Publicado 02/12/2025 09:41
Rio - Policiais civis realizaram, na manhã desta terça-feira (2), a operação "Cura Ficta" (ficção de cura, em português) contra um grupo investigado por aplicar o golpe do falso exame médico. Os agentes cumpriram nove mandados de prisão e 13 de busca e apreensão em endereços ligados aos envolvidos na Zona Oeste do Rio, no Mato Grosso e em Goiás.
PublicidadeDe acordo com a polícia, o esquema era liderado por um detento, de 35 anos, de dentro da Penitenciária Major PM Eldo Sá Correa, em Rondonópolis, no Mato Grosso, ligado à facção do Comando Vermelho. Ele coordenava as ligações e a logística do golpe. Em sua cela, já haviam sido apreendidos cadernos com roteiros, dados bancários e números de telefone usados nas fraudes.
Ainda segundo a corporação, os acusados se passavam por médicos e coordenadores de unidades hospitalares para extorquir parentes de pacientes internados, utilizando nomes fictícios e fotos retiradas da internet. As vítimas eram majoritariamente do Rio Grande do Sul, embora a quadrilha tivesse atuação mais forte no Mato Grosso.
Ao DIA, o delegado Eibert Moreira, do Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DERCC/RS), informou que sete dos nove mandados de prisão preventiva já foram cumpridos, sendo cinco no Mato Grosso, um em Guaratiba (Rio) e outro em Goiás. Os nomes dos envolvidos, no entanto, não foram divulgados.
O delegado explicou que as investigações identificaram cerca de 12 integrantes no grupo, incluindo três "laranjas", que cediam suas contas bancárias para receber e transferir o dinheiro do golpe. Ainda segundo Eibert Moreira, outros membros eram responsáveis por criar perfis falsos de hospitais, gerenciar linhas telefônicas e operar as movimentações financeiras.
Entre os envolvidos, um homem, morador de Rondonópolis (MT), possuía 121 chaves Pix vinculadas ao próprio CPF para dificultar o rastreamento. A quadrilha também mantinha pelo menos dois "telefonistas", responsáveis por fazer o contato direto com as vítimas. Um único número chegou a ser associado a mais de 35 linhas telefônicas em pouco tempo. Um deles tem antecedentes por homicídio e roubo.
As investigações indicaram que o grupo se aproveitava da vulnerabilidade das vítimas. Com ligações alarmistas, os golpistas afirmavam que o estado de saúde do internado havia piorado e que seria necessária a realização de exames urgentes, não cobertos pelo convênio.
Ainda de acordo com as autoridades, os criminosos criavam uma falsa urgência para a quitação do pagamento, e os familiares se sentiam pressionados a agir sem tempo para checar a veracidade das informações. As transferências eram feitas via Pix.
O esquema também utilizava emuladores de Android em computadores para simular múltiplos aparelhos celulares, permitindo que um único homem gerenciasse diversas contas de WhatsApp e aplicativos bancários simultaneamente, dificultando o rastreamento policial.
A investigação começou após registro de ocorrências em Porto Alegre e Canoas, no Rio Grande do Sul, onde vítimas relataram prejuízos que, somados, ultrapassam dezenas de milhares de reais em poucos dias.
A ação está sendo conduzida pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) e coordenada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul.
O delegado Moreira orientou que familiares desconfiem de cobranças inesperadas. "Nesses casos, é importante que elas busquem sempre confirmar a veracidade das informações apresentadas. A checagem pode ser feita diretamente com o hospital em que o familiar esteja internado. É essencial sempre evitar fazer pagamentos para qualquer tipo de situação através do Pix, já que, em regra, os golpistas utilizam esses meios para fim de recebimento dos valores", disse.
Recomendação do Cremerj
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) também recomenda que pacientes e seus familiares se certifiquem de que a comunicação recebida seja realmente oriunda do estabelecimento de saúde em que a assistência é prestada.
"Em caso de dúvidas, converse com o médico responsável pelo tratamento ou prefira entrar em contato com a empresa novamente, por meios confiáveis (como por exemplo telefones e e-mails já salvos) para confirmar a idoneidade das informações, antes de realizar qualquer tipo de pagamento. Cabe ainda ressaltar que, normalmente, a abordagem de solicitação de exames não ocorre desta forma, o que aumenta a suspeita de uma atuação criminosa e fraudulenta. Em caso de pacientes internados em unidades particulares, as solicitações de exames são pedidos médicos que seguem diretamente para as operadoras de saúde para as devidas autorizações", informou em nota ao DIA.
*Reportagem do estagiário João Santos, sob supervisão de Raphael Perucci
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