Publicado 04/12/2025 11:12
Rio - O novo Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio mostra uma reorganização territorial do crime no Rio. A pesquisa do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) e do Instituto Fogo Cruzado (IFC), divulgada nesta quinta-feira (4), aponta que cerca de 4 milhões de moradores da Região Metropolitana viveram sob controle ou influência de grupos criminosos em 2024.
Segundo o levantamento, em 18 anos, entre 2007 e 2024, a área submetida a algum tipo de domínio armado cresceu 130,4%, enquanto a população nessa condição aumentou 59,4%.
Dentre os principais pontos destacados na mudança estão: o avanço do Comando Vermelho (CV), a perda de território da milícia e o Terceiro Comando Puro (TCP) se tornando uma '3ª força'.
PublicidadeSegundo o levantamento, em 18 anos, entre 2007 e 2024, a área submetida a algum tipo de domínio armado cresceu 130,4%, enquanto a população nessa condição aumentou 59,4%.
Dentre os principais pontos destacados na mudança estão: o avanço do Comando Vermelho (CV), a perda de território da milícia e o Terceiro Comando Puro (TCP) se tornando uma '3ª força'.

Do ponto de vista conceitual, o relatório passa a distinguir duas categorias centrais dos grupos armados: controle e influência. Veja:
- O controle marca as áreas onde o domínio é consolidado e contínuo.
- A influência indica frentes de expansão, zonas de disputa e territórios em que o poder armado se infiltra pelas frestas da atuação estatal.
- A influência indica frentes de expansão, zonas de disputa e territórios em que o poder armado se infiltra pelas frestas da atuação estatal.
Em 2024, 14% da área ocupada da Região Metropolitana e 29,7% da população se encontravam sob controle direto de grupos armados, enquanto outros 4,1% do território e 5,3% dos moradores viviam sob influência.
Produzida desde 2018, a base do estudo é uma coleção massiva de denúncias anônimas do Disque Denúncia, levantamento em imprensa e modelos estatísticos.
"Através das categorias de controle e influência e colonização e conquista conseguimos identificar padrões muito mais precisos, definidos e robustos de atuação de cada grupo armado e em diferentes circunscrições geográficas. Isto significa que podemos levantar hipóteses melhores sobre a expansão de cada grupo, no tempo e no espaço, também de como isso foi feito em cada momento e em cada lugar. Temos uma ferramenta analítica que pode ajudar muito o debate público", diz Daniel Hirata, coordenador do GENI/UFF.
Crescimento do CV e queda da milícia
A pesquisa mostra que após anos de expansão desenfreada sobre novas áreas, as milícias do Rio de Janeiro enfrentaram um enfraquecimento e o crime organizado mudou de estratégia: sai de cena a “colonização” de territórios vazios e entra a “conquista” violenta de áreas já ocupadas.
O resultado é um recorde de quase 4 milhões de pessoas vivendo sob o domínio de grupos armados, sendo 3,4 milhões em áreas efetivamente controladas, com o Comando Vermelho consolidando sua hegemonia sobre a população e as milícias mantendo a maior extensão territorial, apesar da crise.
O estudo aponta ainda que as operações do Ministério Público do Estado, em conjunto com outros órgãos — a exemplo da Operação Intocáveis —, a prisão e posterior morte de lideranças centrais, como Wellington da Silva Braga, o Ecko, e as disputas sucessórias internas desorganizaram redes de controle e abriram brechas para a retomada de territórios por facções como o Comando Vermelho.
"Ainda assim, a queda da milícia se dá a partir de um patamar historicamente elevado: a Região Metropolitana continua, em 2024, muito mais dominada do que em qualquer momento do início da série", diz um trecho do documento.
Em termos de extensão territorial — somando controle e influência —, as milícias são, em 2024, o grupo com maior participação: 49,4% de toda a área sob domínio armado, o equivalente a 201 km². Mas quando o critério é apenas o controle consolidado, é o Comando Vermelho (CV) que ocupa o primeiro lugar, com 47,5% dos territórios controlados, ou 150 km².
Ainda em 2024, o Comando Vermelho liderou o domínio sobre pessoas: 47,2% da população sob controle armado — aproximadamente 1,607 milhão de habitantes — e 44,7% da população sob controle ou influência.
Produzida desde 2018, a base do estudo é uma coleção massiva de denúncias anônimas do Disque Denúncia, levantamento em imprensa e modelos estatísticos.
"Através das categorias de controle e influência e colonização e conquista conseguimos identificar padrões muito mais precisos, definidos e robustos de atuação de cada grupo armado e em diferentes circunscrições geográficas. Isto significa que podemos levantar hipóteses melhores sobre a expansão de cada grupo, no tempo e no espaço, também de como isso foi feito em cada momento e em cada lugar. Temos uma ferramenta analítica que pode ajudar muito o debate público", diz Daniel Hirata, coordenador do GENI/UFF.
