Publicado 10/03/2024 00:00 | Atualizado 10/03/2024 10:25
Um fato importante, que aconteceu na semana passada, por maior que tenha sido o descaso dedicado a ele pela maioria dos órgãos de comunicação brasileiros, trouxe de volta à memória um dos acontecimentos mais degradantes deste século — que, mesmo sendo recente, muita gente já queria ter varrido para debaixo do tapete. O fato em questão foi a divulgação do relatório tardio, mas contundente, da Organização das Nações Unidas que confirmou os estupros e as torturas sexuais praticadas contra centenas de mulheres israelenses pelos terroristas do Hamas durante os atentados do dia 7 de outubro.
O que aconteceu diante do documento, divulgado na mesma semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, reflete os pesos e as medidas de cada um diante da violência e dos crimes sexuais. Para alguns, o relatório foi revoltante e despertou a mesma indignação sentida no calor dos acontecimentos. Para outros — sobretudo para os que não escondem sua simpatia pelas ações dos terroristas —, tudo não passou de uma tentativa de reacender a lembrança de fatos que deveriam ser mantidos para sempre no esquecimento. Para esses, os estupros, as torturas e a violência empregada pelos "corajosos combatentes" que invadiram as casas de pessoas indefesas na manhã daquele sábado não passaram de excessos plenamente justificáveis por algo que ainda não tinha acontecido, mas que viria a acontecer depois.
Para quem apoia os terroristas que dizem lutar pela libertação do povo palestino, mas que na verdade desejam apenas aniquilar o Estado de Israel e exterminar o povo judeu da face da Terra, os fins justificaram os meios e os estupros não passaram de atos de bravura cometidos em nome da causa que defendem. Numa inversão completa da ordem natural dos fatos e numa completa corrupção de valores, muita gente "comprometida" considerou os estupros e os atos de tortura sexual cometidos pelos marmanjos do Hamas como um ato justificável diante dos bombardeios que, mais tarde, os exércitos de Israel promoveriam com o objetivo declarado de destruir o grupo terrorista.
Seja como for, na segunda-feira da semana passada, dia 4 de março — ou seja, 149 longos dias depois dos atentados terroristas que provocaram a reação implacável de Israel e desencadearam a atual guerra no Oriente Médio —, as Nações Unidas divulgaram o documento em que finalmente reconhecem que houve os estupros coletivos e as torturas sexuais que as evidências e os testemunhos dos civis israelenses vinham denunciando desde o dia 7 de outubro do ano passado. Mas que, para muita gente que compartilha dos ideais dos terroristas, entrava por um ouvido e saía pelo outro.
VIOLÊNCIA EM ANDAMENTO — A investigação foi conduzida pela subsecretária-geral da ONU, a advogada especializada em direito das mulheres Pramila Patten, das Ilhas Maurício, e o relatório de 25 páginas que a comissão liderada por ela produziu é estarrecedor. "Em vários locais dos ataques de 7 de outubro, a equipe da missão constatou que vários corpos totalmente nus ou parcialmente nus da cintura para baixo foram achados — em sua maioria, mulheres — com as mãos amarradas e atingidos por vários tiros, geralmente na cabeça", diz um determinado trecho do documento.
VIOLÊNCIA EM ANDAMENTO — A investigação foi conduzida pela subsecretária-geral da ONU, a advogada especializada em direito das mulheres Pramila Patten, das Ilhas Maurício, e o relatório de 25 páginas que a comissão liderada por ela produziu é estarrecedor. "Em vários locais dos ataques de 7 de outubro, a equipe da missão constatou que vários corpos totalmente nus ou parcialmente nus da cintura para baixo foram achados — em sua maioria, mulheres — com as mãos amarradas e atingidos por vários tiros, geralmente na cabeça", diz um determinado trecho do documento.
O relatório aponta que, "durante o ataque, houve casos de violação, violação coletiva, violação de cadáveres, mutilação de órgãos genitais, nudez, tiros contra mulheres nuas, dentre outros". Como se não bastassem os detalhes estarrecedores das atrocidades cometidas contra as vítimas no dia dos ataques covardes, o relatório indica que a violência pode não ter parado. "Com relação aos reféns, a equipe da missão encontrou informações claras e convincentes de que alguns foram submetidos a várias formas de violência sexual relacionada ao conflito, inclusive estupro, tortura sexualizada e tratamento cruel, desumano e degradante sexualizado, e tem motivos razoáveis para acreditar que essa violência pode estar em andamento", diz o texto na página 5.
