Primeira Igreja Batista em Vila Kennedy, na Zona Oeste Reprodução
Publicado 31/03/2025 19:51 | Atualizado 31/03/2025 19:59
Rio – O II Juizado de Violência Doméstica do Fórum Regional de Bangu realizou na tarde desta segunda-feira (31) a segunda audiência de instrução e julgamento no processo da família de uma menina contra um pastor que pregava na Primeira Igreja Batista em Vila Kennedy, Zona Oeste. Ele é acusado de abusar sexualmente da vítima em várias oportunidades, entre novembro de 2020 e abril de 2021, quando a criança tinha apenas 11 anos.
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Segundo a família, o abuso foi descoberto depois que a garota perguntou ao avô o que era estupro. Depois que ele explicou, ela relatou um contato físico por parte do pastor.
Depois, no consultório dele, que é psicólogo e se ofereceu para realizar um tratamento da menina, ela disse aos parentes, que ficaram do lado de fora aguardando, que o homem a teria colocado no colo, passado a mão nos seios dela e esfregado a barba em seu pescoço. Em uma outra oportunidade, ela chegou a gravar uma conversa entre os dois como prova.
Ao DIA, a mãe da vítima, que esteve na audiência com outros familiares como testemunha de acusação, lamenta, ainda muito abalada, a história: "O pastor era próximo da família, foi ele que levou minha filha para a igreja quando ela tinha dois anos. Pensávamos que era de boa índole, mas depois descobrimos que não presta".
'Nunca mais foi a mesma'
A mãe disse que a menina mudou de comportamento substancialmente após os abusos: "Ela sempre foi amorosa com a gente, mas nunca mais quis ficar perto de ninguém. Ela era apegada ao pai e ao avô e não é mais. No aniversário dela, a gente dá os parabéns de longe. Na época, ela se isolou para o mundo. Até hoje ela não consegue se aproximar de pessoas do sexo masculino. Depois disso, nunca mais foi a mesma".
O pastor, de acordo com a família da garota, continua negando as acusações e se defende questionando a sanidade mental da vítima.
"Ele alega que ela é maluca, mas não é. Ela tem ansiedade. Na época estava estabilizada e começou a ter crises depois desses fatos", disse a mãe.
O julgamento
Os advogados Carlos Nicodemos e Rodolfo Xavier, que representam a família da vítima, ressaltam que o pastor foi indiciado após investigações da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) e denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). O processo corre em segredo de Justiça e o pastor, que nunca chegou a ser preso, responde em liberdade.
Sobre a audiência com a família nesta segunda, a defesa acredita que os relatos podem pesar no resultado. “Confirmaram categoricamente o abuso, com riqueza de detalhes. Estamos confiantes, sobretudo agora com os depoimentos dos familiares. E foi emocionante também, a avó chorou muito", disse Xavier, destacando que a próxima etapa é a audiência para ouvir as testemunhas de defesa e o próprio pastor, e que confia de que uma sentença saia ainda em 2025.
Para Nicodemos, que também é membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos, pastor e igreja devem ser penalizados: "Trata-se de um caso bárbaro que viola a dignidade de uma criança rebatendo na religiosidade de uma família e uma comunidade que requer uma responsabilização do autor e uma reparação da igreja".
A reportagem de O DIA procurou a Primeira Igreja Batista em Vila Kennedy para pedir um pronunciamento, mas não obteve resposta. Não foi possível entrar em contato com a defesa do pastor.
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