Crescimento do CV e queda da milícia
A pesquisa mostra que após anos de expansão desenfreada sobre novas áreas, as milícias do Rio de Janeiro enfrentaram um enfraquecimento e o crime organizado mudou de estratégia: sai de cena a “colonização” de territórios vazios e entra a “conquista” violenta de áreas já ocupadas.
O resultado é um recorde de quase 4 milhões de pessoas vivendo sob o domínio de grupos armados, sendo 3,4 milhões em áreas efetivamente controladas, com o Comando Vermelho consolidando sua hegemonia sobre a população e as milícias mantendo a maior extensão territorial, apesar da crise.
O estudo aponta ainda que as operações do Ministério Público do Estado, em conjunto com outros órgãos — a exemplo da Operação Intocáveis —, a prisão e posterior morte de lideranças centrais, como Wellington da Silva Braga, o Ecko, e as disputas sucessórias internas desorganizaram redes de controle e abriram brechas para a retomada de territórios por facções como o Comando Vermelho.
"Ainda assim, a queda da milícia se dá a partir de um patamar historicamente elevado: a Região Metropolitana continua, em 2024, muito mais dominada do que em qualquer momento do início da série", diz um trecho do documento.
Em termos de extensão territorial — somando controle e influência —, as milícias são, em 2024, o grupo com maior participação: 49,4% de toda a área sob domínio armado, o equivalente a 201 km². Mas quando o critério é apenas o controle consolidado, é o Comando Vermelho (CV) que ocupa o primeiro lugar, com 47,5% dos territórios controlados, ou 150 km².
Ainda em 2024, o Comando Vermelho liderou o domínio sobre pessoas: 47,2% da população sob controle armado — aproximadamente 1,607 milhão de habitantes — e 44,7% da população sob controle ou influência.
As milícias, ainda assim, foram o grupo que mais cresceu também nesse campo: o número de pessoas sob seu controle aumentou 106,6% no período, e a população sob controle/influência miliciana cresceu 167,1%.
Terceiro comando surge como 3º força
O Terceiro Comando Puro (TCP) surge como terceira força em expansão, sobretudo a partir de 2018, enquanto o Amigos dos Amigos (ADA) é o único grupo com queda consistente, perdendo cerca de metade dos territórios e da população que dominava no auge da sua atuação.
Milícia x facções
Terceiro comando surge como 3º força
O Terceiro Comando Puro (TCP) surge como terceira força em expansão, sobretudo a partir de 2018, enquanto o Amigos dos Amigos (ADA) é o único grupo com queda consistente, perdendo cerca de metade dos territórios e da população que dominava no auge da sua atuação.
Milícia x facções
De um lado, as milícias se apoiam em um modelo de negócios centrado na exploração de mercados urbanos formais e informais, como transporte, imóveis, serviços, comércio local,e na construção de redes de cooptação com atores estatais e políticos. Esse modelo de atuação tende a se expandir por meio da influência, avançando sobre áreas recém-urbanizadas, zonas de expansão da cidade e novas fronteiras imobiliárias. Nesses territórios, os grupos armados passam a atuar como intermediários obrigatórios para acesso a serviços, regularização fundiária e infraestrutura básica.
Do outro lado, as facções dependem de um controle bélico mais ostensivo, com presença permanente de homens armados, vigilância intensa e imposição de normas e proibições cotidianas como condição para a extração de recursos, sobretudo a partir de mercados ilícitos, mas também da economia popular.
As milícias crescem em zonas onde a cidade ainda está sendo “inventada”, ocupando vazios urbanos, loteamentos irregulares e novas frentes de expansão; facções avançam onde a cidade já está consolidada, reposicionando-se em territórios de alta densidade e maior circulação econômica.
Regiões dominadas pelo crime organizado
O Leste Fluminense, que abrange os municípios como Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e as cidades da Região dos Lagos, como Cabo Frio e Búzios é o território da hegemonia quase absoluta do Comando Vermelho: Em 2024, o grupo responde por mais de 98% da área sob controle e influência na região, que concentra praticamente metade de toda a extensão territorial dominada pelo CV na Região Metropolitana.
A Baixada Fluminense, por sua vez, se converteu, especialmente nos últimos seis anos, em área de disputa acirrada: o CV se mantém como principal força, mas as milícias cresceram 1.608% em controle territorial e mais de 1.200% em população dominada desde 2007, ao mesmo tempo em que o TCP ampliou significativamente sua presença, muitas vezes ocupando espaços deixados pelo ADA.
Na capital, o quadro é mais complexo e expressivo da “cidade partida”, que organiza o imaginário sobre o Rio de Janeiro. Em 2024, 31,6% da área urbanizada e 42,4% da população estavam sob controle ou influência do crime organizado. Desse total, 22,5% do território e 36,3% dos moradores viviam sob domínio direto.