O documento é, sem dúvida, revelador não apenas pelo que ele diz, mas, também, pelo silêncio que a ONU manteve em relação a esses fatos desde o início da guerra — que completou cinco meses na quinta-feira passada e já abriu feridas que não cicatrizarão tão cedo. É aí que se manifestam os pesos e as medidas utilizados pela organização, que, a princípio, tinha a obrigação de se manter neutra diante do conflito. A lentidão para admitir aquilo que já se sabia desde o início contrasta com a rapidez com que o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou a reação israelense aos atentados.
Já no dia 24 de outubro do ano passado, ou seja, apenas 17 dias depois dos atentados bárbaros contra mulheres e crianças indefesas e civis desarmados em Israel, Guterres deu a senha para a narrativa que deveria prevalecer a respeito do conflito e passou a tratar as vítimas como se fossem agressores. Na ocasião, ele disse ser "importante reconhecer que os atos do Hamas não aconteceram por acaso" e atribuiu os atentados terroristas a uma reação contra os maus-tratos que o povo palestino vem sofrendo desde 1967.
Pelo raciocínio de Guterres, que reproduz os argumentos utilizados por antissemitas do mundo inteiro, toda a culpa por tudo de ruim que existe na região, que vive em conflito permanente, deve ser debitada na conta do Estado de Israel. Como era de se esperar, o relatório produzido pela subsecretária-geral, a despeito de ter sido elaborado por uma equipe formada por especialistas no tema da violência sistemática contra a mulher, embora tivesse força suficiente para que o Hamas fosse finalmente reconhecido como um grupo terrorista pela organização, não passou a orientar a posição da ONU sobre a guerra nem mereceu mais do que menções protocolares por parte da imprensa brasileira.
Assim como, no dia 16 de fevereiro deste ano, pouca gente havia dado importância para o fato de pelo menos 12 funcionários das Nações Unidas, que atuavam na agência de proteção ao povo palestino, terem participado ativamente dos atentados de 7 de outubro, houve pouca ou nenhuma comoção diante da comprovação, ainda que tardia, da violência sexual cometida contra mulheres e crianças israelenses e de outras nacionalidades. Para seus críticos sistemáticos, o Estado de Israel — única democracia do Oriente Médio — é obrigado a comprovar de forma minuciosa cada palavra que diz em sua defesa. Já o outro lado do conflito é tratado com pesos e medidas muito diferentes.
Basta o "Ministério da Saúde do Hamas" apresentar um único número ou fazer uma única acusação de maus-tratos contra o povo palestino cometidos por soldados das Forças de Defesa de Israel para aquilo ser tomado como verdade acima de qualquer suspeita. Atenção! Ninguém, aqui, concorda com a morte sistemática de civis na Faixa de Gaza ou qualquer outro lugar. Esse é, também, um fato degradante, contra o qual vêm se levantando vozes no mundo inteiro. O que está em discussão é o tratamento dado aos pontos de vista de um e do outro lado do conflito.
LIBERTAÇÃO DOS REFÉNS — É bom repetir para não haver distorções: o que está sendo posto em dúvida agora, como já foi feito neste espaço diversas vezes ao longo deste conflito, é a reação das pessoas diante das estatísticas improváveis divulgadas pelos terroristas que dominam a região. De acordo com os números divulgados pelo Hamas, 30 mil palestinos já teriam morrido desde que Israel deu início aos ataques, logo depois dos atentados de 7 de outubro. Cerca de um terço dos mortos, segundo o "Ministério da Saúde" local, seriam crianças.
LIBERTAÇÃO DOS REFÉNS — É bom repetir para não haver distorções: o que está sendo posto em dúvida agora, como já foi feito neste espaço diversas vezes ao longo deste conflito, é a reação das pessoas diante das estatísticas improváveis divulgadas pelos terroristas que dominam a região. De acordo com os números divulgados pelo Hamas, 30 mil palestinos já teriam morrido desde que Israel deu início aos ataques, logo depois dos atentados de 7 de outubro. Cerca de um terço dos mortos, segundo o "Ministério da Saúde" local, seriam crianças.
