Oruam é filho de Marcinho VP, um dos líderes do Comando VermelhoReprodução/Redes sociais
Publicado 22/07/2025 12:36
Rio - A Justiça do Rio expediu, nesta terça-feira (22), um mandado de prisão contra o rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam. A decisão ocorre após um ataque a policiais civis que tentavam deter um adolescente em sua mansão no Joá, na Zona Oeste. 
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O cantor foi indiciado por tráfico de drogas, associação ao tráfico, dano ao patrimônio público, desacato, lesão corporal, ameaça e resistência qualificada. Logo após a confusão em sua residência na noite de segunda-feira (21), Oruam anunciou, através das redes sociais, que estava no Complexo da Penha, na Zona Norte. Nas imagens, ele ainda provocou os agentes.
"Vocês querem que eu me revolte, né? Estou aqui na Penha, vem aqui. Eu quero ver vocês me pegarem aqui dentro do Complexo, porque aqui vocês 'peida' (sic), pô", disse.
Veja vídeo:
Após o ocorrido,  em entrevista coletiva na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, descreveu Oruam como um "marginal da pior espécie". 

"Se havia alguma dúvida de que o Oruam seria um artista periférico ou marginal da pior espécie, hoje nós temos certeza que se trata de um criminoso faccionado, ligado a facção criminosa Comando Vermelho, da qual o pai dele, conhecido como Marcinho VP, o Márcio Santos Nepomuceno controla a distância, de fora do estado, mesmo estando preso presídio federal. Então, ele é um marginal, bandido, delinquente, criminoso e associado para o tráfico", disse.
Entenda o caso
Segundo a Polícia Civil, agentes da DRE estavam monitorando o adolescente em uma viatura descaracterizada. No entanto, ao sair da casa, junto com outras quatro pessoas, o suspeito foi abordado pelos policiais, ocasião na qual foi anunciada a apreensão dele, bem como dos bens que portava: um celular e um cordão.

Durante a abordagem, Oruam e mais oito pessoas surgiram na varanda, xingaram e atacaram os agentes com pedras, ferindo um dos policiais. Em seguida, eles desceram e continuaram proferindo insultos e ameaças contra a equipe.

Na sequência, um dos homens que participou do ataque aos policiais correu para dentro da casa, o que teria obrigado a equipe a entrar para prendê-lo. Ele também foi autuado em flagrante por desacato, resistência qualificada, lesão corporal, ameaça, dano e associação para o tráfico.

Oruam e os demais fugiram do local, posteriormente realizando novos ataques aos policiais por meio de redes sociais. Essa é a segunda vez, em menos de seis meses, que um integrante da facção criminosa é localizado no interior da mesma residência do cantor.
Oruam se defende
Em nota enviada através da sua assessoria de imprensa, o rapper alegou que só jogou pedras nos agentes depois de ser ameaçado com armas de fogo.

"Por volta das 00h, sem qualquer mandado de prisão, ordem de busca ou justificativa legal aparente, uma quantidade superior a vinte viaturas da Polícia Civil invadiram minha casa de forma abrupta e agressiva... Durante toda a abordagem, os agentes apontaram armas de fogo, incluindo fuzis, para mim, minha noiva e cinco amigos que estavam presentes na casa. Sabe o que encontraram? Nada! Nada de droga, nada de arma, nada ilegal!", disse em um trecho.
O cantor ainda descreveu as falas do secretário de Polícia Civil como preconceituosas.
Confira a nota do rapper na íntegra:
"Eu, Oruam, venho por meio deste relato registrar um grave episódio de abuso de poder, violência e agressão que sofri na madrugada do dia 22 de julho de 2025, dentro da minha residência.

Começo falando que eu só joguei pedras depois de ser ameaçado com armas de fogo e tenho provas!

