O enterro de Camilla Viana Fernandes ocorreu nesta quarta-feira (2) no Cemitério São Miguel, em São GonçaloReginaldo Pimenta/Agência O DIA
Publicado 02/04/2025 14:30
Rio - Camilla Viana Fernandes, de 36 anos, morta por bala perdida durante um tiroteio em São Gonçalo, na Região Metropolitana, deixa seis filhos, todos menores de idade. Dentre eles, a bebê de apenas 5 meses que ela carregava no colo quando foi atingida. Em relato ao DIA, a irmã da vítima, Lohanne Fernandes, disse que as crianças dependiam única e exclusivamente da mãe. O enterro foi realizado nesta quarta-feira (2) no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo.
Publicidade

"Ela era uma mãe solo e nunca abriu mão dos filhos. Mesmo com as dificuldades, corria atrás e batalhava para poder alimentar os filhos, para dar uma educação digna para eles. Está rolando fake news de que ela era envolvida com o tráfico, sendo que é tudo mentira. Ela sempre fez o máximo, o possível e o impossível para dar o melhor para os filhos dela", ressaltou.

Camilla foi atingida na cabeça enquanto voltava do hospital após levar o filho de 15 anos para receber atendimento. O menino teria sido atingido na cabeça por um pedaço de madeira enquanto trabalhava.
"Ela levou o filho dela à UPA e, na volta, desceu no ponto de ônibus mais próximo da casa dela, e o filho desceu em outro. Se eu não me engano, ele foi para a casa da sogra dele. Quando ela desceu do ônibus e virou a esquina, começou a troca de tiros, e ela tentou retornar com a bebê, mas foi atingida por uma bala perdida. Ela caiu de bruços, por cima da bebê, que bateu com a cabeça no chão", disse a irmã.

Lohanne, que é técnica de enfermagem, disse que foi até o local e socorreu a sobrinha. A menina ficou internada em observação no Hospital Infantil de São Gonçalo e recebeu alta na manhã seguinte. O caso aconteceu pouco antes das 23h.
"Foi eu que levei a neném, eu cheguei no local e vi o que aconteceu. Eu saí correndo para poder pegar a bebê, e quando peguei, vi que ela não estava prestando atenção, estava meio lerdinha e tinha um machucado na cabeça dela. Então, levei para o hospital e fiquei 24 horas em observação junto com ela. Ela sofreu uma fratura no crânio, mas passa bem", explicou.

O mais velho dos filhos de Camilla tem apenas 17 anos. "Estão todos desolados com a morte da mãe. A gente ainda não sabe como vão ficar as crianças. A gente vai começar a resolver quem vai ficar com eles, porque não queremos deixar as crianças em um abrigo, já que eles não têm a figura paterna. Ainda estamos resolvendo essa questão, mas assim, eles perderam uma mãe, a Camilla era quem cuidava de tudo na vida deles", lamentou.

Lohanne também descreveu a irmã como uma pessoa alegre, divertida e que sempre fazia tudo pelos filhos. "Conhecida por todo mundo, ela rodava aquele Apollo todo com muito carisma, mesmo com tanta dificuldade, ela era muito feliz, ria e brincava. Ela procurava o que dar para os filhos, o que tinha pra fazer para poder arrumar um dinheirinho, para ajudar a comprar a fraldinha da filha dela, o leite, tudo ela fazia. Se você vê a neném, até lá no hospital as meninas da enfermagem falaram: Nossa, ela é bem cuidada. Tão gordinha, bem tratada, as roupinhas todas limpinhas, as vacinas todas completas", contou.

Quem também demonstrou preocupação com as crianças foi a advogada Vilma Cristina Melo, 57 anos, que foi casada há mais de 15 anos com o avô das irmãs.

"Estamos todos abalados, até pela morte de uma menina tão jovem, pela violência que tem sido constante ali naquele local e pela forma que o estado vem agindo. A gente vive em total insegurança, a gente não sabe se vai sair de casa e vai voltar. Estamos entristecidos e de certa forma revoltados porque daqui há poucos dias isso tudo vai está esquecido e a Camilla só vai fazer parte de uma estatística. No entanto, o familiar sabe o prejuízo que é, porque vão ficar seis menores de idade sem uma mãe", lamentou.

Vilma atualmente mora em São Luís, no Maranhão, e viajou apenas para prestar apoio à família. Ela reforçou que Camilla chegou a ter sete filhos, mas uma morreu ainda bebê por causas naturais.

"Ela se virava, nossa maior preocupação não é só pela perda de uma vida, mas como essas crianças ficarão. A Camilla mesmo com suas dificuldades dava toda assistência para aquelas crianças. Ela era uma menina tranquila, apesar das dificuldades financeiras, chegou a ter 7 filhos, mas nunca se desfez de nenhum. Eu vim aqui pra fazer o que for necessário até em memória dela e do avô, que também já está no céu", disse.
Relembre o caso
Segundo a Polícia Militar, equipes do 7ºBPM (São Gonçalo) foram acionadas para a ocorrência na madrugada de terça-feira (2). No local, os agentes encontraram os homens Natan da Silva Gomes, 21 anos, Igor Cristian Barone Ribeiro, 28, e Thauan Azevedo Soares, 27, além de Camilla, já sem vida. O trio é suspeito de envolvimento com o crime.
De acordo com moradores, a região não contava com tiroteios frequentes, mas um grupo rival teria invadido a localidade durante a madrugada. O confronto ocorreu entre traficantes locais, integrantes da facção Comando Vermelho (CV), e milicianos do bairro São Joaquim, em Itaboraí.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG). A perícia foi realizada no local e diligências estão em andamento para apurar a autoria e a motivação do crime.
Leia mais