Embora esses números jamais tenham sido comprovados nem auditados por organizações independentes, eles jamais foram questionados por quem esconde seu apoio aos terroristas e a seus métodos — inclusive o estupro — atrás de uma suposta solidariedade ao povo palestino. A mesma eficiência demonstrada na hora de apontar com precisão o número de crianças que teriam sido mortas nos ataques falta na hora de divulgar outras estatísticas relevantes para a compreensão do que se passa no teatro de guerra.
A primeira pergunta, nunca respondida pelo Hamas, é: quantos, entre os mortos, eram terroristas? A segunda é: quantos, entre os mortos, eram civis utilizados como escudos humanos pelos terroristas? E mais: por que os terroristas se recusam a dizer quantos reféns ainda estão em seu poder e a informar os nomes dos que permanecem trancafiados em suas masmorras?
Outras questões devem ser endereçadas aos apoiadores desses "combatentes" que demonstram coragem na hora de estuprar mulheres indefesas, mas se escondem atrás de civis na hora de enfrentar soldados bem treinados: por que eles não exigem a liberação das reféns, que, segundo a ONU, continuam sofrendo nas mãos de seus agressores?
QUESTÃO ESTATÍSTICA — São dúvidas pertinentes por parte de quem não deseja enxergar o conflito com os olhos voltados apenas para os próprios interesses. Em meio às mortes de civis na Faixa de Gaza, muita gente, inclusive entre os políticos brasileiros, tem acusado o Exército de Israel de promover um genocídio contra o povo palestino. Antes de aceitar essa afirmação como verdadeira, é o caso de se perguntar: por que na Cisjordânia, que concentra uma população palestina superior à de Gaza, a quantidade de pessoas mortas desde o dia 7 de outubro é muito menor do que o número de israelenses assassinados pelos terroristas no dia dos atentados?
QUESTÃO ESTATÍSTICA — São dúvidas pertinentes por parte de quem não deseja enxergar o conflito com os olhos voltados apenas para os próprios interesses. Em meio às mortes de civis na Faixa de Gaza, muita gente, inclusive entre os políticos brasileiros, tem acusado o Exército de Israel de promover um genocídio contra o povo palestino. Antes de aceitar essa afirmação como verdadeira, é o caso de se perguntar: por que na Cisjordânia, que concentra uma população palestina superior à de Gaza, a quantidade de pessoas mortas desde o dia 7 de outubro é muito menor do que o número de israelenses assassinados pelos terroristas no dia dos atentados?
Isso mesmo! Morreram muito menos palestinos na Cisjordânia desde que a guerra começou do que israelenses apenas no dia dos atentados. Ainda no ano passado, o número de vítimas dos atentados de 7 de outubro foi revisto e a quantidade de vítimas fatais dos ataques caiu dos mais de 1.400 assassinados anunciados inicialmente para 1.200. Já na região da Cisjordânia, onde vivem cerca de 3,3 milhões de palestinos, a despeito de toda a tensão que domina a área e da presença de tropas israelenses nas localidades, o número de mortos entre os palestinos é inferior a 400 pessoas. Ninguém está dizendo que esse número seja aceitável. Bastaria uma morte para que a situação fosse indesejável. O que se pretende mostrar é que esse número certamente não expressa a intenção de aniquilar um povo inteiro.
TAPETE DA MEMÓRIA — Seja como for, é complicado lidar com as mortes e os traumas de uma guerra como se tudo se reduzisse a uma questão meramente estatística. Cada vida que se perde, de um lado ou do outro, é insubstituível e precisa ser tratada com respeito. Mas alguns aspectos precisam ser considerados quando se avaliam as consequências dessa guerra.
TAPETE DA MEMÓRIA — Seja como for, é complicado lidar com as mortes e os traumas de uma guerra como se tudo se reduzisse a uma questão meramente estatística. Cada vida que se perde, de um lado ou do outro, é insubstituível e precisa ser tratada com respeito. Mas alguns aspectos precisam ser considerados quando se avaliam as consequências dessa guerra.
