Com centenas de luzes e enfeites, casa na Rua Grajaú atrai olhares de crianças, adultos e motoristas  - Pedro Teixeira/Agência O Dia
Com centenas de luzes e enfeites, casa na Rua Grajaú atrai olhares de crianças, adultos e motoristas Pedro Teixeira/Agência O Dia
Publicado 19/12/2024 12:28
Rio - Há cerca de 45 anos, uma casa na Rua Grajaú mantém vivo o espírito do Natal e causa encantamento nos moradores do bairro da Zona Norte. Com centenas de luzes e enfeites, o imóvel atrai olhares de crianças, adultos e até de motoristas, que chegam a parar os carros para observarem melhor aquele pedacinho de magia em meio às casas e prédios.

A microempresária Renata Cardoso, 67, conta que imóvel pertence à família há cerca de 80 anos e a iniciativa de transformá-lo em uma verdadeira Casa do Papai Noel começou com a mãe dela, época em que era decorada com trenós e 30 mil luzes. Com a morte da matriarca em 2018, a idosa contou que abandonou a tradição durante alguns anos, mas que os vizinhos, especialmente as crianças, diziam sentir falta de alegria que vinha da casa, o que a ajudou a superar o luto.
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"Eu perdi total a vontade de continuar com essa tradição. As crianças passavam aqui e falavam: "o Papai Noel não veio", e aquilo me doía terrivelmente. Até que eu decidi voltar aos pouquinhos e agora os vizinhos falam que Natal só começa no Grajaú quando eu começo a montar a casa", brincou Renata, que disse que além de levar a magia da época ao bairro, encontrou uma forma de homenagear a mãe. "É uma reverência à minha mãe, sei que ela está vendo lá de cima que eu estou dando continuidade ao propósito dela". 

Avó do pequeno Arthur, de 2 anos, Renata afirma que ver a alegria no olhar das crianças é o que a motiva a preparar a decoração especial todos os anos e que agora tem um incentivo ainda maior, já que o menino também adora os enfeites. Segundo a microempresária, os pequenos costumam deixar cartinhas para o Bom Velhinho em sua caixa de correio, relatando como foram comportados ao longo do ano e fazendo seus pedidos. Como forma de adoçar ainda mais a vida deles, ela costuma oferecer jujubas para os que se aproximam do imóvel.

"Acho que tudo que se faz com prazer, é recebido com uma energia boa. Apesar de já ter 67 anos, eu sou 'ligada no 220 (volts)'. Quanto mais a gente agitar, mais vida você traz para você, porque se ficar só reclamando, não adianta nada, e eu ainda tenho muita coisa para fazer".
A moradora do Grajaú disse que não consegue mais abrir o espaço para visitantes, por conta da insegurança na região, mas pontuou que a violência não vai a impedir de manter a tradição, ainda que precise se adaptar a uma nova realidade. "Antes, eu abria a casa para as pessoas entrarem, mas a insegurança está muito grande, então, essa parte não dá mais. Às vezes, eu vejo a criança olhando e pergunto se quer tirar foto e deixo entrar rapidinho".

A união faz a força

Para decorar a casa de mais de 600 metros quadrados, Renata tem como braço-direito o ajudante Niagui Duarte Cavalcante, de 31 anos. De acordo com ele, os preparativos começam em outubro, quando eles passam a rever fotos das edições anteriores para não repetirem a decoração e fazem os testes de posicionamento dos enfeites e luzes. A montagem começa nos primeiros dias de novembro e no fim do mesmo mês, o imóvel deixa de ser a residência da família Cardoso para se tornar a Casa do Papai Noel.

"É uma missão importante. Em outubro, a gente já começa a planejar, a separar as coisas e a ver onde vai ficar tudo. E o mês de novembro todo a gente fica na decoração. Todo ano a gente coloca e tira foto e no ano seguinte a gente compara para fazer diferente. É igual Carnaval, um dia de festa e o resto do ano planejando. Já estou até pensando na decoração do ano que vem", brincou Niagui.