Por volta das 00h, sem qualquer mandado de prisão, ordem de busca ou justificativa legal aparente, uma quantidade superior a vinte viaturas da Polícia Civil invadiram minha casa de forma abrupta e agressiva. Os policiais estavam sem farda, o que demonstra a ilegalidade da ação, e procederam à revistagem de TUDO que tinha na minha casa, bem como das minhas roupas e da minha noiva, além de rasgarem e destruírem pertences pessoais minhas e de minha noiva. Durante toda a abordagem, os agentes apontaram armas de fogo, incluindo fuzis, para mim, minha noiva e cinco amigos que estavam presentes na casa. Sabe o que encontraram? NADA! Nada de droga, nada de arma, nada ilegal!

Apesar da invasão, nenhuma objeção ou suspeita foi encontrada, pois não havia motivo algum para tal ação. Além disso, durante a abordagem, meu produtor, que estava comigo, foi algemado de maneira arbitrária e sem justificativa plausível. Essa ação violenta e desproporcional, além de humilhante, gerou grande sofrimento emocional e físico para todos nós presentes. Os policiais nos trataram de forma extremamente preconceituosa, nos chamando de "marginais" e diversos outros xingamentos seguidos de agressões físicas.
Ser um "artista periférico" termo do qual tenho orgulho, pois representa minha origem e minha trajetória, mas que foi utilizado de forma pejorativa e preconceituosa pelo secretário estadual da Polícia Civil, Felipe Curi, que também me caluniou, acusando-me de ser marginal, criminoso, bandido e delinquente, além de me associar ao tráfico de drogas sem qualquer prova ou fundamento. Com que base esse secretário afirma isso após tudo que fizeram na minha casa e não encontraram nada? A lei tem cor e só vale pra preto, vocês não estão preparados pra pretos no topo.

Durante toda a ação, fomos insultados, xingados e agredidos fisicamente, sendo que, ao nos verem completamente acuados e sob ameaça constante, começamos a gravar as ações policiais com nossos celulares na tentativa de registrar as agressões e as violações de direitos que estávamos sofrendo. Essas gravações mostram claramente as ações desmedidas, as ameaças de morte e as agressões físicas.
A situação se agravou quando, após a invasão, as agressões continuaram. Para tentar cessar a violência e as ameaças de morte, joguei pedras na direção dos policiais, ação desesperada que, apesar de ser uma reação de desespero, foi uma tentativa de fazer os policiais cessarem as agressões físicas, ameaças e o uso de armas de fogo contra mim, minha noiva e meus amigos. Após toda essa violência e intimidação, senti-me completamente acuado e traumatizado com a situação.

Tenho em minha posse fotos e vídeos que comprovam todas as agressões, invasão, ameaças, além das ações arbitrárias de policiais que invadiram minha residência sem mandado, sem justificativa legal e de forma violenta. Essas provas demonstram claramente a ilegalidade do que ocorreu naquela madrugada.

Gostaria de registrar que meu trabalho como músico vem de uma trajetória de muito esforço e dedicação. Meu dinheiro é obtido através da minha música, que muitas vezes é entre as mais ouvidas no Brasil, e não tenho qualquer relação com atividades ilícitas ou criminosas. Essa perseguição, os prejuízos emocionais, físicos e materiais que estou sofrendo, têm afetado minha vida, minha carreira e minha integridade.

Por fim, reitero que não sou bandido, criminoso ou delinquente. Sou artista, legítimo representante da minha expressão musical e cultural. Fui vítima de abuso policial, e que sejam tomadas as devidas providências para que casos como este não se repitam, garantindo direitos e a integridade física e moral. Não posso aceitar que agentes do Estado utilizem a força de maneira desmedida, sem justificativa e sem respeitar os direitos fundamentais dos cidadãos, especialmente daqueles que não representam qualquer ameaça à segurança pública.

Reitero que toda a ação policial foi unilateral, violenta e injustificada, e que minhas tentativas de registrar a agressão com vídeos e fotos são comprovações irrefutáveis do abuso que sofri. É crucial que esse episódio seja apurado com rigor, para que haja responsabilização daqueles que agiram de forma ilegítima, e que não se tolere qualquer prática abusiva por parte de agentes públicos.

Por fim, exijo respeito à minha dignidade, à minha história, ao meu trabalho e à minha vida, e espero que essa denúncia seja levada a sério, contribuindo para a justiça e para o combate a práticas policiais arbitrárias e abusivas no país."


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