O primeiro deles é o de que não precisava ter havido uma única morte. Bastaria, para isso, que os terroristas — que agem sob ordens do Irã e de outros inimigos de Israel e do Ocidente — não tivessem dado o primeiro passo e cometido as barbaridades que cometeram no dia 7 de outubro. Outro ponto se refere aos bombardeios à Faixa de Gaza, que causaram a maior quantidade de vítimas neste conflito. Eles já poderiam ter cessado há muito tempo. Para isso, seria suficiente que os reféns que ainda estão sob poder dos terroristas tivessem sido libertados.
Mas não. Para os terroristas, as pessoas que descansavam em suas casas quando foram arrancadas de lá e levadas à força para cativeiros sabe-se lá onde, são tratadas como prisioneiras de uma guerra suja — embora para elas não se apliquem os princípios de proteção oferecidos pelas convenções de Genebra. Tanto assim que a própria ONU, a despeito de sua simpatia assumida pelo lado palestino, admitiu em seu relatório recente que as mulheres que foram sequestradas podem estar sendo vítimas de estupros até hoje. Isso sem falar nas crianças que continuam sequestradas.
É triste constatar, neste ambiente polarizado e hostil que atualmente costuma ser criado em torno de toda e qualquer discussão sobre todo e qualquer acontecimento em qualquer parte do mundo, que a realidade tem sido sistematicamente distorcida ao sabor das ideologias. E que as mesmíssimas atitudes apontadas como virtudes para uns transformam-se em defeitos imperdoáveis quando praticadas por outros. A mesma violência que causa indignação e repugnância quando praticada contra qualquer mulher em qualquer outra parte do mundo é relevada ou até mesmo justificada quando praticada pelos terroristas que estupraram e torturaram as mulheres em Israel.
É inadmissível a hipocrisia de pessoas que se notabilizam pela militância em defesa dos direitos das mulheres e da população LGBTQIA+, mas se calam diante dos estupros cometidos pelos terroristas e da perseguição sistemática aos gays em boa parte do Oriente Médio — onde as mulheres são cidadãs de segunda ou terceira classe. O detalhe é que, em toda a região, apenas Israel considera que os gays têm o direito de se relacionar com quem e da forma que quiserem. E dá às mulheres direitos e obrigações iguais aos dos homens — inclusive a de fazer o serviço militar obrigatório.
Em outros países daquela parte do mundo, a defesa dos direitos das mulheres e a simples existência dos gays são vistos como crimes a serem punidos com tortura e a morte. Chega a ser irônico ver militantes de partidos "progressistas" e de "esquerda", que defendem as causas libertárias no Brasil, se calarem diante do tratamento desumano que as mulheres e a população LGBTQIA+ recebem nos países dominados pelos fundamentalistas que combatem Israel. É como se a violência praticada por eles simplesmente não existisse ou se justificasse de alguma maneira.
Como foi dito no início deste texto, tudo é uma questão de pesos e medidas. Os estupros sofridos pelas mulheres israelenses, talvez por terem sido cometidos por "ativistas palestinos", não despertam entre os "comprometidos" do Ocidente, inclusive do Brasil, qualquer reação indignada. Pelo contrário: a violência passa até a ser justificada como "ato revolucionário" cometido por militantes de uma causa em nome da qual tudo se subordina ou, senão, como um excesso perdoado diante das circunstâncias e que não deve ser trazido para o debate, sob risco de desviar a discussão daquilo que interessa. Ou seja, algo que deve ser simplesmente ignorado!
O LIMITE DA OMISSÃO — Esse tipo de hipocrisia vale para o estupro das mulheres israelenses como vale, também, para outros fatos em que a interpretação sobre uma determinada questão muda de acordo com a pessoa responsável por ela. Veja, por exemplo, a tragédia dos yanomami no Brasil. No final de 2022, a situação desse povo indígena, que é um dos mais vulneráveis e sensíveis ao contato com outras populações em todo o mundo, causou indignação geral. As imagens chocantes de seres humanos agonizando por falta de comida num país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo causou revolta entre todos os que levam a condição humana minimamente a sério. No dia 29 de janeiro de 2023, esta coluna discutiu o assunto em um artigo intitulado "O Limite da Omissão".
