Nos últimos 60 anos, São Gonçalo teve apenas cinco vereadoras, nenhuma delas atualmenteDivulgação
Por Irma Lasmar
Publicado 31/10/2020 17:01 | Atualizado 02/11/2020 15:58
SÃO GONÇALO - Buscando dar visibilidade às candidaturas femininas e garantir maior diversidade na Câmara de Vereadores, um grupo de mulheres liderado pela pedagoga Leila Araújo, gestora de projetos do Programa em Gênero, Sexualidade e Saúde de Medicina Social do Instituto da Uerj, lançou neste sábado (31) a campanha Cidade no Feminino. O movimento suprapartidário recebeu candidatas a vereadoras de várias linhas ideológicas para elaborarem a Carta das Mulheres Gonçalenses, em que se comprometem, caso eleitas, a lutar pela efetivação das reivindicações contidas no documento. Em outra data a ser ainda agendada e divulgada, os candidatos a prefeito serão convidados a assinar a mesma carta-compromisso. 
No evento, realizado em um café colaborativo no sítio Estrela da Manhã, em Monjolos, em espaço ao ar livre com distanciamento social e outras regras sanitárias em tempos de pandemia, foram produzidos 15 programas em vídeo sobre o conceito Cidade no Feminino, com entrevistas das candidatas e a participação de especialistas nas questões de gênero. Eles serão veiculados nas plataformas digitais do Canal Q. Cria e Agência Papa Goiaba, entre outros ainda em negociação. Nos últimos dias da campanha eleitoral, as candidatas se reunirão em um abraço simbólico na Câmara de Vereadores e na Praça Luiz Palmier (Praça da Marisa), onde chamarão atenção da população para a importância de se votar em mulheres.
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Cidade no Feminino é um conceito criado pelo sociólogo espanhol Imanol Rubero, à época da campanha de Manuela Carmena, eleita em 2015, prefeita de Madri. Carmena considerava em sua plataforma de governo, essencialmente, o ponto de vista das mulheres para construir uma cidade mais humana, mais acolhedora e mais sustentável. Este conceito já foi trabalhado no município de Duque de Caxias, em 2015, quando da elaboração do Plano Municipal de Políticas para as Mulheres, do qual fiz parte da equipe junto com as professoras Luciene Medeiros, Maria Luiza Heilborn e Solange Dacach. É urgente que São Gonçalo embarque nesta perspectiva. A população gonçalense, principalmente a feminina, precisa entender a necessidade de termos representantes femininas em todos os espaços de poder na cidade. Os partidos políticos e seus homens também precisam entender isso. Temos lei que garante a cota de 30% de mulheres no pleito. Temos uma decisão do STF de que os partidos são obrigados a investir 30% dos recursos nas campanhas femininas. Queremos 30% de mulheres na Câmara de Vereadores. Queremos também 30% de vagas do primeiro escalão do Poder Executivo. Nossa campanha é um grito pelo respeito ao direito ao espaço de poder e um alerta de que nossa participação nas decisões pode transformar a cidade”, explica a idealizadora.
Nos últimos 60 anos, São Gonçalo teve apenas cinco vereadoras. A primeira foi Aída Faria, na década de 1960, e somente 30 anos depois foram eleitas as outras quatro: Solange Costa, Aparecida Panisset (posteriormente prefeita por dois mandatos – 2005 a 2008 e 2009 a 2012), Beatriz Santos e Iza Deolinda. Atualmente, nenhuma mulher ocupa uma das 27 cadeiras do Legislativo Municipal. "Não basta ser mulher. É preciso que as candidatas à vereança estejam comprometidas com a agenda das mulheres, uma vez que o município apresenta os piores índices em nível estadual e nacional de violência doméstica, mortalidade materna, desemprego, trabalho informal, falta de saneamento básico e violência urbana que afetam diretamente os filhos, netos e maridos das mulheres gonçalenses", afirma Leila.