Publicado 03/06/2022 00:00
Quando eu soube que eu ia receber essa homenagem, a primeira pessoa que disse que queria fazer um discurso foi meu filho, Eduardo.
E eu perguntei como ele começaria esse discurso…
A primeira coisa que ele falou, foi:
"A minha mãe vem de uma cidade que quando perguntam o nome, ela sempre tem que responder mais de uma vez. E todo mundo fala: nossa, onde fica?!"
Santo Anastácio, a cidade de onde eu vim, fica exatamente a 1.200 quilômetros do Rio de Janeiro. E eu perguntei: "filho, por que você começaria assim?"
Aí ele respondeu:
"Mãe, você vem de uma cidade muito pequena e ficou conhecida na cidade onde todo mundo sabe onde é".
E eu vou começar falando justamente isso… Falando com você, carioca, que nasceu aqui, e não tem noção do que essa cidade representa pra quem vem dos quatro cantos desse país.
Desde que o Eduardo me falou isso, eu me pego lembrando de quando eu era criança.
Pra mim, o Rio de Janeiro era mágico! Eu nem sabia se ele existia de verdade.
Pra quem é de fora, o Rio de Janeiro é a cidade onde tudo acontece. Mas no meu caso, foi onde tudo pôde acontecer!
O Rio de Janeiro me deu muita coisa. E não falo só das conquistas materiais, das profissionais.
O Rio de Janeiro me deu pessoas. A cidade, espremida entre o mar e a montanha, que tem o verde mais verde da mata, que tem o céu mais azul, a água que banha e contorna perfeitamente a cidade, faz jus ao seu apelido de maravilhosa.
Mas pra mim, esse não é o seu maior tesouro. O melhor do Rio é o carioca!
No meu caso, foi o carioca que me ensinou a trabalhar sem o salto alto na favela. Foi o carioca que me acolheu pra escapar de tiroteio.
Foi o carioca que me ensinou a tentar ser leve, mesmo não cumprindo horário… E nem é tão ruim não cumprir horário!
Foi o carioca que me mostrou que a melhor roda de samba é numa segunda-feira.
Foi o carioca que me ensinou a chorar, mas seguir em frente.
Foi o carioca que me ensinou que escola de samba não é apenas um desfile na avenida. É a vida da comunidade.
Que o futebol é disputa em todo país, mas no Rio ele tem borogodó!
Foi o carioca que me ensinou que colega de trabalho também pode se tornar o seu melhor amigo.
Foi o carioca que me ensinou que o pai do amiguinho do seu filho também pode ser sua família aqui.
E que me ensinou que é uma delícia desafiar a língua portuguesa sem errar.
Não é "futêbol", "têatro"… É "futíbol", é "tíatro", mas não tente colocar um l no meio do doze! (risos)
Foi o carioca, por fim, que me ensinou o tanto que é difícil viver e sobreviver, mas que é maravilhosa essa vida.
Afinal, a gente mora onde o mundo quer tirar de férias. Na vitrine desse país!
E por fim, eu agradeço ao Rio de Janeiro, por ter tido aqui o maior presente da minha vida: o meu carioca preferido, Eduardo, Dudu!
A partir de hoje, eu tenho que admitir: o farol é sinal, o holerite é contracheque, o rolê é rolé! E aquele pacotinho que todo mundo gosta de comer não é bolacha… É biscoito!
Com carinho, uma agora cidadã carioca orgulhosa.
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