O LIMITE DA OMISSÃO — Esse tipo de hipocrisia vale para o estupro das mulheres israelenses como vale, também, para outros fatos em que a interpretação sobre uma determinada questão muda de acordo com a pessoa responsável por ela. Veja, por exemplo, a tragédia dos yanomami no Brasil. No final de 2022, a situação desse povo indígena, que é um dos mais vulneráveis e sensíveis ao contato com outras populações em todo o mundo, causou indignação geral. As imagens chocantes de seres humanos agonizando por falta de comida num país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo causou revolta entre todos os que levam a condição humana minimamente a sério. No dia 29 de janeiro de 2023, esta coluna discutiu o assunto em um artigo intitulado "O Limite da Omissão".
O texto criticava o estado em que a situação dos indígenas havia chegado ao longo de décadas e décadas de descaso por parte de todos os governos que passaram pelo Palácio do Planalto a partir de 1976, ano em que a nação yanomami entrou definitivamente no radar das autoridades brasileiras. Isso inclui, naturalmente, os governos militares e todas as administrações posteriores à redemocratização, inclusive as de Lula e de Jair Bolsonaro — que vinha sendo chamado pelos adversários de genocida e, no calor da campanha eleitoral de 2022, apontado como único responsável pela situação.
Sem querer livrar Bolsonaro ou qualquer outro governante de responsabilidade pelo fato, o texto dizia com todas as letras: "Bastaria a morte de um único yanomami nas condições expostas ao mundo para despertar o repúdio de todos os que se consideram civilizados". Na mesma linha, o texto via com simpatia e esperança a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado por vários ministros, na região logo em seus primeiros dias de governo. Aquele poderia ser, como foi dito na época, "o ponto de partida para a solução do problema emergencial da fome e das doenças, mostrado de forma dramática pelas imagens de pessoas famélicas, agonizando sem assistência nas aldeias".
Pois bem. Um ano inteiro se passou e, ao invés de melhorar, a situação dos yanomami piorou. Dados do Ministério da Saúde do Brasil: 363 indígenas morreram ao longo de 2023, pelos mesmíssimos problemas — desnutrição e malária — que os matavam em 2022, quando o número de mortes alcançou 343. Ou seja, um aumento de 6%. A despeito disso, os ativistas que atiravam pedras em Bolsonaro e o culparam pela tragédia do povo yanomami jamais apontaram o dedo na direção de Lula nem tiveram a coragem de chamá-lo de "genocida".
A diferença é que as causas da tragédia, inclusive o garimpo e a exploração predatória de madeira na região, que eram vistas no passado como resultado da convivência do governo da época com todo tipo de ilegalidade, passaram a ser consideradas num estalar de dedos como um problema estrutural e difícil de ser combatido. Mais uma vez, como se vê, uma questão de pesos e medidas.
É lamentável que seja assim. Problemas de natureza humanitária não podem ter sua avaliação condicionada aos interesses de grupos políticos. Eles são do tamanho que são, independente de quem esteja no poder. Isso vale para os estupros cometidos pelos terroristas, como vale para a tragédia dos yanomami. Vale, também, para situação de países com os quais o Brasil se relaciona. O fato de Lula ser amigo do tirano Nicolás Maduro e cultivar relações amistosas com algumas das ditaduras mais sanguinárias do mundo — como são os casos do Irã, da Rússia, de Cuba e da Nicarágua, para ficar apenas nesses exemplos — não dá a seu governo o direito de condicionar os interesses do Brasil a essas amizades. Mas isso já é uma outra história, para ser discutida em outra ocasião.
Por enquanto, basta constatar que, neste mundo em que a versão condicionada por interesses políticos se tornou mais importante do que os fatos, a verdade tem sido vítima de um desaforo atrás do outro. E que, nesse cenário em que a violência contra as mulheres israelenses no dia 7 de outubro vem sendo ignorada em nome da causa a que seus estupradores serviam, qualquer palavra em defesa da condição feminina feita pelos "ativistas" de plantão não passa de uma manifestação da boca para fora.
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