A hegemonia miliciana se concentra sobretudo na Zona Oeste, região que responde por 65% do território urbanizado da cidade e 49% de seus habitantes. Nessa zona, quase 90% da área dominada e cerca de 80% da população submetida a grupos armados estão sob o comando de milícias. A partir de 2020, porém, o relatório identifica um recuo gradual: entre 2020 e 2024, os milicianos perderam parte do território e da população que controlavam, abrindo espaço para avanços do CV, do TCP e de pequenos remanescentes do ADA.
No Centro e na Zona Sul, o dominante é o CV, em boa medida a partir da conquista de áreas historicamente associadas ao ADA. A perda da Rocinha e do Vidigal, na Zona Sul, por exemplo, aparece na série como ponto de partida para o declínio da ADA e a recomposição do mapa sob liderança do CV.
Já na Zona Norte, a história é de disputa e crescente complexidade: por muitos anos, milícias e CV alternaram posições no comando territorial, com leve vantagem do CV em termos populacionais. Nos últimos anos, o TCP entra na equação com força, tornando a região um dos espaços mais disputados da cidade.
Do outro lado, as facções dependem de um controle bélico mais ostensivo, com presença permanente de homens armados, vigilância intensa e imposição de normas e proibições cotidianas como condição para a extração de recursos, sobretudo a partir de mercados ilícitos, mas também da economia popular.
As milícias crescem em zonas onde a cidade ainda está sendo “inventada”, ocupando vazios urbanos, loteamentos irregulares e novas frentes de expansão; facções avançam onde a cidade já está consolidada, reposicionando-se em territórios de alta densidade e maior circulação econômica.
Regiões dominadas pelo crime organizado
O Leste Fluminense, que abrange os municípios como Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e as cidades da Região dos Lagos, como Cabo Frio e Búzios é o território da hegemonia quase absoluta do Comando Vermelho: Em 2024, o grupo responde por mais de 98% da área sob controle e influência na região, que concentra praticamente metade de toda a extensão territorial dominada pelo CV na Região Metropolitana.
A Baixada Fluminense, por sua vez, se converteu, especialmente nos últimos seis anos, em área de disputa acirrada: o CV se mantém como principal força, mas as milícias cresceram 1.608% em controle territorial e mais de 1.200% em população dominada desde 2007, ao mesmo tempo em que o TCP ampliou significativamente sua presença, muitas vezes ocupando espaços deixados pelo ADA.
Na capital, o quadro é mais complexo e expressivo da “cidade partida”, que organiza o imaginário sobre o Rio de Janeiro. Em 2024, 31,6% da área urbanizada e 42,4% da população estavam sob controle ou influência do crime organizado. Desse total, 22,5% do território e 36,3% dos moradores viviam sob domínio direto.
A hegemonia miliciana se concentra sobretudo na Zona Oeste, região que responde por 65% do território urbanizado da cidade e 49% de seus habitantes. Nessa zona, quase 90% da área dominada e cerca de 80% da população submetida a grupos armados estão sob o comando de milícias. A partir de 2020, porém, o relatório identifica um recuo gradual: entre 2020 e 2024, os milicianos perderam parte do território e da população que controlavam, abrindo espaço para avanços do CV, do TCP e de pequenos remanescentes do ADA.
No Centro e na Zona Sul, o dominante é o CV, em boa medida a partir da conquista de áreas historicamente associadas ao ADA. A perda da Rocinha e do Vidigal, na Zona Sul, por exemplo, aparece na série como ponto de partida para o declínio da ADA e a recomposição do mapa sob liderança do CV.
Já na Zona Norte, a história é de disputa e crescente complexidade: por muitos anos, milícias e CV alternaram posições no comando territorial, com leve vantagem do CV em termos populacionais. Nos últimos anos, o TCP entra na equação com força, tornando a região um dos espaços mais disputados da cidade.
Para Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, a nova relação entre colonização e conquista é um dos dados que mais chama atenção na nova atualização do Mapa.
"Essa é uma virada de chave na segurança pública do Rio. Durante quase duas décadas, a principal forma de os grupos armados crescerem foi a ‘colonização’: uma expansão silenciosa para áreas ainda não dominadas, muitas vezes liderada por milícias em áreas menos densas. A atualização do Mapa mostra o aumento das disputas que resultam em ‘conquista’: para crescer, um grupo precisa tomar a área do outro na base da força. O custo social dessa mudança de ‘colonizar’ para ‘conquistar’ é cobrado diretamente na rotina e na segurança de quem vive nessas áreas mais povoadas. A população passa a conviver com mais tiroteios, mais insegurança e mais medo", afirma.
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