A filha de Renata, Roberta Cardoso, também é parte importante da magia e fica responsável por tocar um sino que anuncia a chegada do Papai Noel. De acordo com a proprietária, todos os anos há um investimento significativo para renovar a decoração, que em 2024 conta com dezenas de bonecos infláveis do Bom Velhinho, urso polar que se mexe, trenó, renas, soldadinhos de chumbo, presépio, além de vários outros itens e luzes. Ela diz que para manter a atmosfera mágica, precisa consumir muita energia elétrica, o que não a desanima, já que, segundo Renata, sua recompensa é muito maior.

"Cada ano a gente inova na decoração, mas não é nada para ganhar concurso, para ser a casa mais bonita do Grajaú. O único propósito são as crianças, o brilho no olhar das crianças, é a esperança, a alegria. É um investimento muito grande, mas não tem dinheiro que pague o brilho nos olhos das crianças", afirmou a microempresária, que disse ainda torcer para que a alegria também alcance os adultos. "Quero deixar bem claro que Papai Noel existe, ele está dentro de nós. Eu espero que cada bolinha dessa vá junto com a pessoa para casa e brilhe no dia de Natal e durante todo o ano". 
Magia de infância mantém tradição de Natal
Além da Rua Grajaú, há ainda outras duas casas que chamam atenção dos moradores do bairro pela decoração especial, localizadas na Avenida Júlio Furtado e na Rua Bambuí. Em outras épocas do ano, como a Páscoa e o Halloween, os imóveis também ganham enfeites temáticos e fazem a alegria da criançada. 
Dona da casa na Avenida Júlio Furtado, a advogada Fabiana Pingitore, de 45 anos, conta que foi uma das crianças encantadas com a decoração que o imóvel exibia todos os Natais. O imóvel de 80 anos, da qual é proprietária há seis, foi adquirido por conta de uma memória afetiva e a partir do sonho de dar continuidade a uma tradição que iluminou o Grajaú por muitos anos. 
"Eu sou nascida e criada no bairro, achava o máximo as crianças batendo palmas para o Papai Noel dançar e dançarem juntos. Meu sonho era comprar a casa, consegui e mantenho a tradição. Tenho dois filhos que me ajudam a montar tudo, já é uma tradição arrumar a casa (...)  Minha mãe fez muitos bonecos que fazem parte da decoração e isso mostra que todos compartilham o amor e de alguma forma ele se espalha", relatou.
Para a advogada, além de manter uma tradição mágica e levar alegria para as crianças, a decoração é uma forma de espalhar uma mensagem de esperança nessa época do ano. "O mais importante é renovar a esperança de todos que por ali passam. Por mais triste que alguém possa estar, não tem como passar por aqui, ver o Papai Noel dançar e não dar um sorriso. Não ver as luzes e entender, que sempre tem luz no fim do túnel". 
Decoração encanta moradores
O empresário Rafael Ventura, de 33 anos, passava de carro pela Rua Grajaú, nesta terça-feira (18), quando o filho Romeu, de 2 anos, se encantou com a Casa do Papai Noel e eles pararam para tirar fotos. "Eu acho muito legal, porque não deixa morrer a essência e o espírito natalino. As crianças ficam encantadas e o maneiro é isso. Por isso que eu parei o carro aqui na frente, ele ficou apontando e falando: 'pai, o Papai Noel', contou.
Morando no bairro há dez anos, a produtora Gisele Costa, de 50 anos, destacou a importância das iniciativas. "Eu acho muito lúdico, muito importante para as crianças. O bairro fica lindo e mantém uma tradição bonita de Natal", afirmou.
A médica Catarina Sofia, 42, relatou que ao longo dos cinco anos em que vive no bairro, já se tornou obrigatório passar devagar pelas ruas nessa época. "A gente sempre vê as casas e a minha filha adora. Eu acho que tinha que ser mais incentivado pelos moradores, porque fica um charme o bairro, muito bonito. A gente sempre passa de carro quando está voltando da escola e ela pede para reduzir (a velocidade) para olhar e o olho dela brilha".

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