Publicado 26/04/2021 17:53 | Atualizado 26/04/2021 17:55
Instituição filantrópica mais antiga de Niterói e a única no estado do Rio a ter uma produção própria de bengalas, lentes esclerais e próteses oculares, a Associação Fluminense de Amparo aos Cegos (Afac) completará 90 anos de atividades no dia 1º de maio. E, para celebrar a data, a instituição planeja ampliar seus serviços para a população. Para isso, estão previstos a criação de um espaço cultural aberto ao público, a fundação de uma faculdade de ensino superior em Terapia Ocupacional e a ampliação do Centro de Estudos Louis Braille, que será voltado para pesquisa e inovação, algo inédito no município.
Os trâmites burocráticos para a implantação da faculdade, que funcionará na própria sede da instituição, no Fonseca, já estão em fase final de aprovação pelo Ministério da Educação. A previsão é de que até o fim deste semestre tudo esteja pronto, com possibilidade, inclusive, de realização do primeiro vestibular. O Instituto Superior da Afac (Isafac), assim denominado, também oferecerá cursos de extensão e pós-graduação. Já o Centro Louis Braille será redimensionado através de parcerias com as universidades, cuja meta é ser um polo de atividades técnico-científicas para atuar também em conjunto com a Isafac.
O espaço cultural, por sua vez, além de contar a história da instituição através de uma linha do tempo e apresentar as tecnologias "assistivas" (termo ainda novo, utilizado para identificar o arsenal de recursos e serviços que proporcionam habilidades funcionais de pessoas com deficiência e promovem independência e inclusão), também apresentará os primeiros equipamentos e utensílios para facilitação das atividades de vida cotidiana desenvolvidos para este segmento de público, tais como bengalas, órteses, prótese e adaptações. Ambas as iniciativas têm o propósito de atender a pessoa com deficiência, mas também estarão à disposição do público em geral e de pesquisadores.
Ainda dentro das comemorações dos 90 anos, estão previstos o lançamento de um livro contatando a história da instituição - com título provisório de Afac: 90 anos transformando vidas, em fase de finalização pela DB Editora - e um evento na Câmara de Vereadores de Niterói. Por conta da pandemia, os festejos deverão acontecer em dezembro, como explica a coordenadora técnica do Centro Especializado de Reabilitação da Afac, Joana Merat.
“De fato a pandemia afetou o projeto, mas isso também é geral. Sendo possível, claro, queremos fazer um evento presencial. Então deixamos para dezembro. Afinal, são 90 anos de história. A ideia de ampliar as atividades veio da própria necessidade de inovação e adaptação aos novos tempos. Por exemplo, dentro da visão de sustentabilidade, implantamos um sistema de energia solar e agora vamos partir para o sistema de reúso da água. Temos sempre que procurar nos aprimorar em todos os campos”, diz Joana.
Muita coisa mudou desde que Afac surgiu, por iniciativa de um grupo de homens de forte atuação na sociedade fluminense, os quais já possuíam a visão da importância da inclusão. O objetivo inicial era acolher a pessoa com deficiência visual e, ao mesmo tempo, dar a ela uma função social. Por isso, a primeira sede da instituição foi num galpão que também funcionava como fábrica de vassouras, no bairro da Boa Viagem. Ou seja, o espaço oferecia uma atividade laboral para o cego. Acompanhando as transformações mundiais na área da medicina e da assistência social, nos anos de 1990, seguindo as regras nacionais e internacionais de atendimento ao deficiente, a instituição redirecionou suas ações numa perspectiva totalmente inclusiva e virou um Centro de Habilitação e Reabilitação (CHR), deixando de funcionar como abrigo. O desalojamento dos residentes na entidade também gerou polêmica, insuflada pela imprensa da época e pelos beneficiados dos serviços, pois julgaram que a associação estivesse se eximindo de uma de suas responsabilidades, quando na verdade a mudança de perfil sinalizava a intenção de uma verdadeira reinserção dos cegos junto às próprias famílias.
Nos anos 2000, uma nova mudança: a transformação em Centro Especializado de Reabilitação II, o chamado CER-II, passando a promover atendimento também ao deficiente visual e intelectual com espectro autista. Com exceção da capital, a Afac presta serviço a todos os municípios fluminenses, atendendo mensalmente 675 pacientes e dispensando 56 recursos ópticos (bengalas, óculos, próteses e outros).
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