontuou.
Calero também defendeu que a reforma do espaço é mais uma maneira de posicionar o Rio como a capital da cultura no país. "Temos a responsabilidade como capital cultural do país de investir nesses lugares de memória e temos feito isso com por meio de vários programas, como o cultura do amanhã e bibliotecas do amanhã, nossos fomentos, nossos translocais e temos sempre isso como um mantra a questão da territorialização e democratização dos investimentos da Secretaria de Cultura e sem dúvida a Casa do Jongo é um dos exemplos", enfatizou o secretário.
Os deputados federais Henrique Vieira (PSol) e Jandira Feghali (PCdoB) participaram do evento de reabertura do espaço. A parlamentar, inclusive, foi uma das responsáveis por emendas que permitiram a realização das obras no local.
Para Ivo Mendes, vice-presidente da Casa do Jongo da Serrinha e filho de Tia Maria, uma das principais matriarcas da história do espaço, a reinauguração é uma oportunidade de manter o legado de todos que vieram antes. "Estive aqui por muito tempo, quase toda minha vida na verdade, acompanhando a minha mãe à frente da casa. Ver esse legado dela vivo de novo é muito emocionante. Chego a ficar emocionado só de pensar nisso", diz Ivo.
Segundo Mendes, a renovação da cultura do Jongo ganha sobrevida com a volta do espaço. "As crianças atendidas aqui voltam a ter seu espaço de aprendizado, de inclusão e podem conhecer a riqueza cultural por trás desse espaço", explicou.
A manhã de programação do evento de reinauguração contou com uma roda de jongo com a participação do Caxambu do Salgueiro, Caxambu de Miracema e o Jongo do Quilombo do Bracuí. Segundo os organizadores, o momento é a conclusão de oito semanas de um evento chamado de Encontro dos Jongueiros.
A celebração segue com a feijoada da Casa do Jongo da Serrinha e, durante à tarde, haverá uma nova de roda de samba com o Samba da Serrinha. A festa deve começar às 16h e só termina ás 20h.
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